São Paulo, Terça-feira, 27 de Julho de 1999
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COMÉRCIO
Futuro diretor-geral da OMC diz que, sem progressos para emergentes, Rodada do Milênio fracassará
Moore quer maior equilíbrio mundial

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
da Sucursal de Brasília

Mike Moore, recém-eleito diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), diz que a Rodada do Milênio, que se inicia em novembro, ou obtém progressos para os países em desenvolvimento ou fracassará.
"É preciso conseguir uma situação de mais equilíbrio entre os países ricos e pobres; caso contrário, não haverá sucesso", afirmou ele em entrevista à Folha, por telefone, em uma fazenda no interior da Nova Zelândia, na véspera de sua chegada, hoje, a Genebra.
Moore, 50, assumirá o cargo em 1 de setembro para um mandato de três anos. Por meio da Rodada do Milênio, os 134 países-membros da OMC pretendem chegar a um novo acordo mundial de comércio até 2003.
Embora tenha evitado discutir propostas concretas ("não caberá a mim redigir políticas, serei apenas um facilitador do processo"), Moore afirmou à Folha que a OMC já aceitou o princípio de que países em desenvolvimento têm necessidades especiais e, por isso, merecem tratamento especial.
O Brasil é um dos 50 países que já apresentaram propostas concretas de negociação para a Rodada do Milênio. Nelas, defende que seja permitido a países em desenvolvimento ter políticas de incentivo à produção que não sejam consideradas subsídios, como seriam se fossem adotadas por países industrializados.
Embora o Brasil tenha apoiado seu opositor (o tailandês Supachai Panitchpakdi) na difícil campanha para a direção-geral da OMC, Moore cobriu o país e seus diplomatas de elogios na conversa com a Folha.
"O Brasil vive uma situação incomum; é uma potência emergente mas ainda tem necessidades de país em desenvolvimento; é um dos principais atores no processo do comércio pela importância de sua economia e pela excelência de seus embaixadores, que estão entre os melhores do mundo", afirmou ele.
Nos quase oito meses de debates sobre quem deveria suceder ao italiano Renato Ruggiero, Moore teve o apoio dos EUA e de parte da União Européia e da América Latina. Seu opositor tinha o endosso de Brasil, Índia, Austrália, Japão e outros países da Ásia.
Os subsídios da União Européia para seus produtos agrícolas serão um dos temas principais da agenda da Rodada do Milênio, segundo Moore. "Desta vez, vamos ter de resolver as pendências nas áreas de agricultura e serviços."
Ao responder a questão sobre o impacto que pode ter sobre a comercialização de produtos transgênicos a recente decisão da OMC contra a União Européia por ter imposto barreiras à importação de carne tratada com hormônio dos EUA, Moore disse: "Vamos ter cada vez mais problemas desse tipo, com implicações éticas, legais, médicas. É preciso impedir que esse tema vire justificativa para protecionismo. Mas teremos de tomar decisões com base na ciência, sem ortodoxias."
Moore não se opõe à discussão de acordos de livre comércio entre blocos de países, como a Área de Livre Comércio das Américas: "Acho que os governos, com essas negociações, ganham experiência para a Rodada do Milênio. Não vejo contradições, são processos paralelos."
Em relação à entrada da China na OMC, Moore diz que esse é um problema de "quando e como", não de "se e por quê". Para ele, "sem a China, a OMC pode tirar o M de seu nome."
Instado a resumir suas posições sobre comércio, Moore respondeu: "Sou um multilateralista, para quem tudo que se faça para melhorar as condições de vida das pessoas é bom."


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