São Paulo, segunda-feira, 27 de agosto de 2007

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Brasil é um dos mercados que mais perdem na crise

Queda dos ativos do país em mercados só é inferior à da Turquia, aponta banco

Índice do Morgan Stanley aponta queda de 17,6% nos ativos do mercado brasileiro no último mês; nos EUA, perda foi menor, de 5,16%

FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

As turbulências que têm sacudido os mercados financeiros nas últimas semanas têm punido tanto os emergentes quanto os países desenvolvidos. E, nessa montanha-russa financeira, o Brasil está entre os que mais têm sofrido.
Considerando o período de um mês encerrado no último dia 23, o Brasil só perdeu menos que a Turquia. O índice MSCI-Barra, feito pela instituição financeira americana Morgan Stanley Capital International, aponta queda de 17,60% para o mercado brasileiro, enquanto o da Turquia perdeu 20,37% nesse período. Esse índice é calculado a partir da oscilação de ativos (ações e outros títulos), dolarizados, dos mercados de capitais de cada país.
Os EUA, epicentro da crise, viram seu mercado cair de forma bem mais moderada nesse período: 5,16%. O mercado japonês sofreu queda próxima à norte-americana, de 5,36%.
Dentre os latino-americanos, o México amargou baixa de 9,98%, a Argentina, de 7,93%, e o Chile, de 7,22%.
William Eid Júnior, coordenador do Centro de Estudos em Finanças da Fundação Getulio Vargas, afirma que as fortes oscilações dos ativos brasileiros "ocorrem devido ao porte do nosso mercado, que é muito grande em comparação aos de outros emergentes".
"Quando há uma crise, os ativos brasileiros costumam cair mais rapidamente. Mas, nos períodos de recuperação, também sobem de forma mais rápida. Muito investidor compra bastante ativos brasileiros pois sabem que, se precisarem vender, a liquidez deles é forte", afirma Eid Júnior.
Para os emergentes como um todo, o índice MSCI-Barra apontou uma queda bem menor que a brasileira, de 10,99%, no período avaliado.
No caso da Bolsa de São Paulo, os investidores estrangeiros representam 34,4% de todas as operações realizadas no pregão, sendo a categoria de maior peso no mercado doméstico.

Aversão ao risco
Neste mês, até o dia 21, os estrangeiros retiraram líquido R$ 1,656 bilhão da Bovespa, o que afetou seu desempenho -a Bolsa acumula uma queda de 2,19% em agosto.
A venda de títulos da dívida brasileira no mercado internacional levou o risco-país aos 229 pontos-base no último dia 16 -a maior pontuação desde o começo de dezembro de 2006.
Quanto mais elevado o risco-país, pior. Esse indicador representa a diferença média entre os juros pagos pelo país para conseguir recursos no exterior e as taxas dos títulos do Tesouro dos EUA, considerados os mais seguros planeta. Cada cem pontos-base representa um ponto percentual nas taxas.
O mercado financeiro global tem sido afetado, de forma mais intensa desde 24 de julho, pela crise no segmento de crédito habitacional de alto risco dos EUA (chamado de "subprime"). O temor dos investidores é que essa crise contamine o desempenho de fundos que investiram em papéis imobiliários e o resultado de grandes instituições financeiras.
Na tentativa de se antecipar ao pior, investidores internacionais passaram nas últimas semanas a vender ativos de maior risco (como ações e títulos da dívida de emergentes) para comprar papéis do Tesouro norte-americano. E esse cenário acabou punindo o Brasil, mesmo que o país não atravessasse um período de incertezas ou enfrentasse problemas políticos e econômicos.
Na semana passada, com os investidores menos ariscos ao risco, os mercados começaram a ensaiar um processo gradual de recuperação.
"Se fosse há alguns anos, uma crise dessa puniria de forma muito mais contundente o Brasil. Nas últimas semanas, os estrangeiros andaram vendendo Brasil, mas já começam a voltar e ajudar a Bolsa a se recuperar", diz Jason Freitas Vieira, economista-chefe da UpTrend Consultoria Econômica.

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