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ARTIGO
Onde estão os adultos?
PAUL KRUGMAN
DO "NEW YORK TIMES"
MUITA GENTE , na direta e na esquerda,
está indignada diante da idéia de usar dinheiro dos
contribuintes para resgatar o
sistema financeiro dos Estados
Unidos. Elas têm motivo para
isso, mas inação não é uma escolha séria. No momento, os
participantes do mercado em
todos os níveis do sistema estão
recusando empréstimo e acumulando caixa, e esse colapso
do crédito traz à mente de muitos economistas a corrida aos
bancos que resultou na Grande
Depressão.
É verdade que não sabemos
ao certo se o paralelo procede.
Talvez fosse possível permitir
que o mercado financeiro explodisse sem que isso acarretasse desastre para a economia
como um todo. Mas não é algo
que devamos arriscar.
Assim, a atitude adulta a tomar seria fazer alguma coisa
para resgatar o sistema financeiro. A grande questão é determinar se ainda resta algum
adulto disponível e se lhe será
dada a oportunidade de assumir as rédeas.
No começo da semana, o secretário do Tesouro, Hank
Paulson, tentou convencer o
Congresso de que ele era o
adulto e que estava na sala para
nos proteger do perigo. Exigiu
total autoridade sobre o resgate: US$ 700 bilhões que seriam
usados como ele dispusesse e
com imunidade ante revisões.
O Congresso refugou. Não se
deve conceder a qualquer funcionário de governo um privilégio monárquico como esse,
muito menos a um funcionário
que conduziu o país a uma
guerra sob falsos pretextos.
Além disso, o histórico de
Paulson não é nem de longe
confiável: ele demorou demais
a compreender a dimensão dos
problemas financeiros do país e
é em parte por sua culpa que
chegamos ao atual colapso.
Além disso, Paulson jamais
ofereceu uma explicação convincente de como seu plano deveria funcionar. E o veredicto
de muitos economistas, de fato,
era de que não funcionaria a
menos que representasse o
equivalente a um grande programa de bem-estar social para
o setor financeiro.
Mas se Paulson não é o adulto de que precisamos, será que
os líderes do Congresso estão
prontos a assumir essa responsabilidade e são capazes disso?
Bem, o "acordo em princípio" entre os dois partidos
anunciado na quinta-feira parecia bem melhor que o plano
original de Paulson. De fato, o
plano colocaria Paulson mesmo sob fiscalização adulta muito necessária, ao estabelecer
um conselho de supervisão
"com autoridade para bloquear
qualquer medida". Além disso,
a mesada de Paulson também
seria limitada, a apenas (!) US$
250 bilhões, de imediato.
O acordo também dispõe que
os salários dos executivos de
empresas que receberem dinheiro federal respeitem determinados limites. E, o mais importante, requer que "qualquer
transação envolva participação
de capital".
Por que isso é tão importante? O problema fundamental
do nosso sistema financeiro é
que as conseqüências do colapso na habitação deixaram as
instituições financeiras descapitalizadas. Quando por fim se
dignou a oferecer uma explicação de seu plano, Paulson argumentou que poderia resolver
esse problema pela "descoberta
de preços" alegando que, assim
que o dinheiro dos contribuintes tiver criado um mercado para o lixo tóxico vinculado a títulos hipotecários, todo mundo
viria a compreender que o lixo
tóxico na verdade vale muito
mais do que o valor pelo qual
vem sendo vendido, e isso resolveria o problema de capital.
É sensato nunca dizer nunca,
admito, mas quem deseja apostar US$ 700 bilhões em uma esperança?
Na verdade, a probabilidade
é que o governo tenha de fazer o
que o governos sempre fazem
em crises financeiras -usar dinheiro dos contribuintes para
injetar capital no sistema. Sob o
plano Paulson original, o Tesouro provavelmente o teria
feito adquirindo lixo tóxico por
valor muito maior que o justo e
sem nada receber em troca.
O que os contribuintes deveriam receber é aquilo a que
qualquer pessoa que forneça
capital tem direito: uma participação acionária. E é isso que o
plano do Congresso propõe.
O plano do Congresso, portanto, parece bem melhor
-bem mais adulto- do que o
plano Paulson. Mas, apesar disso, não foi bem detalhado, e os
detalhes são cruciais. Que preços os contribuintes pagarão
para assumir parte desse lixo
tóxico? Quanto capital receberão em retorno? Esses números farão toda a diferença.
E, de qualquer forma, parece
que não temos acordo.
É preciso que o plano seja bipartidário, e não apenas no nível das lideranças. Os democratas não conseguirão aprová-lo
sem os votos das bases republicanas, e as bases republicanas
não pareciam inclinadas a isso.
Além disso, um republicano
que está bem acima da base, o
senador John McCain, aparentemente decidiu desempenhar
o papel de estraga-prazeres. No
começo da semana, quando recusou declarar apoio ao plano
de Paulson, ele disse que não tinha tido tempo de lê-lo, e o plano só tem três páginas. Depois,
o senador se imiscuiu nas delicadas negociações do plano do
Congresso, insistindo numa
reunião na Casa Banca na qual,
ao que se sabe, pouco disse, mas
também durante a qual o consenso pareceu desaparecer.
Em resumo, portanto, parece
que existem alguns adultos no
Congresso, prontos a fazer alguma coisa para nos ajudar.
Mas os adultos por enquanto
não estão no comando.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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