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Novo cálculo "reduz" déficit habitacional
Metodologia adotada por ministério aponta agora necessidade de construção de 6,3 milhões de moradias; antes, seriam 7,3 milhões
Principal mudança está na contabilização de membros de famílias que moram no mesmo domicílio por opção; especialista elogia mudança
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
NATÁLIA PAIVA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O Ministério das Cidades divulgou ontem, para especialistas em São Paulo, sua nova metodologia de cálculo do déficit
habitacional, que reduziu de
7,3 milhões para 6,3 milhões o
número estimado de moradias
a serem construídas para eliminar as habitações precárias ou
aquelas divididas (devido a dificuldades financeiras) por duas
ou mais famílias.
A principal mudança no cálculo, feito pela Fundação João
Pinheiro, é a exclusão de famílias que coabitam no mesmo
domicílio por opção, e não por
necessidade. Isso só foi possível
porque, em 2007, o IBGE incluiu em sua Pnad (Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílios) uma pergunta sobre a
vontade ou não dessas famílias
de terem outra residência. Inês
Magalhães, secretária Nacional
de Habitação, diz que com a
pergunta foi possível identificar que 40% das famílias que
coabitavam o faziam por opção.
O novo número, considerado
mais preciso por especialistas,
não pode ser comparado às séries históricas antigas. Em
2006, a estimativa do déficit,
segundo a metodologia de antes, era de 7,9 milhões. Considerando a mesma forma de cálculo, a redução em 2007 foi de
cerca de 600 mil domicílios. O
primeiro recuo significativo do
déficit em 15 anos ocorreu devido ao crescimento da economia
e à melhora na renda.
Entre 2006 e 2007, o componente do déficit que ganhou
mais expressividade foi o que
mede a quantidade de domicílios cujo aluguel compromete
mais de 30% da renda da família: foi de 23,52% para 32,16%.
Se, por um lado, a alta se deve
à nova metodologia, por outro
ela revela "um estrangulamento das formas tradicionais de
acesso à terra" -como ocupação e compra de lote irregular-
e a "expansão do mercado de
aluguel", afirma Adauto Cardoso, do Instituto de Pesquisa e
Planejamento Urbano da
UFRJ. "Não dá mais para expandir a favela via ocupação de
novas áreas; para entrar, é comprando ou alugando quarto."
Nabil Bonduki, urbanista da
USP, diz que o dado indica a necessidade de uma política habitacional específica para o segmento. "A mera produção de
unidades novas não o impacta.
É preciso que a renda dele caiba
no custo da moradia. Uma forma seria uma espécie de Bolsa
Aluguel; outra, um programa
de financiamento para quem
paga aluguel, subsídio para
aquisição do usado."
Para Bonduki, a nova metodologia de cálculo do déficit
traz o número para "mais próximo da realidade" e, para aperfeiçoá-la, sugere que o número
de famílias que vivem em coabitação seja cruzado com o nível de adensamento do domicílio (muitas pessoas dividindo
um mesmo cômodo).
A situação de uma jovem que
acaba de ter um filho e decide
continuar morando com os
pais é vista pelo IBGE como
coabitação, por exemplo. Para
José Eustáquio Alves, demógrafo do IBGE, a nova metodologia retrata mais fielmente a
real necessidade habitacional
do país, mas, ainda assim, o número de famílias que necessitam de outro domicílio pode
continuar superestimado.
"Duas gerações podem estar
convivendo na mesma casa
sem graves problemas, mas, se
chega alguém do IBGE e pergunta se gostariam de outra casa, muitos dizem que sim."
Ele lembra que qualquer política habitacional não pode ignorar o fato de que muitos domicílios vagos poderiam ser
usados para abrigar as famílias
que compõem o déficit. Se, em
2006, eram 6,6 milhões vagos,
em 2007 foram 7,05 milhões.
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