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Dívida pública recua para o menor nível desde 1998
Proporção em relação ao PIB cai para 43,1% em agosto, com a ajuda do câmbio
Projeção do BC é a de que o indicador feche o ano em 44%; com inflação maior, valores corrigidos do PIB colaborarão com resultado
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A alta da inflação deve colaborar para uma melhora na situação das contas públicas do
Brasil. O aumento dos preços
vai ajudar na redução da relação entre dívida pública e PIB
(Produto Interno Bruto), um
dos indicadores mais utilizados
para avaliar a capacidade do
país em continuar pagando em
dia os seus compromissos.
Nas contas do Banco Central,
essa proporção deve encerrar o
ano em 44,0% -ou seja, essa
será a participação que a soma
das dívidas de governo federal,
Estados, municípios e estatais
terá sobre o total de riquezas
produzidas pelo país.
Em dezembro de 2006, essa
relação ficou em 44,9%, e a expectativa inicial do BC era que
ela continuasse caindo até chegar a 44,5% ao final de 2007.
Essa previsão foi modificada
por causa do aumento, acima
do esperado, da inflação: previa-se que a alta do IGP-DI (Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna) no ano fosse
de 4,2%, mas já se fala em 5,2%.
O IGP-DI, que reflete o comportamento dos preços no varejo, no atacado e na construção civil, é usado pelo BC para
corrigir os valores do PIB. Logo, quanto mais alta a inflação,
maior é o PIB -e menor é a relação entre dívida e PIB.
Ao anunciar a nova projeção,
o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes,
minimizou o impacto que a alta
dos preços tem sobre o indicador. "O ponto importante é a
dinâmica da dívida, que continua sendo de queda", afirmou.
No mês passado, a relação
entre dívida e PIB estava em
43,1%, a mais baixa desde dezembro de 1998. Conseqüentemente, o resultado também é o
menor já registrado desde a
maxidesvalorização do real, em
janeiro de 1999, quando a disparada do dólar provocou um
forte aumento na dívida pública corrigida pelo câmbio.
Curiosamente, a redução da
dívida no mês passado ocorreu
justamente por causa do câmbio. Atualmente, as reservas
em moeda estrangeira do Brasil
superam o valor dos compromissos em dólar assumidos pelo país. Por isso, sempre que o
dólar sobe, a dívida cai. Em
agosto, com a crise nos mercados internacionais, o dólar subiu 4,5%, e isso respondeu por
uma redução de R$ 8,6 bilhões
na dívida pública, que encerrou
o mês em R$ 1,096 trilhão.
Neste mês, como o dólar já
voltou aos patamares de antes
da crise, a previsão do BC é que
a relação entre dívida e PIB volte para algo em torno de 44%.
Para o economista-chefe do
Unibanco, Marcelo Salomon, a
dívida pública tem apresentado
um comportamento positivo
nos últimos meses. "Mais importante que o nível em si [da
relação entre dívida e PIB] é garantir que a tendência de médio e longo prazos continue
sendo de queda", disse.
Segundo Salomon, essa garantia vem sendo dada pelo
aperto fiscal conduzido pelo setor público, que entre janeiro e
agosto já economizou R$ 87,7
bilhões -ou 5,31% do PIB- para pagar os juros que incidem
sobre suas dívidas. O valor é
maior que os 5,05% registrados
no mesmo período de 2006.
A maior preocupação, na avaliação do economista, está no
aumento dos gastos do governo, que só não tem prejudicado
o ajuste fiscal por causa do crescimento da arrecadação de impostos. "Não se vê o governo fazer desonerações fiscais importantes nem aplicar recursos em
outra coisa que não seja em
custeio da máquina, em vez de
priorizar investimentos."
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