São Paulo, sábado, 27 de setembro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Oposição vê avanço em acordo para socorro

Democratas dizem que negociação com republicanos progrediu e que pode ser fechada amanhã; Bolsa de NY sobe 1,1%

Pesquisa mostra que 45% da população americana é contra ajuda do governo Bush às instituições financeiras de Wall Street

DA REDAÇÃO

Depois do entrave do dia anterior, as negociações entre os congressistas americanos para a aprovação do pacote para tentar aliviar a crise nos mercados financeiros avançaram ontem.
A oposição democrata diz esperar que um acordo seja fechado ainda amanhã. A expectativa animou as Bolsas dos EUA, apesar da quebra do Washington Mutual, um dos maiores bancos do país.
"Eu acredito que houve progresso", disse na tarde de ontem a presidente do Congresso, a democrata Nancy Pelosi, após hora de negociações. "Estamos de voltas ao trilhos."
Ela disse que os congressistas ficarão em Washington o tempo que for necessário, mas que espera ter um acordo fechado logo "porque os mercados precisam de uma mensagem nossa".
Apesar dos avanços, os democratas voltaram a atacar o candidato da situação à sucessão presidencial, John McCain, que, ao lado de deputados republicanos, foi apontado, especialmente pela oposição, como responsável pela entrave de anteontem. "Agora que o senador McCain está em segurança no Mississippi [onde ocorreria o debate presidencial com Barack Obama], podemos voltar ao trabalho", afirmou o deputado Barney Frank, que disse estar "convencido" que um acordo será finalizado até amanhã.
Nem Pelosi nem Frank deram detalhes do que foi negociado. A expectativa é que algumas idéias dos republicanos sejam incorporadas ao plano inicial, que prevê, entre outras medidas, US$ 700 bilhões (metade do PIB brasileiro de 2007) para o governo comprar títulos podres de instituições financeiras e restrições aos altos salários das executivos das firmas que receberem ajuda.
Os deputados republicanos queriam um pacote em que o governo (no lugar de comprar os títulos podres) financiaria o seguro dos ativos problemáticos das instituições financeiras -que, em troca, pagariam um prêmio ao Tesouro. Ontem, porém, alguns já falavam em um modelo híbrido, em que o Tesouro americano compraria parte dos títulos, os considerados mais problemáticos.
A esperança de que um acordo seja fechado antes da abertura dos mercados na segunda animou investidores. O índice Dow Jones, o principal da Bolsa de Nova York, subiu 1,10%.
Mas os democratas, que têm maioria no Congresso, deixaram claro que não aprovarão sozinhos o projeto. "Essa é uma proposta do presidente Bush. Estamos tentando ajudar porque achamos que existe uma crise. Mas você pode imaginar que existe bastante controvérsia também do outro lado do corredor. Ninguém quer ser visto como os que resgataram Wall Street. Mas precisamos estabilizar Wall Street ou a falência de Wall Street vai reverberar por toda a economia", disse o deputado Steny Hoyer.
A oposição não quer assumir o ônus de um projeto que quase metade da população diz ser contrária e que acontece a pouco mais de um mês das eleições em que, além da disputa presidencial, estarão em jogo todas as cadeiras da Câmara e um terço das do Senado. Segundo pesquisa da Associated Press, 45% são contra o plano, e 30% dizem ser favoráveis -os demais afirmaram não saber.
O primeiro sinal de avanço nas negociações foi a presença de um líder dos deputados republicanos na reunião de ontem, depois de o grupo ter desistido de participar no encontro da noite do dia anterior, em que se tentaram reavivar as negociações. Eles apresentaram um novo projeto na reunião anteontem com o governo americano, depois de o Congresso anunciar um acordo-o que os republicanos negaram-, o que foi considerado a principal razão para o impasse.
Vistos pelos democratas como os culpados pelo fracasso das negociações anteontem, os deputados republicanos começaram o dia no ataque à oposição, dizendo que em nenhum momento chegaram a um acordo, e em defesa de McCain.
"Ele levou a discussão para o caminho que nós queríamos que fosse durante toda a semana", afirmou Roy Blunt, o vice-líder republicano, que disse que os deputados do partidos não participariam das negociações se não fosse McCain.
O presidente George W. Bush também preferiu acalmar os ânimos, preferindo não colocar a culpa nos membros do seu partido. "Os membros [do Congresso] querem ser ouvidos, eles querem poder expressar as suas opinião. Existem discordâncias em relação a aspectos do plano de resgate, mas não há discordância de que algo substancial precisa ser feito."
Sem um acordo e com um proposta nova na mesa, as negociações estavam tão tensas anteontem que o secretário do Tesouro, Henry Paulson, interrompeu a conversa de um pequeno grupo de democratas pedindo que eles não falassem nada que pudesse impedir um acordo. Em um determinado momento, de brincadeira, o secretário americano chegou até a ficar de joelho.


Com agências internacionais


Texto Anterior: Mercado Aberto
Próximo Texto: Impasse no Congresso expõe racha na bancada republicana e ambições políticas
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.