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Suzuki vê sua última chance no Brasil
Com plano de expansão pelo mundo, montadora japonesa decide retornar ao país para disputar mercado de utilitários
O presidente da Suzuki no Brasil, Alexandre Câmara, diz que a empresa veio para ficar, apesar da disparada da moeda norte-americana
PAULO DE ARAUJO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Incumbido de relançar no
Brasil os carros da montadora
japonesa Suzuki, o empresário
Alexandre Câmara, 46, afirma
que esta é a última oportunidade para a marca fincar os pés no
país, justamente em um contexto em que os desafios parecem maiores.
O retorno da Suzuki é marcado por um momento de acelerada valorização do dólar, fator
que acabou por inviabilizar as
operações da empresa no Brasil
em 2003, e pelo início de desaceleração nas vendas de veículos no mercado interno.
"Desta vez, voltamos para ficar", diz Câmara, que irá lançar
em outubro o Grand Vitara. A
Suzuki Veículos do Brasil prepara-se para vender 600 carros
por mês em 2009, quando sua
rede de concessionárias já estiver formada.
Dono da Uncle K, marca de
bolsas e acessórios femininos,
Câmara, formado em design industrial, acabou no comando
da Suzuki no Brasil mais por
conta de seu interesse pelo automobilismo do que pela experiência no setor.
A seguir, os principais trechos da entrevista concedida à
Folha.
FOLHA - As vendas de veículos já
começaram a se desacelerar. Isso
não é motivo de preocupação, em
um momento em que o sr. quer disputar o mercado no país?
ALEXANDRE CÂMARA - Fala-se
muito nisso, mas o mercado de
veículos não se desacelerou
ainda. Se você olhar para o número deste mês, verá uma estabilidade. Vamos ter um quadro
mais claro daqui a dois ou três
meses. O importante é que o
mercado está muito consolidado, especialmente por conta do
crédito. Não vemos catástrofe.
FOLHA - Como o sr. vê a valorização
do dólar, já que foi justamente esse
o problema que tirou a Suzuki do
mercado, em 2003?
CÂMARA - Nós não teremos
uma terceira oportunidade no
Brasil. Desta vez, voltamos para
ficar. E não viemos por causa
do câmbio. O mercado de SUVs
[utilitários esportivos] é um
dos que mais crescem. E a Suzuki tem esse produto. O Grand
Vitara [que será lançado no
país em outubro] é um dos
SUVs mais vendidos no mundo. A indústria automotiva está
trazendo uma série de modelos
novos. Esse é o momento para a
Suzuki retomar suas operações.
FOLHA - O sr. teme que o aprofundamento da crise nos mercados
mundiais possa afetar o Brasil de
forma mais aguda?
CÂMARA - Olha, dirijo empresas já há 20 anos. O empresariado está acostumado com
turbulências, e essa não é a primeira crise. Estamos vivendo
um momento em que o mercado está nervoso. Mas o Brasil
está mais sólido. É claro que esse abalo que se passa no mundo
será sentido aqui. Quando uma
economia como a norte-americana balança, sempre haverá
um respingo. Mas esse balanço
não será sentido tão fortemente aqui.
FOLHA - Como foi a negociação
com os japoneses para a Suzuki voltar para o país?
CÂMARA - A Suzuki ficou no
Brasil de 1992 a 2003. Eles estavam buscando um parceiro
para voltar ao Brasil, que é o
sexto maior mercado de veículos do mundo. É um mercado
pelo qual todos se interessam.
A Suzuki está bem consolidada
no mundo. A empresa conseguiu escapar da crise que bateu
em outras grandes montadoras. Ela está bem posicionada,
com um plano forte de expansão. No ano passado, as vendas
cresceram 7% na Europa e 16%
nos Estados Unidos.
FOLHA - Qual é o investimento para a abertura das operações?
CÂMARA - Não divulgamos o valor dos investimentos. Mas já
estamos trabalhando nisso há
um ano. Atuamos como uma
importadora. O investimento
na distribuição ficará por conta
dos concessionários. Nosso papel é investir em marketing e
na importação e nacionalização
dos carros. Estamos montando
um centro de distribuição em
Goiás, onde será nossa base. É
lá que vamos receber os carros
e adaptá-los para as normas
brasileiras.
FOLHA - O sr. presidia a Uncle K,
empresa do setor de acessórios femininos. Como é a transição do mercado de moda para o automotivo?
CÂMARA - Toquei a Uncle K por
12 anos. Sempre fui empreendedor, tive outros negócios, como gráfica e fábrica de móveis,
geralmente ligados a design.
Recebi o convite do Eduardo
[Souza Ramos, acionista da Suzuki] para trabalhar na operação brasileira da montadora.
Sou um apaixonado por carros.
Nós nos aproximamos por conta do interesse por automobilismo, que pratico desde moleque. Sei que o setor automotivo
é mais complexo do que o mercado de moda, porque envolve
vários aspectos, como questões
ambientais. Ainda assim, olho
muito para o produto, gosto de
pensar na estratégia de comercialização. E, aí, o princípio é o
mesmo.
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