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PESO NO BOLSO
Valores cobrados em cabeleireiros, lavanderias, boates e teatros subiram até 16% no ano, aponta estudo inédito do IBGE
Preços de serviços sobem mais que inflação
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
Cortar cabelo, usar serviços de
lavanderia, hospedar-se num hotel, ir à boate ou ao teatro no sábado à noite ficou mais caro nos últimos meses. É o que revela levantamento inédito do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), feito a pedido da Folha.
Como conseqüência do aumento do consumo, muitos serviços
pessoais dispararam de preço e já
acumulam altas superiores aos
5,14% do IPCA (Índice de Preços
ao Consumidor Amplo) no período de janeiro a agosto.
É o caso do cabeleireiro, que subiu 6,11% no ano. Passar por uma
consulta médica também ficou
mais caro -6,33%. As lavanderias reajustaram seus serviços em
6,50%, em média. Tirar documentos por meio de um despachante também ficou mais salgado neste ano -7,40%.
Outros serviços de peso no bolso do consumidor também foram
corrigidos. O hotel subiu 7,46%.
Boates, danceterias e discotecas
reajustaram o valor das entradas
em 8,15%, em média. Mas o campeão mesmo foi o teatro, cujo ingresso sofreu aumento médio de
15,94% de janeiro a agosto.
Demora para subir e cair
Além do impacto no bolso do
consumidor, esses aumentos
preocupam especialistas. É que os
serviços são sempre os últimos
itens a subir de preço num período de recuperação da economia.
Ou seja: o comportamento desses
itens está, portanto, ligado diretamente ao aquecimento econômico por que passa o país.
Segundo economistas consultados, a única forma de conter esses
reajustes, propiciados quase que
exclusivamente pela maior demanda, é elevar a taxa de juros para frear a economia.
Embora diga que a pressão desses itens é temporária, o economista Carlos Thadeu de Freitas
Filho, da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), afirma
que aumentos nos preços dos serviços são "preocupantes". Isso
porque são os últimos a subir,
mas os que mais demoram para
baixar, segundo ele.
Tal fenômeno ocorre porque
seu consumo está relacionado ao
padrão de renda da população, à
melhora do mercado de trabalho
e à recuperação do consumo.
Num momento de crise, diz Freitas Filho, as pessoas cortam gastos desse tipo.
"Já numa fase de reação da economia, a tendência é que os prestadores de serviços tentem recuperar margens perdidas, aumentando seus preços", afirmou.
Diferentemente de produtos industriais, de acordo com especialistas, os serviços não sofrem impacto direto de aumento de matérias-primas ou de qualquer outro
tipo de pressão de custo -à exceção do reajuste de salários em
épocas de negociações coletivas
dos funcionários.
Monitoramento do BC
Segundo o economista Alexandre S'Antanna, da ARX Capital, o
Banco Central monitora de perto
o comportamento desses preços,
justamente por causa da eficácia
que a política monetária (leia-se
alta dos juros) tem sobre eles.
Uma das razões apontadas pelo
Banco Central para elevar os juros
(de 16% para 16,25% ao ano) foi a
pressão sobre os chamados preços livres -que incluem os serviços pessoais e de saúde, agrupados no levantamento do IBGE.
Na verdade, a lista de serviços
do Banco Central é um pouco
mais ampla: abrange ainda os
subgrupos consertos e manutenção, pintura de veículos e cursos.
De acordo com S'Antanna, a variação acumulada dos serviços no
ano (inclusive os pesquisados pelo Banco Central) é de 5,08%, em
linha com o resultado do IPCA.
Ele ressalta, porém, que esses
preços vinham comportados e subiram com força nos últimos dois
meses devido ao maior nível da
atividade econômica. Em junho, a
alta havia sido de apenas 0,26%. A
alta passou para 0,49% em julho.
Subiu ainda mais em agosto:
0,59% -a maior taxa verificada
desde fevereiro.
Nos dois primeiros meses do
ano, é natural que os serviços disparem por causa das matrículas
escolares, que são corrigidas nessa época. "Como os preços dos
serviços vêm subindo desde abril,
pode-se considerar como uma
das razões a maior disseminação
da recuperação da atividade econômica, o que, na margem, está
gradualmente elevando a renda
real do consumidor. Isso é um incentivo para o consumo maior de
serviços", diz S'Antanna.
Salão e lavanderia
Em algumas empresas prestadores de serviços visitadas pela
Folha, a reportagem constatou os
aumentos apurados pelo IBGE.
Instalado no shopping Iguatemi, em Vila Isabel, no Rio, o salão
de cabeleireiros Walter's, por
exemplo, reajustou o preço do
corte em R$ 1 neste mês. O serviço
passou de R$ 24 para R$ 25 de
sexta-feira a domingo -de segunda a quinta-feira é oferecido
um desconto de 20%.
"Os produtos que usamos subiram de preço. Por isso, tivemos de
aumentar o preço do corte", afirmou a gerente do salão.
O mesmo aconteceu numa lavanderia de Laranjeiras (zona
sul). Lá, a lavagem de um terno
subiu de R$ 8 para R$ 12 desde o
início do ano. Já a lavagem de
uma camisa aumentou de R$ 4
para R$ 5. Para a própria pessoa
lavar sua roupa, o custo da cesta
passou de R$ 6 para R$ 7.
Ainda que os serviços de costura tenham subido menos que o
IPCA (1,83%), algumas oficinas
corrigiram suas tabelas. É o caso
da Entrelinhas, também no shopping Iguatemi.
Fazer a bainha ficou R$ 1 mais
caro. O preço desse serviço passou de R$ 5 para R$ 6. "Em média,
os preços dos nossos serviços subiram 10%", afirma Célia Regina
da Silva, gerente da loja.
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