|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Edemar tinha quadros falsos, diz crítica
Duas telas de Di Cavalcanti que pertenceram ao ex-banqueiro são falsificações, segundo avaliação a pedido da Justiça
Veredicto de que obras não são autênticas é atestado por filha do artista; valor atribuído a uma das telas chegava a US$ 250 mil
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
Duas telas de Di Cavalcanti
que pertenceram à coleção de
Edemar Cid Ferreira e estão
depositadas no MAC (Museu
de Arte Contemporânea) de
São Paulo são falsas. A avaliação é da crítica de arte e curadora Denise Mattar, que já realizou duas grandes exposições
sobre o pintor, e foi endossada
por uma das filhas do artista,
Elizabeth Di Cavalcanti.
A crítica fez a análise dos dois
quadros a pedido do juiz federal Fausto Martin de Sanctis, o
mesmo que determinou que a
coleção do ex-controlador do
Banco Santos fosse seqüestrada e depositada em museus de
São Paulo e do Rio de Janeiro.
O MAC, museu que faz parte
da USP (Universidade de São
Paulo), recebeu 2.342 peças das
cerca de 20 mil que fazem parte
da Cid Collection.
Edemar tem mais dois quadros de Emiliano Di Cavalcanti
(1897-1976), um dos mais importantes pintores do modernismo brasileiro. Um deles, batizado "Figuras - Composição",
está numa das salas de sua casa
no Morumbi, na zona sul de São
Paulo. Sobre esses dois trabalhos não há dúvidas sobre a autenticidade.
O valor que Edemar atribuiu
a "Figuras", de US$ 250 mil
(correspondente a R$ 537,5 mil
em valores atuais), é o mesmo
que consta da ficha de uma das
obras consideradas falsas, a que
mostra cinco mulheres. Os preços das obras estão registrados
no livro-tombo da Cid Collection, do qual a Folha obteve
uma cópia em CD. Não há avaliação da outra tela considerada falsa, apelidada no livro-tombo de "Maternidade" por
mostrar uma mulher com uma
criança.
"Falsificação grosseira"
O juiz Martin de Sanctis pediu que os dois quadros de Di
fossem avaliados porque havia
recebido informações de que as
obras seriam falsas, segundo a
Folha apurou. A informação
partiu de funcionários que trabalharam com a coleção de arte
de Edemar.
Denise Mattar analisou as
obras no museu e levou fotos
dos trabalhos para que a filha
do pintor, que vive no Rio de
Janeiro, desse a sua opinião. O
veredicto das duas é unânime:
"A conclusão a que chegamos é
que nenhuma das duas obras é
de fato do artista". O texto de
Mattar, obtido pela Folha, foi
encaminhado ao juiz Martin de
Sanctis e faz parte do processo
em que Edemar é réu sob acusação de formação de quadrilha, gestão fraudulenta de instituição bancária e lavagem de
dinheiro.
A análise que a crítica fez das
duas telas é similar. Sobre as
cinco mulheres, Mattar fez três
observações:
1. "A assinatura não é do artista em nenhum período de
sua produção";
2. "A coloração e a forma de
aplicação da tinta não correspondem às adotadas pelo artista"; e
3. "A composição e a expressão das figuras não correspondem às adotadas pelo artista".
Na análise do quadro que
mostra uma mulher nua com
um bebê, Mattar assinala: "A
composição difere da forma como o artista sempre retratou o
tema maternidade".
Em entrevista à Folha, a crítica foi um pouco mais contundente: "O quadro das mulheres
é uma falsificação grosseira.
Tenho certeza absoluta de que
não é um Di. As pinceladas, a
composição, as figuras não são
de Di".
Mattar usou a mulher de vestido para detalhar seu raciocínio. "O vestido está pintado em
um tom só de verde. O Di jamais faria isso. Ele não fazia a
cor na paleta e depois a aplicava na tela. Era um pintor à moda antiga. Ele construía a cor
na tela pintando várias camadas, e a cor final era o resultado
dessa sobreposição."
Sobre "Maternidade", Denise Mattar diz ter dúvidas se era
falsa ou autêntica, já que uma
poltrona similar à que está na
tela aparece em outro trabalho,
"Nu com Flores", que está em
uma exposição que ela organizou na Caixa Cultural, no Rio,
com 110 obras de Di -em 1997,
a crítica fez uma retrospectiva
com 157 trabalhos do artista.
A avaliação da filha de Di Cavalcanti foi fundamental para
que Mattar dissipasse suas dúvidas: a assinatura não era a
que o pintor usava na suposta
data do quadro -1968.
"Eu tinha uma dúvida sobre
esse quadro, mas a Elizabeth
foi taxativa e ela conhece a obra
do pai", afirma a crítica. Se
houver contestações a sua opinião, ela recomenda uma análise científica do quadro.
Texto Anterior: Vinícius Torres Freire: Por que a economia parou? Parou? Próximo Texto: Outro lado: "Obras foram compradas como originais" Índice
|