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Impasse no Congresso expõe racha na bancada republicana e ambições políticas
ANDREA MURTA
DE NOVA YORK
O fracasso dos republicanos
em agir em uníssono a respeito
do pacote de US$ 700 bilhões
do governo dos EUA para resgatar Wall Street, apesar de
mais estridente do que se poderia supor, não chega a ser surpresa para analistas: reflete não
só o apego ao não-intervencionismo mas também disputas
recentes entre conservadores
na Câmara dos Representantes
e pragmáticos no Senado.
Até ontem à noite, o presidente republicano, George W.
Bush, encarava a defecção de
entre 100 e 120 correligionários
em relação a seu pacote. Bush e
o secretário do Tesouro, Henry
Paulson, mantinham a seu lado
apenas republicanos mais
pragmáticos, geralmente com
muitos anos de Congresso e
concentrados no Senado -onde o mandato de seis anos alivia
a pressão da opinião pública,
contrária ao plano.
Entre esses estavam nomes
da velha guarda republicana,
como Robert Bennett (Utah), à
frente das negociações sobre o
pacote por essa Casa.
Já os focos de resistência entre senadores se concentravam
na ala mais à direita, como na
voz de Richard Shelby (Alabama), membro da Comissão de
Bancos do Senado e o primeiro
a negar anteontem que um
acordo com os democratas sobre o plano fora alcançado.
O coração da oposição, porém, está na Câmara, em parte
porque os deputados enfrentam eleições em novembro e
não querem desagradar ao público com um plano impopular.
Mas há outros motivos. "Há
mais de uma década a Câmara
vem sendo a mais conservadora e apegada a ideologias das
duas Casas", diz Lawrence
Meade, especialista em política
americana do American Enterprise Institute, de direita.
Paul C. Light, analista da
Universidade de Nova York,
concorda e atribui a rebeldia a
uma mistura de ambição política e purismo ideológico.
"Os líderes da rebelião vêem
uma longa carreira política à
sua frente. Ambicionam passar
ao Senado ou mesmo à Presidência e temem desagradar ao
eleitorado de seus distritos, já
que precisam ser reeleitos a cada dois anos", disse ele. "Veja
Eric Cantor [deputado republicano de Virgínia], que está à
frente dos "renegados". Ele chegou a ter seu nome sugerido para vice de McCain, é visto como
um futuro líder republicano, e
isso torna seu apego à base
muito mais forte."
Light afirma que o líder da
minoria na Câmara, o republicano John A. Boehner (de
Ohio), foi obrigado a entrar no
barco dos rebeldes por pressão
política. "Ele sabe que não será
líder em janeiro se não estivesse ao lado dos opositores hoje."
O racha republicano, apesar
de não ser regra, não é inédito e
vem aumentando nos últimos
anos, por várias razões. Uma
delas é a configuração do Congresso: desde 1994, ano em que
republicanos ganharam controle de ambas as Casas, a entrada de vários deputados ultraconservadores aumentou a
tensão com a velha guarda e começou a ruir a disciplina do
partido. O fato de Bush ser um
presidente tão impopular facilita ainda mais atos de rebeldia.
Isso já foi visto, por exemplo,
na reforma migratória. Co-escrita por McCain e apoiada por
Bush, a lei foi rechaçada pelos
republicanos conservadores.
Analistas ainda crêem que
um acordo sobre o plano econômico -com concessões- será possível, mas, quanto mais o
tempo passa, mais a situação
piora. "Como o sistema financeiro vem sendo capaz de suportar a demora sem colapsar,
os opositores estão tendo tempo suficiente para conquistar
apoio", diz Light. "É como
aprovar uma declaração de
guerra. Os defensores precisam
de um consenso, pois ninguém
quer suportar sozinho o peso
de um eventual fracasso."
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