São Paulo, domingo, 27 de agosto de 2006

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VINICIUS TORRES FREIRE

Por que a economia parou? Parou?

HOUVE DECEPÇÃO ou sobressalto com os números ruins da economia no final do primeiro semestre. A decepção levou economistas a prever que a estimativa do governo Lula, de crescimento de 4% neste ano, vai ser frustrada.
Os décimos imponderáveis das estatísticas de um ano em particular não fazem lá muita diferença para o cidadão que vive nas ruas, e não em tabelas ou no horário eleitoral. O PIB cresceu 3,7% ou 3,5%? E daí?
Porém algo estranho ocorre faz tempo na indústria. Os meses quentes da economia ainda estão por vir e, quando entrar setembro, pode se derreter todo o palavreado que gastamos com a notícia de ontem. Enquanto setembro não vem, continua o inverno da nossa desconfiança (o comentário a seguir adapta um modelo de análise de economistas de conjuntura da UFRJ).

INDÚSTRIA PARANDO
A indústria vem desacelerando desde fevereiro de 2005, quando então crescia a 8,6% (na comparação do crescimento de 12 meses contra o dos 12 meses anteriores). Em fevereiro deste ano, crescia a 3%. Agora, se arrasta a cerca de 2%. Mas o Banco Central vem reduzindo os juros desde setembro do ano passado. Quando o Banco Central reduzia juros, a indústria costumava correr na frente do PIB -isto é, crescer mais do que o conjunto da economia. Foi a indústria que mudou de hábitos ou é o PIB que vai crescer menos mesmo?

VAREJO E BANCOS
As vendas do comércio varejista deram uma rateada em junho, mas estão bem acima dos níveis de 2005, contrariando a modorra da indústria. A massa de salários nas grandes cidades está crescendo mais de 5% sobre o ano passado. O total de empréstimos às pessoas físicas (aqueles para comprar carro, por exemplo), apesar da chorumela sobre inadimplências, cresce a cerca de 28% ao ano. A velocidade diminui desde maio de 2005, mas ainda é uma expansão de respeito. De resto, o crédito total ao setor privado mantém mais ou menos o mesmo ritmo desde 2005. Onde está o mistério?

COMÉRCIO EXTERIOR
A balança comercial não resolve as dúvidas, mas talvez explique parte da queda do desempenho da indústria. A velocidade do crescimento das exportações de bens manufaturados, em quantidade, caiu a um quarto do que era havia um ano. As importações de bens intermediários, que acompanhavam o crescimento da indústria até fevereiro, começaram a crescer mais. Isto é, pode ser que bens importados comecem a substituir de maneira mais relevante os bens fabricados no país. É o real valorizado? Difícil dizer. Dólar barato tem efeitos benéficos também. O mistério pode durar até novembro, quando sai o PIB do terceiro trimestre.

@ - vinit@uol.com.br


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