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INDÚSTRIA PAULISTA
Presidente eleito da entidade defende entendimento e queda de juros e vê cenário indefinido no Ciesp
Nova Fiesp quer parceria com governo Lula
GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.
O empresário Paulo Skaf, 49,
presidente eleito da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de
São Paulo), afirmou à Folha que
pretende trabalhar em parceria
com o governo em busca de resultados concretos para a indústria
paulista. "Eu vejo uma Fiesp muito mais parceira, mas não só do
governo", afirmou Skaf.
Segundo ele, a parceria não significará, no entanto, que a Fiesp se
transformará numa entidade
"chapa-branca" ou que terá alguma preferência partidária. "A relação com o governo tem de ser a
necessária para obter resultados."
Skaf defendeu a criação de um
grande pacto com os Poderes
Executivo, Legislativo e Judiciário, além das confederações nacionais tanto de empresários
quanto de trabalhadores, para
construir as bases de uma nova
fase de crescimento econômico. A
posse de Skaf na
Fiesp será no dia
25 de setembro
para um mandato
de três anos.
Leia a seguir, a
entrevista :
Folha - Quais são
os seus planos para
a Fiesp?
Paulo Skaf - Nós
precisamos transformar a Fiesp numa entidade pró-ativa, uma entidade comprometida
com resultados.
Nos próximos
dias, eu devo fazer
uma vista aos Três
Poderes: Executivo, Judiciário e Legislativo, tanto do
Estado como da
Federação. Eu estou pedindo audiências ao presidente da República, ao governador Geraldo Alckmin, aos presidentes do Congresso, da Câmara,
do STF [Supremo Tribunal Federal] do STJ [Superior Tribunal de
Justiça] e da Assembléia Legislativa de São Paulo. Também pretendo me reunir com os presidentes
das confederações nacionais da
indústria, da agricultura e do comércio.
Folha - Qual o objetivo dessas visitas?
Skaf - O que pretendo é começar
já uma nova era na Fiesp, mesmo
antes de tomar posse, uma era na
qual o presidente da Fiesp vai estar muito junto ao Legislativo, à
sociedade e aos trabalhadores.
Nós já temos algumas parcerias
com algumas entidades de trabalhadores, como a CUT e a Força
Sindical, e vamos reforçar esse
trabalho. A idéia é nós todos, juntos, pegarmos uma bandeira, como no caso da necessidade de investimentos em infra-estrutura
para combatermos os gargalos
que existem hoje e não sossegarmos enquanto o assunto não for
resolvido. Para termos força absoluta para defender uma causa
dessas no Congresso, temos de estar junto dos trabalhadores.
Folha - O sr. irá procurar uma linha de integração com os trabalhadores?
Skaf - Nós temos que fazer uma
Fiesp de resultados, uma Fiesp
que tenha poderes nas diversas
instâncias para poder conseguir
resultados concretos. O meu objetivo de fazer essas visitas na próxima semana é exatamente fazermos um verdadeiro pacto com essas diversas Casas para colocarmos a Fiesp à disposição e passarmos a criar as parcerias com essas
entidades.
Folha - O sr. acha que a Fiesp perdeu força?
Skaf - Não estou preocupado se
a Fiesp perdeu ou ganhou representatividade no passado. A minha preocupação é com o futuro.
Folha - Qual a relação que o sr.
pretende manter com o governo?
Skaf - A relação com o governo
tem de ser a necessária para se obter resultados. Quando você pode
obter resultados com parceria, o
caminho é a parceria. Quando você precisa da negociação, articulação, esse é o caminho, e, quando
você precisa de
enfrentamento,
vamos ao enfrentamento. Como o
melhor do que
uma tonelada de
palavras é uma
grama de exemplos, vou dar alguns exemplos da
minha forma de
atuação. Nos cinco anos e meio
que estou à frente
da Abit [Associação Brasileira da
Indústria Têxtil],
todos os resultados que conseguimos foi dessa forma. Nós conseguimos reduzir o
ICMS de 18% para
12% não foi brigando com o governo do Estado de São Paulo,
mas sim com uma parceria buscando um caminho para isso. Mas
também, quando foi preciso fechar a Anhangüera quando se
queria uma sobretaxa na importação de camisas, nós fechamos,
ou seja, fomos para o enfrentamento. Eu vejo uma Fiesp muito
mais parceira, mas não só do governo. Não sei porque tentaram
me vincular a algum partido. Não
tenho partido político nenhum e
nunca fui filiado a partido político. Eu me relaciono muito bem
com todos os partidos.
Folha - Mas o sr. tem relações
muito próximas, por exemplo, com
pessoas ligadas ao governo Lula.
Skaf - Sim, mas também com o
governador Geraldo Alckmin
[PSDB], com o vice Cláudio Lembo [PFL], com o presidente Lula
me relaciono bem, com o João
Paulo [PT], presidente da Câmara, com o presidente da Assembléia Legislativa de São Paulo,
com o Mercadante [senador Aloizio Mercadante, do PT], com o
Romeu Tuma, mas também com
os governadores Aécio Neves
[PSDB-MG], Marconi Perillo
[PSDB-GO] e Cássio Cunha Lima
[PSDB-PB].
Folha - A Fiesp terá alguma preferência partidária? Não existe essa
história de a Fiesp se tornar "chapa-branca"?
Skaf - De jeito nenhum. Chapa-branca coisa nenhuma. As pessoas falam isso porque manifestei
apoio ao presidente Lula na campanha presidencial, mas esquecem que eu manifestei apoio ao
governador Geraldo Alckmin no
Estado de São Paulo. Eu gosto de
alternância do poder. É saudável a
alternância. Nós, na Abit, conseguimos reduzir o ICMS com o governo do PSDB, de Geraldo Alckmin, conseguimos derrubar as
cotas européias em 2002 com o
governo Fernando Henrique Cardoso e conseguimos boas negociações com a Argentina no governo Lula.
Folha - Qual será sua principal
bandeira na Fiesp?
Skaf - Minha principal bandeira
será o fortalecimento político da
entidade. Com isso, você discute
infra-estrutura e obtém resultados, você discute política monetária e obtém resultados. Mas, para
você ter efeitos e resultados, precisa ter poder. A Fiesp precisa ser
ouvida. A Fiesp precisa ser respeitada. E esse será o primeiro trabalho, tanto é que, antes mesmo de
tomar posse, estou marcando todas essas visitas.
Folha - O que o sr. achou da ata do
Copom, que indicou um novo aumento de juros?
Skaf - Esse negócio de discutir
juros como a gente vem discutindo, sempre depois das reuniões
do Copom, é um tipo de discussão que não deve continuar. A
Fiesp tem de ter uma aproximação com o próprio Banco Central
e ter um entendimento da visão
desse futuro Brasil que a gente
quer. Para ser comentarista econômico, eu vou pegar alguém no
departamento de economia para
fazer esses comentários. Os juros
não podem subir mais. Os juros
têm de baixar, tanto a Selic como
os "spreads". Agora, para baixar,
temos de trabalhar com o Banco
Central, e, para baixar os
"spreads", precisamos trabalhar,
além do próprio Banco Central,
também com o mercado financeiro e com o Poder Judiciário.
Folha - Se confirmada a vitória de
Claudio Vaz no Ciesp, o sr. acha que
haverá uma divisão na liderança
empresarial?
Skaf - As eleições da Fiesp já estão definidas, e estamos iniciando
um processo de transição. Já nas
eleições do Ciesp, as coisas estão
suspensas. Não existe uma definição. Existem algumas verificações
que precisam ser feitas pela comissão eleitoral.
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