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EM TRANSE
Novo pacote seria de US$ 5 bi a US$ 10 bi; Malan fala mas não acalma mercado; dólar e risco batem novo recorde
Acordo com FMI sai em dias, espera governo
VIVALDO DE SOUSA
COORDENADOR DE ECONOMIA DA
SUCURSAL DE BRASÍLIA
Apesar de ainda não ter sido fechado um novo acerto com o
FMI, a equipe econômica espera
que isso possa ser anunciado na
próxima semana. Mas não há
compromisso com datas. A intenção do governo é obter um novo
empréstimo entre US$ 5 bilhões e
US$ 10 bilhões num acordo -ou
prorrogação do atual acordo-
com prazo entre 6 e 12 meses.
Poderia haver ainda uma nova
redução no piso das reservas internacionais líquidas (que não incluem os recursos emprestados
pelo FMI). É dessa reserva, cujo
piso está hoje em US$ 15 bilhões,
que o Banco Central retira os dólares para intervir no mercado de
câmbio. Reduzindo o piso, aumenta o poder de fogo do BC. Hoje, essas reservas estão próximas
de US$ 27 bilhões.
O mercado, em transe nervoso,
anseia por mais dinheiro do FMI,
o que considera a única alternativa para evitar desordem financeira ainda maior. Ontem, o dólar
subiu 0,67% e fechou cotado a R$
3,015, o quinto dia seguido de recorde de baixa da moeda nacional. Na semana, a alta foi de 5,1% e
no ano de 30%. O risco-país do
Brasil também voltou a subir. A
Bovespa caiu 4,64%.
Numa tentativa -frustrada-
de acalmar o mercado financeiro,
o ministro da Fazenda, Pedro Malan, convocou entrevista para dizer que as negociações com organismos multilaterais foram aceleradas, intensificadas. Apesar das
expectativas, não anunciou medidas e evitou dar detalhes do que
chamou de "processo em curso".
A entrevista de Malan ocorreu
dois dias depois de o presidente
do BC, Armínio Fraga, também
tentar acalmar o mercado, falando de negociações com o FMI.
As conversas com técnicos do
Fundo, iniciadas há cerca de um
mês, foram consideradas positivas pelo governo. Considerada
uma medida para facilitar a transição política, esse novo acerto teria prazo máximo de 12 meses
-terminaria no final do primeiro
ano do mandato do sucessor de
Fernando Henrique Cardoso.
Embora considere necessário
um compromisso mais detalhado
dos presidenciáveis com alguns
princípios da atual política econômica, o FMI já teria sido convencido, segundo apurou a Folha, de
que, qualquer que seja o próximo
presidente da República, não haveria grandes mudanças no primeiro ano de governo.
Com isso, seriam mantidas as
metas de inflação, fixada em 4%
com variação de 2,5 pontos percentuais para cima ou para baixo,
a meta de superávit primário de
3,75% do PIB e o respeito aos contratos em vigor -o que inclui não
renegociar novamente as dívidas
dos Estados e dos municípios,
tampouco mexer na dívida pública interna e externa.
Nesse cenário, o acordo não dependeria do compromisso por escrito dos presidenciáveis de que
iriam manter as metas já fixadas
para 2003. Apesar de avaliar que
já teriam convencidos os técnicos
do FMI de que isso não seria necessário, a equipe econômica considera que, se os presidenciáveis
deixassem mais claras suas propostas, o nervosismo do mercado
poderia ser menor.
Nas conversas com Anne Krueger, vice-diretora-gerente do FMI,
os integrantes da equipe econômica tentaram mostrar que não
haveria grande descontinuidade
da política econômica em 2003.
Os recursos adicionais do Fundo
funcionariam como uma rede de
proteção para uma economia
que, na avaliação do governo, teve
bons resultados.
A expectativa é de que, caso o
acordo seja fechado, uma parcela
ou até mesmo o valor total do novo empréstimo possa ser liberado
até o final de agosto. Pelo acordo
atual, que acaba em dezembro, o
Brasil ainda terá direito a sacar
mais duas parcelas de aproximadamente US$ 500 milhões.
Caso o cenário adverso permaneça após eleito o novo presidente, uma eventual prorrogação do
acordo de transição ou um outro
acordo com o Fundo teria necessariamente de contar com o aval,
por escrito, do sucessor de FHC.
Colaborou ANA PAULA RAGAZZI, da Reportagem Local
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