São Paulo, terça-feira, 27 de julho de 2004

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RETOMADA

Bancos emprestaram aos consumidores e às empresas R$ 446,5 bilhões no 1º semestre, maior volume desde 2001

Confiança faz crescer procura por crédito

MAELI PRADO
FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

A melhora da confiança na economia brasileira está levando consumidores e empresários a buscar mais crédito nos bancos.
No primeiro semestre deste ano, números preliminares do Banco Central, que representam cerca de 85% das concessões de crédito no país, mostram que as instituições financeiras concederam às empresas R$ 291,1 bilhões em novos empréstimos e, aos consumidores, R$ 155,4 bilhões. São os maiores valores para o período desde 2001, último dado de primeiro semestre disponível para novas concessões de crédito.
Os cálculos são de Adriano Pitoli, economista da consultoria Tendências, com base em dados do BC, que divulga hoje os números consolidados. Os valores foram dessazonalizados -isto é, foram excluídos os efeitos de variações sazonais- e deflacionados pelo IPCA, índice oficial de inflação.
Em junho, as empresas tomaram emprestados R$ 52,9 bilhões, o maior valor mensal desde junho de 2000 (último dado mensal do BC para novas concessões).
O financiamento concedido aos consumidores somou R$ 26,1 bilhões, valor só superado em março deste ano e em dezembro de 2003 (ambos com R$ 26,5 bilhões concedidos) e em março de 2001 (R$ 26,9 bilhões).
A soma de empréstimos concedidos para pessoas físicas e jurídicas em junho representa cerca de 30% de todo o crédito em mãos de consumidores e empresas (estoque), de R$ 250 bilhões em maio. Desse total, R$ 98,3 bilhões estavam com os consumidores, segundo informa a MS Consult, com base em dados do BC. A consultoria estima que outros R$ 90 bilhões -não contabilizados pelo BC -estão nas mãos de empresas e consumidores.
"Historicamente, a retomada passa em um primeiro momento pela reação no crédito, depois vem a reação na renda. Já existem indicadores de aumento na renda, ou seja, tudo indica que o país vive um crescimento econômico saudável, sólido", afirma Pitoli.
Além do aumento da confiança na economia, a maior procura por crédito se deve também à redução das taxas de juros e à demanda por financiamento com desconto em folha de pagamento, modalidade regulamentada em setembro de 2003 pelo governo.
Em maio deste ano, a taxa de juros para pessoa física foi de cerca de 62,4% ao ano no país, segundo o BC. No mesmo mês do ano passado, a média foi de 83,7%.
"As empresas estão buscando mais dinheiro para financiar suas operações de prazo curto, a compra de matéria-prima e a produção. A recuperação da economia, que estava concentrada em bens de consumo, se alastra para outros setores", diz Julio Gomes de Almeida, diretor-executivo do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial).
Cláudio Vaz, diretor da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), diz que quem está procurando mais financiamento neste ano são principalmente as empresas exportadoras e as que vendem produtos a prazo, como o setor de bens duráveis.
Os consumidores já procuraram no primeiro semestre deste ano mais financiamento nas seguintes modalidades: crédito pessoal (37,6% mais do que em igual período de 2003), aquisição de veículos (39% mais) e aquisição de bens (18,7% mais).
Na Casas Bahia, o número de clientes que compram a prazo subiu cerca de 50% no primeiro semestre deste ano sobre igual período do ano passado. "De janeiro a junho deste ano, atendemos 8,7 milhões de pessoas no crediário. No mesmo período de 2003, 5,8 milhões de pessoas. O consumidor está mais disposto a comprar a prazo", afirma Michael Klein, diretor-executivo da Casas Bahia.
A redução do valor das prestações, como conseqüência do aumento dos prazos de financiamento e da redução dos juros, foi um dos principais motivos do aumento da procura pelo crédito neste ano, na análise de Klein. No primeiro semestre deste ano, as vendas a prazo da Casas Bahia somaram R$ 3,6 bilhões, o que significa um aumento de 58% sobre igual período do ano passado.
A Lojas Cem, rede com 133 lojas, informa que o aumento da procura pelo crediário resultou em expansão de 20% no faturamento da empresa no primeiro semestre deste ano sobre igual período de 2003. Há um ano, a rede ampliou o prazo de financiamento ao cliente para 20 meses.
O aumento da procura por financiamento não deve resultar em expansão da inadimplência. "Os consumidores e as empresas estão muito mais conscientes. O risco de a expansão do crédito dar dor de cabeça no futuro é muito pequeno", diz Valdemir Colleone, diretor da Lojas Cem.


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