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Previdência mira informais a partir de julho
Programa do Empreendedor Individual é destinado a quem tem faturamento de até R$ 36 mil por ano
TATIANA RESENDE
DA REDAÇÃO
Com a ambiciosa meta de
formalizar 11 milhões de trabalhadores, dos quais 1 milhão já
no primeiro ano, o Ministério
da Previdência Social concentra esforços a partir de quarta-feira para conquistar a contribuição de quem tem faturamento anual de até R$ 36 mil.
Camelôs, manicures, barbeiros e costureiras são alguns dos
profissionais que poderão conseguir cobertura previdenciária pagando R$ 57,15 por mês,
além de ter acesso a linhas de
crédito com juros menores e
cursos de qualificação.
Os autônomos que hoje pagam R$ 93 e se enquadrarem
nas novas regras poderão migrar para o programa, mas não
poderão se aposentar por tempo de contribuição. A formalização será possível com a criação da figura jurídica do empreendedor individual e a inclusão no Simples Nacional. Os
chamados contribuintes individuais, que incluem os autônomos, somavam 5,4 milhões
em 2007, último dado disponível, representando apenas 15%
do total.
No acumulado do ano até
maio, a Previdência registrou
déficit de R$ 18,1 bilhões, sendo
R$ 15,5 bilhões devido à área
rural. Segundo o ministro José
Pimentel (Previdência), o objetivo não é aumentar a arrecadação, e sim assegurar a cobertura
previdenciária para mais trabalhadores. "O que eles vão contribuir não será suficiente para
garantir a cobertura integral do
benefício", diz. Se a economia
crescer 3% em 2010, calcula, a
previdência urbana voltará a
ser superavitária, o que ocorreu
pela última vez em 1985.
Como destaca Luís Eduardo
Afonso, professor da FEA-USP,
uma política de inclusão como
essa pode apresentar "efeitos
distintos" sobre as contas da
Previdência ao longo do tempo.
"Em um primeiro momento, as
contribuições devem registrar
aumento, ainda que não tão expressivo. À medida que os anos
passem, os novos contribuintes
vão começar a se aposentar, o
que implicará mais despesas,
ainda que não sejam tão altas."
Desconfiança
Para o economista Fernando
de Holanda Barbosa Filho, responsável pelo indicador da
FGV (Fundação Getulio Vargas) que mede a economia subterrânea no país, o ritmo de
adesões pode ficar prejudicado
pela desconfiança dos trabalhadores informais. "É um conjunto de fatores que os fazem
operar dessa forma", afirma, citando a burocracia e o medo de
que o novo programa seja apenas uma "isca" do governo para
descobrir outras ilegalidades.
No ano passado, o crescimento da economia informal
foi 27% maior do que o medido
pelo PIB no comparativo com
2007. "A economia subterrânea não foi tão afetada pela crise porque não depende da concessão de crédito", afirma.
Na opinião do presidente do
Sebrae (Serviço Brasileiro de
Apoio às Micro e Pequenas
Empresas), Paulo Okamotto, é
preciso "inverter a equação".
"Temos de construir um ambiente em que seja mais vantajoso ser formal." A partir da
próxima semana, o Sebrae iniciará uma campanha de conscientização do público-alvo do
empreendedor individual, indo
às ruas explicar as vantagens do
programa para ganhar sua confiança. "Muitas dessas pessoas
que hoje estão na informalidade já foram perseguidas."
Maria das Graças e Silva, 48,
é uma delas. Divorciada e com
uma filha para sustentar, virou
camelô desde que os clientes
sumiram do mercado de decoração de flores com o agravamento da crise, no fim do ano
passado. Ela conta que tem o
ensino médio completo, mas
não trabalhou mais do que sete
anos com carteira assinada,
único período em que contribuiu para o INSS.
Para garantir renda mensal
de R$ 1.000, menos da metade
do que conseguia antes, tem se
aventurado como ambulante
na região da 25 de Março, em
São Paulo, correndo o risco de
ter a mercadoria apreendida.
Mais do que garantir o direito à aposentadoria por idade,
sua motivação para procurar
informações sobre o novo programa é muito mais imediatista: se ficar doente, ter como pagar as contas no fim do mês.
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