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Melhorar qualidade e reduzir as perdas são vantagens às empresas
Menor sofrimento dos rebanhos ajuda a cortar gastos com acidentes e doenças e melhora a carne
ENVIADAS ESPECIAIS A CHAPECÓ (SC)
A conversão dos agroexecutivos à crença na "qualidade ética
da carne" tem explicações bem
materiais. Segundo Sergio
Trentinaglia, 54, gerente industrial da Bondio Alimentos,
um dos gigantes no abate de
frangos de Santa Catarina, o
trabalho conjunto da WSPA e
da indústria permitiu "reduzir
perdas e melhorar o produto".
"Os suínos são animais que a
cultura da pecuária tradicional
acha que podem sofrer as mais
bárbaras torturas. É uma rotina
de pauladas, marretadas, fraturas e hematomas", afirma Luciana Duarte Nomura Debona,
38, veterinária do Serviço de
Inspeção Municipal de Chapecó, que cuida dos pequenos
abatedouros da cidade, locais
onde ainda é praticado o abate
de suínos na base da marretada,
um método considerado cruel.
É uma realidade bem diferente da encontrada no frigorífico Aurora, modelo positivo de
linha de produção e, não por
acaso, escolhido pelo Ministério da Agricultura para ser a vitrine nacional que será avaliada
pelos auditores europeus.
A totalidade dos animais abatidos no Aurora recebe eletrochoques com o objetivo de insensibilizá-los antes da sangria.
Já é uma garantia de redução
de sofrimento. Mas as normas
vigentes desde 2000 no Brasil
(instrução normativa nº 3 do
Ministério da Agricultura) e os
mercados a conquistar estão
exigindo mais.
Redução do tempo de viagem
até o abatedouro, manejo com
mínimo de excitação e desconforto, período curto de jejum
pré-abate e local adequado de
descanso passaram a ser também escrutinados, a fim de reduzir os fatores geradores de
estresse, ferimentos e fraturas.
Há um ano, a Bondio construiu um galpão para receber os
caminhões com carregamento
de frangos para abate. Comprou uma briga com os motoristas ao obrigá-los a parar em
determinada posição -aves na
sombra, cabine do motorista no
sol. Instalou nebulizadores para refrescar as penosas, cansadas da viagem. Obrigou os
transportadores a comprar caixas novas. Construiu uma esteira rolante, como a de aeroportos, para que as aves não se
machucassem com movimentos bruscos. Mordomia?
O gerente industrial da Bondio se lembra de como era antes: caixas mal fechadas permitiam que as aves colocassem as
cabeças para fora. Um movimento mais brusco do caminhão e a caixa de cima degolava
a curiosa. Hipertermia, em casos extremos, podia dizimar toda a carga antes que ela chegasse ao abate. As perdas por contusões e fraturas atingiam até
10% dos peitos e das asas.
Nos porcos, o sofrimento
derruba o valor da carne, que,
em vez da consistência normal,
fica mole. O tom vermelho empalidece. Perde a capacidade de
reter líquidos. Fica seca. É o estresse, a dor e a carga genética
que geram esse quadro, chamado de PSE (na sigla em inglês).
Os bois sofrem mais comumente de outra doença, a chamada DFD. A carne fica dura,
escura, seca. Na feira livre, até
passa. Nunca em mercados seletos, como o europeu.
No treinamento feito no Aurora, os instrutores da WSPA
flagraram dois animais sendo
sangrados sem o grau de insensibilização correto. Explica-se:
às vezes o animal se movimenta
e o choque não é aplicado no local exato. Cai na esteira de sangria ainda consciente. "Qual o
percentual admitido de falha
na insensibilização?", pergunta
a supervisora da WSPA Juliana
Andrade Vilela, à turma de alunos. Silêncio. Ela mesma responde: "Zeeeeeeero".
No dia seguinte, o operador
de sangria já tinha uma pinça
portátil de eletrochoque -nova
em folha- para completar o
serviço. Agora, sim.
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