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Nova lei de Chávez pode afetar Braskem
Venezuela aprova legislação em que atividade petroquímica deve ter controle do Estado; brasileira é sócia em investimento de US$ 4 bi
Braskem constrói duas
fábricas em sociedade com a
estatal Pequiven; lei proíbe
arbitragem internacional em
caso de disputa com o Estado
FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS
Em mais um passo rumo à
nacionalização de setores estratégicos da economia, a Assembleia Nacional venezuelana, controlada pelo chavismo,
aprovou lei para o setor petroquímico que deve afetar o
maior investimento brasileiro
no país: duas fábricas em construção em que a Braskem, em
sociedade com a estatal Pequiven, investe US$ 4,15 bilhões.
De forma semelhante à nacionalização da extração de petróleo, a nova lei estabelece que
a atividade petroquímica passa
a ser controlada pelo Estado,
que pode exercê-la via empresas mistas, em que a Pequiven
(Petroquímica da Venezuela)
terá 50% ou mais do capital.
Outra mudança importante é
a proibição da arbitragem internacional em caso de disputas com o Estado, o que atualmente é permitido. Além disso,
a Pequiven não poderá sofrer
nenhuma decisão judicial que
envolva "embargo, sequestro,
hipoteca ou nenhuma outra
medida de execução preventiva
ou executiva".
A lei também determina que
as empresas mistas terão duração máxima de 25 anos, prorrogáveis por até 15 anos. Após o final do contrato, todos os bens
serão propriedades do Estado,
"livre de tributos e sem indenização". Segundo fontes do setor, trata-se de prática comum
na atividade petroleira, mas
não no setor petroquímico.
A nova lei também prevê que
as empresas privadas sejam
obrigadas a transferir tecnologia e a fornecer ao Estado "a informação que este solicitar em
relação às atividades".
A Braskem estuda o impacto
nas mudanças nos dois projetos e ainda não tem posição oficial sobre a nova legislação. Segundo fontes da empresa, a
maior preocupação é o eventual aumento da dificuldade
para obter financiamento externo, previsto para cobrir 70%
do orçamento dos projetos.
Por outro lado, as mudanças
não deverão ter maior impacto
na composição acionária, pois a
Pequiven e a Braskem têm 49%
cada uma. As outras sócias são a
japonesa Sojitz (1%) e a Coramer (1%), empresa venezuelana sob controle da Pequiven.
A Braskem e a Pequiven estão construindo duas fábricas
no Estado de Anzoátegui (norte). O lançamento da pedra fundamental, em abril de 2007,
contou com a presença de Lula.
O maior projeto, a Poliamerica, tem orçamento de US$ 3,25
bilhões e deve entrar em operação em 2014. Produzirá polietileno e eteno. Já a Propilsur, orçada em US$ 900 milhões, deve
começar a operar em 2012 para
produzir polipropileno.
Recentemente, a Braskem,
subsidiária da Odebrecht, e a
Pequiven iniciaram as negociações para a construção de uma
terceira fábrica, voltada à produção de ureia. O projeto atualmente está em fase de estudos.
As medidas estatizantes do
presidente Hugo Chávez já tiveram impacto em duas empresas brasileiras. Desde 2006,
a Petrobras passou a ser sócia
minoritária da PDVSA nas quatro empresas de exploração de
petróleo. Desde então, nenhum
projeto da estatal brasileira na
Venezuela, como a exploração
de gás natural, foi adiante.
Outra empresa afetada foi a
Usiminas, sócia minoritária da
siderúrgica Sidor, que tinha
controle acionário argentino e
foi nacionalizada em 2008.
Além da Braskem, a lei deve
afetar companhias estrangeiras que já são sócias da Pequiven em 16 empresas mistas. O
governo venezuelano, no entanto, ainda não esclareceu se a
lei terá caráter retroativo, embora esse tenha sido o caso durante a nacionalização da exploração do petróleo.
Entre as multinacionais que
operam no setor, estão a Mitsubishi (Japão), que detém o controle acionário da Metor, fabricante de metanol.
A primeira reação internacional contrária à lei veio do Japão. O banco JBIC está revisando provável empréstimo de
US$ 1,5 bilhão em reação à possível nacionalização da Metor e
ao recente atraso no pagamento de fornecedores da PDVSA.
"Essa é uma lei para que nenhum investidor estrangeiro se
aproxime de terras venezuelanas, pois não tem nada o que fazer aqui. O fato de que o Estado
deve ter a maioria acionária é
um veto ao negócio", escreveu o
analista José Súarez Nuñez, no
jornal oposicionista "Tal Cual".
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