São Paulo, domingo, 27 de outubro de 2002

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SALTO NO ESCURO

Nível da represa de Sobradinho estava em 17,1% no dia 23; na mesma data, em 2000, era de 23,6%

Seca no Nordeste chega ao nível pré-apagão

Ivan Cruz - 03.out.02/ "A Tarde"
Reservatório da Companhia Hidrelétrica do São Francisco na barragem de Sobradinho, na Bahia


FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM RECIFE

As principais barragens do Nordeste destinadas à geração de energia elétrica estão com os níveis abaixo dos registrados no mesmo período de 2000, época do "pré-apagão" no país.
Há dois anos, no final de outubro, as represas da região estavam, em média, com 29,5% da capacidade de armazenamento. No último dia 23, essa média era de 27,3%. Até o dia 31, esse percentual deverá cair para 24,4%, segundo a Chesf (Companhia Hidrelétrica do São Francisco).
O nível da represa de Sobradinho, maior da região, com capacidade para armazenar 28,7 bilhões de metros cúbicos de água, estava em 17,1% no dia 23. Na mesma data, em 2000, era de 23,6%.
Os níveis das barragens em outubro de 2000 não eram considerados excelentes, mas, como ocorrera em anos anteriores, seriam suficientes para manter o fornecimento normal de energia, se chovesse entre novembro daquele ano e maio de 2001.
O período, porém, foi de seca severa no Nordeste e no norte de Minas Gerais, onde está a cabeceira do rio São Francisco, principal fonte geradora de energia para a região. Com pouca água nos reservatórios, o governo instituiu o racionamento, em junho.
O racionamento só acabou em meados do primeiro semestre deste ano, quando as chuvas elevaram os níveis médios das represas acima de 50%, percentual considerado seguro pelo governo.
Para o próximo ano dificilmente o racionamento se repetirá, segundo os técnicos ouvidos, em razão de medidas emergenciais adotadas, como a instalação de usinas térmicas com capacidade para gerar 2.155 MW, o equivalente a pouco mais de um terço da atual demanda do Nordeste.
"Os reservatórios podem estar abaixo [no Nordeste", mas o cenário futuro é bem melhor hoje do que o verificado em 2000", disse Roberto Pereira D'Araújo, diretor da ONG Instituto de Desenvolvimento do Setor Elétrico.
Mas existe um risco: se a seca voltar a se manifestar com grande intensidade, o consumidor poderá ser obrigado a pagar mais para não sofrer um apagão. O eventual acionamento das térmicas implicará em um custo adicional que será repassado às contas de luz.
O valor eventualmente a ser pago depende, entre outras coisas, da quantidade de energia extra a ser gerada. Só para manter as usinas paradas, em prontidão, quem gasta mais de 350 KW/h por mês já é obrigado a pagar R$ 0,0057 por KW/h -o equivalente a cerca de R$ 2,00 em um consumo hipotético de 350 KW/h.
O próximo período chuvoso no Nordeste começa em novembro. As primeiras regiões beneficiadas devem ser o sul do Piauí e do Maranhão, além do oeste da Bahia.
O Instituto Nacional de Meteorologia em Recife, porém, alerta para uma possível manifestação do El Niño, fenômeno de aquecimento das águas do oceano Pacífico na altura da costa peruana. O El Niño acentua a seca no Nordeste e as chuvas no Sul.
Segundo o chefe de previsão do tempo do instituto, Ednaldo Correia de Araújo, a tendência é de que haja "ligeira redução" das chuvas pelo menos até o final do ano. Só em dezembro, disse ele, será possível fazer um prognóstico para os meses seguintes.
O ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) monitora os níveis das represas comparando-os com o que chama de "curvas de segurança" -limites mínimos estabelecidos mensalmente. Quanto mais próximo estiver o nível da represa em relação à curva, maior é o risco de colapso.
Para este mês, a "curva de segurança" aponta um limite de 6%. No ano passado, em pleno racionamento, o nível médio das represas nordestinas era de 8,15%, no dia 23 de outubro.
A situação atual é aparentemente confortável. Mas, assim como aconteceu em 2000, tudo depende das chuvas. A "curva de segurança" para janeiro de 2003 é de 17%. A Chesf prevê que, em meados de novembro, os reservatórios estarão, em média, com 20% de suas capacidades.


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