São Paulo, domingo, 27 de outubro de 2002

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ENERGIA

Para a entidade, aumento da oferta de eletricidade também deve contribuir

Consumo mais baixo deverá evitar racionamento, diz ONS

HUMBERTO MEDINA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

RANIER BRAGON
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

Redução espontânea no consumo de energia após o racionamento, maior capacidade de geração termelétrica e mais linhas de transmissão são fatores que vão compensar o nível mais baixo dos reservatórios e manter o abastecimento de energia no Nordeste em 2003, segundo o ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico).
Ao fim do racionamento, técnicos do setor esperavam consumo 7% menor em relação ao que era previsto antes do racionamento. No acumulado do ano, a redução está em aproximadamente 12%.
Em outubro de 2000, antes do racionamento, a carga (consumo de energia) no Nordeste foi de 6.149 MW médios. Neste ano, a previsão é fechar o mês com 5.989 MW médios -2,6% menor. Em novembro de 2000, o consumo era de 6.221 MW médios e, para novembro deste ano, a previsão é 6.048 MW médios.
A redução de consumo se deveu a hábitos de economia adquiridos durante o período do racionamento. Para cumprir as metas, a indústria também substituiu equipamentos por modelos que gastam menos energia.
Também para a ONG Ilumina (Instituto de Desenvolvimento do Setor Elétrico), a redução do consumo é um fator preponderante para a melhora no quadro tanto no Nordeste quanto no Sudeste.
"A garantia quem está dando mesmo é o mercado, que caiu para níveis de 1999 [o consumo de energia". É como se tivéssemos voltado no tempo, para 1999, é uma diferença de mais ou menos 15% entre o que nós deveríamos estar consumindo [de acordo com a previsão pré-racionamento" e o que estamos consumindo", disse Roberto Pereira D'Araújo, diretor da ONG.
Segundo ele, três motivos contribuíram para o menor consumo: a recessão econômica, os efeitos educativos do racionamento e o preço da energia. "A partir de um certo nível de preço, as pessoas começam a cortar consumo", afirmou.

Mais energia
Em todo o país, de acordo com o ONS, serão incluídos cerca de 7.000 MW de capacidade instalada de produção de energia neste ano, aumentando para 75.370 MW a capacidade total do país (incluindo apenas o Sistema Nacional Interligado).
Durante o ano de 2003, o ONS espera que a região Nordeste tenha aumentado a sua capacidade de geração que não depende de água em 2.750 MW. Desses, 900 MW viriam de usinas termelétricas do programa prioritário (PPT), 1.450 MW de usinas termelétricas emergenciais e 400 MW de energia eólica.
O ONS espera também poder contar com mais energia vinda das regiões Sudeste, Centro-Oeste e Norte para o Nordeste. Atualmente, a capacidade de transmissão de energia é de aproximadamente 1.000 MW, podendo chegar a 1.300 MW em condições "estressadas" -nas quais o sistema opera com mais risco de falha.
No final deste ano, o ONS conta com a entrada em funcionamento de uma linha de transmissão ligando a usina de Serra da Mesa (GO) à Bahia. Em 2003, deverá ser inaugurada mais uma linha ligando a hidrelétrica de Tucuruí (PA) ao Nordeste.
No total, as linhas de transmissão vão aumentar em 1.200 MW a capacidade de energia que pode ser transmitida de outras regiões para o Nordeste.
O ONS ainda não sabe se será ou não necessário usar as termelétricas emergenciais -que geram energia a um custo muito alto- para garantir o abastecimento do Nordeste em 2003.
A avaliação nesse momento seria prematura, porque a época é de transição entre o período seco e o de chuvas.

Racionamento
Por esses motivos -diminuição de consumo, aumento de energia disponível e de linhas de transmissão-, a direção do ONS considera mínima a chance de racionamento de energia no próximo ano mesmo com os reservatórios que abastecem o Nordeste apresentando níveis mais baixos de acúmulo de água do que o verificado em outubro de 2000, época do pré-racionamento.

Em outras palavras, em outubro de 2000 os reservatórios que abastecem o Nordeste estavam mais cheios, mas as condições estruturais e o consumo verificado na época não permitiram que a região suportasse, sem o racionamento, a forte seca de 2001.
Segundo o ONS, a região apresentava na quinta-feira 26,8% da capacidade total de armazenamento de volume de água útil, 19,8 pontos percentuais acima do limite de segurança, que é quando as usinas térmicas de emergência teriam que ser acionadas.
Tanto o ONS quanto a Ilumina afirmam que o risco de racionamento só surgirá se ocorrer, nos próximos meses, uma seca muito mais forte do que a que resultou no racionamento iniciado no ano passado.
Em relação aos baixos níveis de água nos reservatórios que abastecem a região Norte, o ONS informou que o volume de água do reservatório de Tucuruí, que representa 57,4% da capacidade total da região, foi reduzido devido às obras de duplicação da capacidade de geração de energia da hidrelétrica que, segundo a ONS, deve ter um acréscimo de 4.125 MW até 2006.


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