São Paulo, sábado, 27 de julho de 2002

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EM TRANSE

Ministro convoca entrevista para acalmar mercado

Malan cita samba sobre felicidade e não anuncia novo acerto com FMI

Marcia Gouthier/Folha Imagem
O ministro da Fazenda, Pedro Malan, na entrevista de ontem, na sede do ministério, em Brasília


LEONARDO SOUZA
JULIANNA SOFIA

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro Pedro Malan (Fazenda) disse ontem que a equipe econômica intensificou as conversas com governos e com organismos multilaterais, em referência a negociações para fechar um novo acordo financeiro de ajuda ao Brasil. Malan convocou entrevista dois dias depois de o presidente do Banco Central, Armínio Fraga, ter afirmado que o Brasil pode acertar, em questão de semanas, novo empréstimo com FMI (Fundo Monetário Internacional).
Para qualquer empréstimo que venha a ser concedido pelo FMI será necessária a aprovação dos EUA, maior acionista do Fundo.
"Neste momento estamos tendo essas conversas mais intensificadas. Existe uma clara expressão de apoio ao Brasil, seja bilateral, seja multilateral, e nós estamos mantendo nossas opções em aberto ao discutirmos os prós e os contras no curso de ação que nos pareça mais apropriado", disse Malan, sem no entanto esclarecer quais seriam as opções.
Enquanto Malan respondia as perguntas dos jornalistas, o dólar continuava a subir, para fechar cotado acima de R$ 3. Afinal, a expectativa do mercado era que Malan divulgaria medidas, o que acabou não se confirmando. O próprio ministro disse, após longa fala, que não estava ali para divulgar nenhuma medida e que não iria tirar nenhum "coelho da cartola".
Apesar do nervosismo do mercado, o ministro da Fazenda demonstrou tranquilidade e bom humor durante a entrevista.
"São especulações sobre especulações. Tem uma famosa música brasileira que diz: "O pensamento parece uma coisa à toa, mas como é que a gente voa quando começa a pensar'", disse, numa referência à musica "Felicidade", de Lupicínio Rodrigues.
O ministro negou que a economia esteja refém da alta do dólar -que eleva a parcela da dívida pública corrigida pela moeda americana e provoca pressões inflacionárias- e disse que o governo não está parado, ao comentar pergunta de jornalista que indagava se o governo estava esperando o dólar cair para então agir.
Para o ministro, a atual cotação do dólar é um "flagrante exagero, derivado de um grau de incerteza, de ansiedade". Ele afirmou, contudo, que o governo conseguirá trazer a cotação do dólar para baixo, só não disse quando.
Mas Malan citou frase dita por Armínio na quarta-feira, quando o presidente do BC afirmou que o governo não vai tirar "coelho da cartola" para conter o dólar. Ou seja, só vai usar os instrumentos convencionais de que dispõe para atuar no mercado de câmbio. "Se alguém está achando que vai haver mágica, pirueta ou grandes heterodoxias, está enganado."

Novo empréstimo
Malan negou que o Brasil esteja negociando abertura de linhas de crédito ao país diretamente com governos, como foi feito no final de 1998, quando o FMI coordenou empréstimo de US$ 41,5 bilhões ao país, no auge da crise de que precedeu desvalorização da moeda, em janeiro de 1999.
Do total do pacote, a parcela de recursos do FMI foi de cerca de US$ 20 bilhões. O restante foi obtido por governos e instituições como o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento).
"Não achamos que seja uma situação semelhante, não estamos solicitando nada em termos de aporte de recursos ou abertura de linhas de crédito a governos bilaterais", afirmou Malan.
Questionado se a crise global, que tem provocado redução da oferta de recursos, não poderia dificultar um novo empréstimo ao país, Malan disse que não e mencionou a disponibilidade de recursos do FMI.



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