São Paulo, quinta-feira, 27 de setembro de 2001

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Secretário de Tesouro dos EUA diz que retomada vai atrasar 3 meses

FERNANDO RODRIGUES
ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK

O secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Paul O'Neill, disse ontem que a retomada do crescimento da economia do país deve atrasar pelo menos três meses por causa dos atentados do dia 11. O secretário do Tesouro é o equivalente ao ministro da Fazenda brasileiro. Foi a primeira vez que um representante do alto escalão do governo norte-americano fez uma previsão sobre quanto tempo o terrorismo prejudicará o reaquecimento dos negócios, esperado em geral para o início do ano que vem.
Em Nova York para um café da manhã com o um grupo conhecido com "The Business Roundtable", que reúne empresários das principais corporações do país, O'Neill falou à imprensa um pouco antes de o encontro começar: "Não há dúvida de que houve um impacto sobre a economia (...) A recuperação foi reduzida em um trimestre ou algo assim. Nós precisamos de algum tempo a mais, talvez algumas semanas, para avaliar o impacto econômico completo".
O café da manhã foi no hotel Waldorf Astoria. Com suas declarações, O'Neill passou finalmente a ocupar um pouco o espaço de porta-voz econômico, que nos últimos dias tinha sido tomado apenas pelo presidente do Federal Reserve, Alan Greenspan, e pelo ex-secretário do Tesouro Robert Rubin -ligado ao Partido Democrata.
A economia dos EUA cresceu apenas 0,2% no período de 12 meses que terminou em junho. Amanhã deve sair uma revisão desse percentual, possivelmente jogando o número para apenas 0,1%. O governo avalia que o segundo semestre inteiro será de recessão.
Havia um consenso entre analistas de que poderia haver uma retomada do crescimento em janeiro do ano que vem. Agora, como admitiu O'Neill, é possível que isso só ocorra a partir de abril, ou depois. Segundo a definição clássica, um país está em recessão quando passa seis meses seguidos sem crescer -o que deverá ser o caso dos EUA.
O café da manhã de ontem foi marcado porque o "Business Roundtable" havia enviado uma carta para o presidente dos EUA, George W. Bush, na semana passada. Na documento, Bush era instado a tomar "ações de forma rápida e decisiva" para montar um pacote de estímulo econômico.
Fazem parte do "Business Roundtable" representantes de pesos-pesados como Morgan Stanley Dean Witter, American Express, Verizon Communications, International Paper e Citigroup.
Entre os assuntos discutidos na manhã de ontem estava um possível corte de impostos sobre receitas de pessoas jurídicas, muito defendido por políticos republicanos (o partido de Bush) no Congresso norte-americano.
O'Neill disse que o governo está refletindo sobre a exequibiliadde de lançar um amplo pacote de estímulo econômico, mas que há também "coisas mais imediatas". Por exemplo, dar assistência adequada para o desemprego gerado na cidade de Nova York. Estimativas iniciais da prefeitura local dão conta que aproximadamente 100 mil pessoas perderam ou perderão o emprego por causa dos atentados ao World Trade Center.
A diminuição de postos de trabalho em Nova York não ocorre apenas por conta dos escritórios que deixaram a cidade forçosamente depois do desmoronamento do WTC. Há também uma grande comunidade -restaurantes, lanchonetes, lojas de conveniência etc.- no entorno do local dos atentados que sobrevivia servindo ao pessoal das torres.
O secretário do Tesouro não falou especificamente sobre o pacote de até US$ 100 bilhões de estímulo à economia, discutido intensamente no dia anterior em Washington. O'Neill parece ter afinado o discurso com o presidente do Federal Reserve, Alan Greenspan, que defende alguma ajuda do governo na economia, mas teme que possam ser tomadas medidas excessivas por causa da proximidade dos atentados.


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