São Paulo, segunda-feira, 27 de setembro de 2004

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PESO NO BOLSO

Valores cobrados em cabeleireiros, lavanderias, boates e teatros subiram até 16% no ano, aponta estudo inédito do IBGE

Preços de serviços sobem mais que inflação

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

Cortar cabelo, usar serviços de lavanderia, hospedar-se num hotel, ir à boate ou ao teatro no sábado à noite ficou mais caro nos últimos meses. É o que revela levantamento inédito do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), feito a pedido da Folha.
Como conseqüência do aumento do consumo, muitos serviços pessoais dispararam de preço e já acumulam altas superiores aos 5,14% do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) no período de janeiro a agosto.
É o caso do cabeleireiro, que subiu 6,11% no ano. Passar por uma consulta médica também ficou mais caro -6,33%. As lavanderias reajustaram seus serviços em 6,50%, em média. Tirar documentos por meio de um despachante também ficou mais salgado neste ano -7,40%.
Outros serviços de peso no bolso do consumidor também foram corrigidos. O hotel subiu 7,46%. Boates, danceterias e discotecas reajustaram o valor das entradas em 8,15%, em média. Mas o campeão mesmo foi o teatro, cujo ingresso sofreu aumento médio de 15,94% de janeiro a agosto.

Demora para subir e cair
Além do impacto no bolso do consumidor, esses aumentos preocupam especialistas. É que os serviços são sempre os últimos itens a subir de preço num período de recuperação da economia. Ou seja: o comportamento desses itens está, portanto, ligado diretamente ao aquecimento econômico por que passa o país.
Segundo economistas consultados, a única forma de conter esses reajustes, propiciados quase que exclusivamente pela maior demanda, é elevar a taxa de juros para frear a economia.
Embora diga que a pressão desses itens é temporária, o economista Carlos Thadeu de Freitas Filho, da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), afirma que aumentos nos preços dos serviços são "preocupantes". Isso porque são os últimos a subir, mas os que mais demoram para baixar, segundo ele.
Tal fenômeno ocorre porque seu consumo está relacionado ao padrão de renda da população, à melhora do mercado de trabalho e à recuperação do consumo. Num momento de crise, diz Freitas Filho, as pessoas cortam gastos desse tipo.
"Já numa fase de reação da economia, a tendência é que os prestadores de serviços tentem recuperar margens perdidas, aumentando seus preços", afirmou.
Diferentemente de produtos industriais, de acordo com especialistas, os serviços não sofrem impacto direto de aumento de matérias-primas ou de qualquer outro tipo de pressão de custo -à exceção do reajuste de salários em épocas de negociações coletivas dos funcionários.

Monitoramento do BC
Segundo o economista Alexandre S'Antanna, da ARX Capital, o Banco Central monitora de perto o comportamento desses preços, justamente por causa da eficácia que a política monetária (leia-se alta dos juros) tem sobre eles.
Uma das razões apontadas pelo Banco Central para elevar os juros (de 16% para 16,25% ao ano) foi a pressão sobre os chamados preços livres -que incluem os serviços pessoais e de saúde, agrupados no levantamento do IBGE.
Na verdade, a lista de serviços do Banco Central é um pouco mais ampla: abrange ainda os subgrupos consertos e manutenção, pintura de veículos e cursos. De acordo com S'Antanna, a variação acumulada dos serviços no ano (inclusive os pesquisados pelo Banco Central) é de 5,08%, em linha com o resultado do IPCA.
Ele ressalta, porém, que esses preços vinham comportados e subiram com força nos últimos dois meses devido ao maior nível da atividade econômica. Em junho, a alta havia sido de apenas 0,26%. A alta passou para 0,49% em julho. Subiu ainda mais em agosto: 0,59% -a maior taxa verificada desde fevereiro.
Nos dois primeiros meses do ano, é natural que os serviços disparem por causa das matrículas escolares, que são corrigidas nessa época. "Como os preços dos serviços vêm subindo desde abril, pode-se considerar como uma das razões a maior disseminação da recuperação da atividade econômica, o que, na margem, está gradualmente elevando a renda real do consumidor. Isso é um incentivo para o consumo maior de serviços", diz S'Antanna.

Salão e lavanderia
Em algumas empresas prestadores de serviços visitadas pela Folha, a reportagem constatou os aumentos apurados pelo IBGE.
Instalado no shopping Iguatemi, em Vila Isabel, no Rio, o salão de cabeleireiros Walter's, por exemplo, reajustou o preço do corte em R$ 1 neste mês. O serviço passou de R$ 24 para R$ 25 de sexta-feira a domingo -de segunda a quinta-feira é oferecido um desconto de 20%.
"Os produtos que usamos subiram de preço. Por isso, tivemos de aumentar o preço do corte", afirmou a gerente do salão.
O mesmo aconteceu numa lavanderia de Laranjeiras (zona sul). Lá, a lavagem de um terno subiu de R$ 8 para R$ 12 desde o início do ano. Já a lavagem de uma camisa aumentou de R$ 4 para R$ 5. Para a própria pessoa lavar sua roupa, o custo da cesta passou de R$ 6 para R$ 7.
Ainda que os serviços de costura tenham subido menos que o IPCA (1,83%), algumas oficinas corrigiram suas tabelas. É o caso da Entrelinhas, também no shopping Iguatemi.
Fazer a bainha ficou R$ 1 mais caro. O preço desse serviço passou de R$ 5 para R$ 6. "Em média, os preços dos nossos serviços subiram 10%", afirma Célia Regina da Silva, gerente da loja.


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