São Paulo, sábado, 27 de julho de 2002

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EM TRANSE

Moeda dos EUA bate quinto recorde consecutivo e nem a entrevista de Malan acalma o nervosismo do mercado

Dólar vai a R$ 3; risco-país raspa em 2.000

ANA PAULA RAGAZZI
DA REPORTAGEM LOCAL

O dólar subiu 0,67%, para R$ 3,015, maior valor da história do real. Pela quinta vez consecutiva, a moeda norte-americana bateu recorde de alta. Apenas nesta semana, acumulou valorização de 5,1%. No ano, a alta é de 30%.
O risco-país brasileiro, medido pelo banco JP Morgan, também alcançou novo recorde. Subiu mais 7,7%, para 1.991 pontos. Na semana, acumulou alta de 28,4%. A Bovespa desabou 4,64%.
O dia começou nervoso e a valorização do dólar chegou a ser de 1,44%. A alta começou a ceder no início da tarde, quando foi anunciada entrevista coletiva do ministro da Fazenda, Pedro Malan.
O mercado passou a operar na expectativa de um anúncio de novo acordo entre o Brasil e o FMI. Por esse motivo, a moeda chegou até mesmo a cair 0,33%. Mas logo o ministro começou a falar, anunciando que não faria "declarações bombásticas".
"Pelo tom de Malan o mercado já se frustrou pois percebeu que ele não falaria nada. O dólar voltou a subir porque o investidor espera por uma medida concreta e de peso", afirma Alan Gandelman, da corretora Ágora Sênior.
Desde a quinta-feira, o mercado aguarda um novo acordo entre o Brasil e o Fundo. Além de uma blindagem de até US$ 20 bilhões, há especulações em torno de alteração do piso de reservas que pode ser utilizado para a atuação no mercado e do adiamento, por um ano, de amortizações do pagamento da dívida externa de 2003. Essa medida daria uma maior tranquilidade para o primeiro ano do próximo presidente brasileiro, seja ele de oposição ou não.
A indefinição política brasileira, com a possibilidade de dois candidatos de oposição, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Ciro Gomes (PPS), disputarem o segundo turno das eleições preocupa investidores. Agradaria ao mercado a vitória do candidato do governo por ela representar a continuidade da atual política econômica.
Somada à instabilidade local, há a grave crise de credibilidade internacional, após os escândalos financeiros envolvendo empresas americanas. Com a aversão ao risco do investidor global, faltam recursos para os países emergentes.
Daí a dificuldade das empresas brasileiras de rolarem suas dívidas e a consequente necessidade de comprar dólares para quitar os débitos. Assim, a oferta de moeda é insuficiente para atender à demanda. O BC ofertou sua ração diária -vendeu US$ 50 milhões. "O Brasil não tem crédito. Enquanto não houver uma blindagem para facilitar a transição, o mercado não irá se acalmar", diz Clive Botelho, diretor da financeira do banco Santos.



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