São Paulo, domingo, 27 de julho de 2008

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54% das greves desde 2004 foram de servidores

Número total de paralisações teve alta de 4,7% em quatro anos, aponta Dieese

Funcionários públicos foram responsáveis por 82% das horas paradas; reajuste de salários é o principal motivo para os movimentos no país


Alan Marques - 15.jul.08/Folha Imagem
Funcionário dos Correios descansa em frente ao Palácio do Planalto durante greve ocorrida neste mês

DA REPORTAGEM LOCAL

O número de greves cresceu 4,7% entre 2004, quando o Dieese iniciou estudo sobre as paralisações realizadas no país, e o ano passado. Das 1.237 greves que ocorreram nesse período, 54,4% foram feitas por funcionários públicos e de estatais.
Os servidores foram responsáveis por 82% das 28,5 mil horas paradas registradas no ano passado, quando foram contabilizadas 316 greves, das quais 161 (51%) no setor público.
O principal item da pauta de reivindicação das paralisações ocorridas entre 2004 e 2007, segundo levantamento do Dieese, foi o reajuste salarial -o que mostra a insatisfação com os baixos salários no país. Nas greves do funcionalismo, outro item de destaque entre os pedidos dos servidores é o relacionado ao plano de cargos e salários ou de carreiras.
Em cada 10 greves realizadas no setor público no ano passado, 7 incluíram em sua pauta demandas por novos direitos ou melhoria nos benefícios já conquistados. Já 37% das greves feitas pelo funcionalismo foram defensivas -decretadas em razão do descumprimento de direitos em vigor ou pela manutenção de benefícios.
Neste ano, os trabalhadores do setor público devem manter em suas pautas pedidos por novos benefícios. Caso dos empregados da ECT (Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos), que, após 15 dias úteis de greve, conseguiram tirar do governo o compromisso de recebimento do adicional de periculosidade, calculado sobre 30% do salário-base.
A maior duração das greves no setor público pode estar relacionada, de acordo com os técnicos do Dieese, ao fato de as negociações serem mais complexas na administração pública -geralmente envolvem vários órgãos e instâncias de poder para analisar os pedidos e encaminhar as propostas.
"O governo é um péssimo patrão. Se fosse bom empregador, não teria tantas greves na atividade pública. Ninguém faz greve porque quer. Por conta da estabilidade, o funcionalismo também mantém greves mais longas", diz Ricardo Patah, presidente da UGT (União Geral dos Trabalhadores). Para ele, é preciso garantir o direito de negociação coletiva no setor público, com a ratificação da convenção 151 da OIT (Organização Internacional do Trabalho), que regula, entre outros pontos, o direito de greve dos funcionários públicos.
Para Artur Henrique da Silva Santos, presidente da CUT (Central Única dos Trabalhadores), as greves ainda são instrumentos para melhorar as condições para os trabalhadores. "Apesar de haver maior disposição do governo para negociar, é preciso pressionar para não ficar, por exemplo, só com a reposição da inflação. Não podemos esquecer que ocorreram muitas greves nos últimos seis anos. Em alguns dos acordos, além de ter sido estabelecido aumento real de salário para este ano, foi fixado reajuste também para o ano que vem." (CR e FF)


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