São Paulo, quinta-feira, 27 de setembro de 2007

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Dívida pública recua para o menor nível desde 1998

Proporção em relação ao PIB cai para 43,1% em agosto, com a ajuda do câmbio

Projeção do BC é a de que o indicador feche o ano em 44%; com inflação maior, valores corrigidos do PIB colaborarão com resultado

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A alta da inflação deve colaborar para uma melhora na situação das contas públicas do Brasil. O aumento dos preços vai ajudar na redução da relação entre dívida pública e PIB (Produto Interno Bruto), um dos indicadores mais utilizados para avaliar a capacidade do país em continuar pagando em dia os seus compromissos.
Nas contas do Banco Central, essa proporção deve encerrar o ano em 44,0% -ou seja, essa será a participação que a soma das dívidas de governo federal, Estados, municípios e estatais terá sobre o total de riquezas produzidas pelo país.
Em dezembro de 2006, essa relação ficou em 44,9%, e a expectativa inicial do BC era que ela continuasse caindo até chegar a 44,5% ao final de 2007. Essa previsão foi modificada por causa do aumento, acima do esperado, da inflação: previa-se que a alta do IGP-DI (Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna) no ano fosse de 4,2%, mas já se fala em 5,2%.
O IGP-DI, que reflete o comportamento dos preços no varejo, no atacado e na construção civil, é usado pelo BC para corrigir os valores do PIB. Logo, quanto mais alta a inflação, maior é o PIB -e menor é a relação entre dívida e PIB.
Ao anunciar a nova projeção, o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, minimizou o impacto que a alta dos preços tem sobre o indicador. "O ponto importante é a dinâmica da dívida, que continua sendo de queda", afirmou.
No mês passado, a relação entre dívida e PIB estava em 43,1%, a mais baixa desde dezembro de 1998. Conseqüentemente, o resultado também é o menor já registrado desde a maxidesvalorização do real, em janeiro de 1999, quando a disparada do dólar provocou um forte aumento na dívida pública corrigida pelo câmbio.
Curiosamente, a redução da dívida no mês passado ocorreu justamente por causa do câmbio. Atualmente, as reservas em moeda estrangeira do Brasil superam o valor dos compromissos em dólar assumidos pelo país. Por isso, sempre que o dólar sobe, a dívida cai. Em agosto, com a crise nos mercados internacionais, o dólar subiu 4,5%, e isso respondeu por uma redução de R$ 8,6 bilhões na dívida pública, que encerrou o mês em R$ 1,096 trilhão.
Neste mês, como o dólar já voltou aos patamares de antes da crise, a previsão do BC é que a relação entre dívida e PIB volte para algo em torno de 44%.
Para o economista-chefe do Unibanco, Marcelo Salomon, a dívida pública tem apresentado um comportamento positivo nos últimos meses. "Mais importante que o nível em si [da relação entre dívida e PIB] é garantir que a tendência de médio e longo prazos continue sendo de queda", disse.
Segundo Salomon, essa garantia vem sendo dada pelo aperto fiscal conduzido pelo setor público, que entre janeiro e agosto já economizou R$ 87,7 bilhões -ou 5,31% do PIB- para pagar os juros que incidem sobre suas dívidas. O valor é maior que os 5,05% registrados no mesmo período de 2006.
A maior preocupação, na avaliação do economista, está no aumento dos gastos do governo, que só não tem prejudicado o ajuste fiscal por causa do crescimento da arrecadação de impostos. "Não se vê o governo fazer desonerações fiscais importantes nem aplicar recursos em outra coisa que não seja em custeio da máquina, em vez de priorizar investimentos."


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