São Paulo, domingo, 27 de julho de 2008

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Brasil se distancia de emergentes na OMC

Países de bloco emergente (G20) resistem à proposta que foi aceita pelo Brasil; Argentina fala em "tensão" no Mercosul

União Européia nega que irá apresentar uma proposta alternativa e afirma que um acordo na OMC está próximo

MARCELO NINIO
DE GENEBRA

Argentina, Índia e outros aliados do Brasil na OMC (Organização Mundial do Comércio) continuam resistindo à proposta feita na sexta-feira para destravar a Rodada Doha.
E distanciando-se do Brasil, o primeiro país a aceitar a oferta.
O impasse também cria problemas para o Mercosul, que já não tem uma posição unificada nas negociações.
O Brasil concorda com a fórmula proposta para os cortes tarifários da indústria nos países em desenvolvimento, que prevê redução média de 54%. A Argentina, porém, a considera excessiva, temendo o impacto em sua indústria. Além disso, exige que a proteção aos setores sensíveis se estenda a 16% das linhas tarifárias, enquanto a proposta fala em 14%.
O chanceler brasileiro, Celso Amorim, evitou ontem falar em crise. "A Argentina sabe que lutamos pelo Mercosul."
À agência France Presse, contudo, o principal negociador da Argentina, Alfredo Charadia, disse que a adoção do pacote pelo Brasil "criou tensão" no Mercosul. O chanceler argentino, Jorge Taiana, se limitou a dizer que era uma "opção do Brasil", não do Mercosul.
Hoje promete ser mais um dia decisivo para o destino das discussões em torno de um acordo global de comércio. Ministros de mais de 30 países vieram a Genebra no início da semana para o encontro, cujo objetivo é reduzir as barreiras comerciais. Mas as discussões foram reduzidas a um grupo de sete países, entre eles o Brasil, que hoje voltarão a se reunir para tentar um entendimento sobre o pacote de soluções apresentado anteontem.
Amorim reconheceu que o compromisso com a aliança dos países emergentes (o chamado G20) tem seus limites nesta reta final. "O G20 não é um fim em si mesmo", disse ele. "O fim é obter um bom acordo na Rodada Doha. Na hora da verdade, as avaliações podem não ser as mesmas. Cada país terá de tomar a sua decisão."
Embora nenhum dos integrantes admita abertamente um racha na aliança, os países que rejeitaram a proposta oferecida por Pascal Lamy, diretor-geral da OMC, com a condição de que fosse aceita sem alterações, continuam irredutíveis. O ministro do Comércio indiano, Kamal Nath, foi irônico ao ser indagado sobre a sobrevivência do G20. "Pergunte ao Celso [Amorim]."
Pedindo para não serem identificados, negociadores indianos revelaram que a sensação é a de que o G20, sem unidade, perdeu sua razão de ser.
O comissário de Comércio da União Européia, Peter Mandelson, que enfrenta pressão de alguns membros do bloco para reduzir as concessões agrícolas em abertura de mercado aos emergentes, disse ontem que um acordo está próximo. Seu porta-voz, Peter Power, negou que o bloco apresentará uma proposta alternativa. "É essa ou nada", disse Power à Folha.
Um dos principais entraves para o avanço das conversas é a insistência da Índia em incluir no acordo a possibilidade de aplicar picos tarifários para proteger seu mercado agrícola em casos de surtos de importação. Para Nath, a medida é essencial para não colocar em risco a "segurança alimentar" dos emergentes.
Mas um negociador indiano disse à Folha que o país tem espaço para manobrar e não será um obstáculo ao acordo. Como exemplo da disposição em negociar, disse que Kamal Nath estendeu até quarta-feira sua permanência em Genebra.


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