|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Empresários descartam "adesão" ao Planalto
SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL
Para empresários, a Fiesp (Federação das Indústrias no Estado
de São Paulo) não corre o risco de
aderir ao governo Lula por conta
do apoio que Paulo Skaf, seu presidente eleito, recebeu de políticos
do PT durante a campanha.
Do candidato derrotado à presidência da federação, Cláudio Vaz,
ao veterano Mário Amato, 85, que
comandou a entidade nos anos
80, empresários ouvidos pela Folha afirmam não acreditar em
uma aliança política.
"Que houve apoio de pessoas do
governo ao Paulo Skaf, houve,
mas isso não é uma política de governo nem do Lula", diz Vaz, candidato da situação. Amato é categórico quanto ao alinhamento da
"nova" Fiesp ao governo: "Não
acredito nisso".
Para esses empresários, o que
ocorreu foi uma aliança de ocasião, conseqüência da articulação
anterior de industriais do setor
têxtil em torno da Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil)
e velhas relações de amizade. "O
[vice-presidente da República]
José Alencar apoiou o Skaf via
Abit, isso não significa apoio do
governo", diz Vaz. Alencar é dono
do grupo têxtil Coteminas.
O endosso de petistas, como
Aloizio Mercante, a Skaf, teria
vindo por meio do empresário
Benjamin Steinbruch, presidente
da CSN (Companhia Siderúrgica
Nacional) e da Vicunha, de quem
o senador é amigo desde o início
de sua carreira política.
"Foi a origem têxtil que influenciou. O Steinbruch não precisa da
Fiesp para nada. Ele tem um relacionamento anterior com o Skaf
que renovou o sindicato do setor", diz Amato.
Não passa pela cabeça do antigo
líder empresarial, que em 1989
disse que "uns 800 mil empresários vão deixar o Brasil se o Lula
ganhar a eleição", que o país tenha mudado tanto. Ou seja, que a
elite empresarial paulista seja capaz de colocar sua entidade maior
a serviço do governo.
Segundo Amato, a Fiesp continuará exercendo o papel de "ajudar o governo e de criticá-lo". E
confessa: "Eu também fui assim, o
[atual presidente da Fiesp, Horacio Lafer] Piva foi assim, e isso
não significa aderir ao governo".
Pragmatismo
Para o presidente da Firjan (Federação das Indústrias do Estado
do Rio), Eduardo Eugênio Gouvêa Vieira, "a partidarização das
entidades empresariais não é adequada". Ele diz não acreditar que
Skaf siga por tal caminho.
"Assim como ele, também sou
membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social.
Nós empresários discutimos com
todos os setores as carências sociais, pois é na atividade empresarial que são gerados os empregos
que o país precisa", diz.
Um amigo de longa data de
Skaf, o presidente da Abecitrus,
Ademerval Garcia, também afirma que "não há compromisso político entre o presidente eleito da
Fiesp e o governo. "É puro pragmatismo do Paulo Skaf: seja
quem for o governo- Sarney,
Fernando Henrique ou Lula-, é
com eles que irá interagir", diz.
Segundo Garcia, a Fiesp sempre
foi governista. "Ela, às vezes, tem
rasgos de oposição, fica contra tudo, mas nunca bate de frente com
o governo, pois representa os setores empresariais voltados para
o mercado interno que dependem
de política públicas", diz.
Um exemplo dessa atitude, segundo ele, seriam os protestos da
entidade a cada corte de 0,25 ponto percentual na taxa de juro, pelo
Banco Central. Um esperneio
inútil, segundo sua opinião: "Tem
um pouco de palanque nisso".
Unidade
Ontem, no rescaldo da refrega
eleitoral, Vaz planejava uma reunião com seus apoiadores, na
próxima semana, para traçar um
plano de aproximação com a nova direção da Fiesp.
Virtual presidente eleito do
Ciesp (Centro das Indústrias do
Estado de São Paulo), Vaz diz que
pretende começar a recosturar a
unidade do empresariado paulista com o adversário. "Se tentarmos fazer da divisão entre o Ciesp
e a Fiesp uma rivalidade, vamos
destruir, e não construir."
Vaz diz que irá telefonar para
Skaf, depois dessa reunião, e apresentar uma proposta de atuação
complementar à da Fiesp. "Se ele
não tiver interesse, seguirei o meu
caminho", diz.
Se confirmada sua eleição ao
Ciesp, Vaz terá de cruzar com
Skaf de qualquer jeito. O novo
presidente da Fiesp é inquilino do
Ciesp, que, junto com o Sesi (Serviço Social da Indústria) é o dono
do prédio da avenida Paulista, onde está instalada a federação.
Texto Anterior: Grupo de Skaf tenta anular a derrota no Ciesp Próximo Texto: Governo Lula sai fortalecido, diz Força Sindical Índice
|