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Secretário de Tesouro dos EUA diz
que retomada vai atrasar 3 meses
FERNANDO RODRIGUES
ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK
O secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Paul O'Neill, disse
ontem que a retomada do crescimento da economia do país deve
atrasar pelo menos três meses por
causa dos atentados do dia 11. O
secretário do Tesouro é o equivalente ao ministro da Fazenda brasileiro. Foi a primeira vez que um
representante do alto escalão do
governo norte-americano fez
uma previsão sobre quanto tempo o terrorismo prejudicará o reaquecimento dos negócios, esperado em geral para o início do ano
que vem.
Em Nova York para um café da
manhã com o um grupo conhecido com "The Business Roundtable", que reúne empresários das
principais corporações do país,
O'Neill falou à imprensa um pouco antes de o encontro começar:
"Não há dúvida de que houve um
impacto sobre a economia (...) A
recuperação foi reduzida em um
trimestre ou algo assim. Nós precisamos de algum tempo a mais,
talvez algumas semanas, para
avaliar o impacto econômico
completo".
O café da manhã foi no hotel
Waldorf Astoria. Com suas declarações, O'Neill passou finalmente
a ocupar um pouco o espaço de
porta-voz econômico, que nos últimos dias tinha sido tomado apenas pelo presidente do Federal
Reserve, Alan Greenspan, e pelo
ex-secretário do Tesouro Robert
Rubin -ligado ao Partido Democrata.
A economia dos EUA cresceu
apenas 0,2% no período de 12 meses que terminou em junho. Amanhã deve sair uma revisão desse
percentual, possivelmente jogando o número para apenas 0,1%. O
governo avalia que o segundo semestre inteiro será de recessão.
Havia um consenso entre analistas de que poderia haver uma
retomada do crescimento em janeiro do ano que vem. Agora, como admitiu O'Neill, é possível
que isso só ocorra a partir de abril,
ou depois. Segundo a definição
clássica, um país está em recessão
quando passa seis meses seguidos
sem crescer -o que deverá ser o
caso dos EUA.
O café da manhã de ontem foi
marcado porque o "Business
Roundtable" havia enviado uma
carta para o presidente dos EUA,
George W. Bush, na semana passada. Na documento, Bush era
instado a tomar "ações de forma
rápida e decisiva" para montar
um pacote de estímulo econômico.
Fazem parte do "Business
Roundtable" representantes de
pesos-pesados como Morgan Stanley Dean Witter, American Express, Verizon Communications,
International Paper e Citigroup.
Entre os assuntos discutidos na
manhã de ontem estava um possível corte de impostos sobre receitas de pessoas jurídicas, muito defendido por políticos republicanos (o partido de Bush) no Congresso norte-americano.
O'Neill disse que o governo está
refletindo sobre a exequibiliadde
de lançar um amplo pacote de estímulo econômico, mas que há
também "coisas mais imediatas".
Por exemplo, dar assistência adequada para o desemprego gerado
na cidade de Nova York. Estimativas iniciais da prefeitura local dão
conta que aproximadamente 100
mil pessoas perderam ou perderão o emprego por causa dos
atentados ao World Trade Center.
A diminuição de postos de trabalho em Nova York não ocorre
apenas por conta dos escritórios
que deixaram a cidade forçosamente depois do desmoronamento do WTC. Há também uma
grande comunidade -restaurantes, lanchonetes, lojas de conveniência etc.- no entorno do local
dos atentados que sobrevivia servindo ao pessoal das torres.
O secretário do Tesouro não falou especificamente sobre o pacote de até US$ 100 bilhões de estímulo à economia, discutido intensamente no dia anterior em
Washington. O'Neill parece ter
afinado o discurso com o presidente do Federal Reserve, Alan
Greenspan, que defende alguma
ajuda do governo na economia,
mas teme que possam ser tomadas medidas excessivas por causa
da proximidade dos atentados.
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