São Paulo, sábado, 27 de julho de 2002

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EM TRANSE

Novo pacote seria de US$ 5 bi a US$ 10 bi; Malan fala mas não acalma mercado; dólar e risco batem novo recorde

Acordo com FMI sai em dias, espera governo

VIVALDO DE SOUSA
COORDENADOR DE ECONOMIA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Apesar de ainda não ter sido fechado um novo acerto com o FMI, a equipe econômica espera que isso possa ser anunciado na próxima semana. Mas não há compromisso com datas. A intenção do governo é obter um novo empréstimo entre US$ 5 bilhões e US$ 10 bilhões num acordo -ou prorrogação do atual acordo- com prazo entre 6 e 12 meses.
Poderia haver ainda uma nova redução no piso das reservas internacionais líquidas (que não incluem os recursos emprestados pelo FMI). É dessa reserva, cujo piso está hoje em US$ 15 bilhões, que o Banco Central retira os dólares para intervir no mercado de câmbio. Reduzindo o piso, aumenta o poder de fogo do BC. Hoje, essas reservas estão próximas de US$ 27 bilhões.
O mercado, em transe nervoso, anseia por mais dinheiro do FMI, o que considera a única alternativa para evitar desordem financeira ainda maior. Ontem, o dólar subiu 0,67% e fechou cotado a R$ 3,015, o quinto dia seguido de recorde de baixa da moeda nacional. Na semana, a alta foi de 5,1% e no ano de 30%. O risco-país do Brasil também voltou a subir. A Bovespa caiu 4,64%.
Numa tentativa -frustrada- de acalmar o mercado financeiro, o ministro da Fazenda, Pedro Malan, convocou entrevista para dizer que as negociações com organismos multilaterais foram aceleradas, intensificadas. Apesar das expectativas, não anunciou medidas e evitou dar detalhes do que chamou de "processo em curso".
A entrevista de Malan ocorreu dois dias depois de o presidente do BC, Armínio Fraga, também tentar acalmar o mercado, falando de negociações com o FMI.
As conversas com técnicos do Fundo, iniciadas há cerca de um mês, foram consideradas positivas pelo governo. Considerada uma medida para facilitar a transição política, esse novo acerto teria prazo máximo de 12 meses -terminaria no final do primeiro ano do mandato do sucessor de Fernando Henrique Cardoso.
Embora considere necessário um compromisso mais detalhado dos presidenciáveis com alguns princípios da atual política econômica, o FMI já teria sido convencido, segundo apurou a Folha, de que, qualquer que seja o próximo presidente da República, não haveria grandes mudanças no primeiro ano de governo.
Com isso, seriam mantidas as metas de inflação, fixada em 4% com variação de 2,5 pontos percentuais para cima ou para baixo, a meta de superávit primário de 3,75% do PIB e o respeito aos contratos em vigor -o que inclui não renegociar novamente as dívidas dos Estados e dos municípios, tampouco mexer na dívida pública interna e externa.
Nesse cenário, o acordo não dependeria do compromisso por escrito dos presidenciáveis de que iriam manter as metas já fixadas para 2003. Apesar de avaliar que já teriam convencidos os técnicos do FMI de que isso não seria necessário, a equipe econômica considera que, se os presidenciáveis deixassem mais claras suas propostas, o nervosismo do mercado poderia ser menor.
Nas conversas com Anne Krueger, vice-diretora-gerente do FMI, os integrantes da equipe econômica tentaram mostrar que não haveria grande descontinuidade da política econômica em 2003. Os recursos adicionais do Fundo funcionariam como uma rede de proteção para uma economia que, na avaliação do governo, teve bons resultados.
A expectativa é de que, caso o acordo seja fechado, uma parcela ou até mesmo o valor total do novo empréstimo possa ser liberado até o final de agosto. Pelo acordo atual, que acaba em dezembro, o Brasil ainda terá direito a sacar mais duas parcelas de aproximadamente US$ 500 milhões.
Caso o cenário adverso permaneça após eleito o novo presidente, uma eventual prorrogação do acordo de transição ou um outro acordo com o Fundo teria necessariamente de contar com o aval, por escrito, do sucessor de FHC.


Colaborou ANA PAULA RAGAZZI, da Reportagem Local


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