São Paulo, domingo, 27 de outubro de 2002

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ENERGIA

Empresas terão de honrar acordos do racionamento e ainda pagar mais R$ 600 milhões com correção por IGP-M

Herança do apagão suga R$ 4 bi de geradoras

SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL

A capacidade de investimento das geradoras de energia deverá diminuir no próximo ano, em consequência de um processo de transferência de recursos entre o setor que pune as empresas estatais, principalmente as do sistema Eletrobrás. Especialistas do setor estimam que a sangria chegue a quase R$ 5 bilhões (leia quadro).
Até o dia 22 de novembro as geradoras terão de pagar R$ 2,2 bilhões referentes à compra da chamada "energia livre" comercializada no MAE (Mercado Atacadista de Energia Elétrica).
Esse valor corresponde ao período compreendido entre setembro de 2000 e fevereiro deste ano, segundo estimativa do vice-presidente da Abrage (Associação Brasileira das Grandes Empresas Geradoras de Energia Elétrica), Silvio Areco. "Esse é o saldo líquido das transações, a diferença entre o que as geradoras têm a receber e a pagar no MAE", diz Areco.
O dinheiro será transferido aos chamados "geradores livres", as empresas que tinham sobra de energia durante o racionamento e a repassaram às grandes geradoras que eram deficitárias. Estão entre elas a belga Tractebel, as geradoras independentes, como a CSN, algumas termelétricas -todas privadas- e as estatais Furnas, Cesp e Angra 2.
Também naquela data as geradoras têm de liquidar outra fatura, estimada entre R$ 1,8 bilhão e R$ 2 bilhões por diretores de empresas e analistas de mercado ouvidos pela Folha. Esse é o total de recursos que as geradoras -80% delas estatais- pagarão às distribuidoras -85% das quais privatizadas- pela recompra de energia após o fim do racionamento.
Segundo Areco, o Acordo Geral do Setor, fechado no final do ano passado e transformado em lei (nš 10.438 de 26/04/2002), prevê que de março a dezembro deste ano as geradoras recomprem a energia contratada pelas distribuidoras, nos chamados contratos iniciais firmados na privatização, que não chegar a ser consumida.
Como após o racionamento o consumo nacional caiu em média 12%, as geradoras estão comprando, mensalmente, o equivalente a esse percentual de seus clientes. Detalhe: quando vendem a energia, as geradoras cobram em média R$ 50 o megawatt-hora; ao recomprar as sobras, pagam R$ 73.
Segundo Sérgio Tanashiro, analista do setor elétrico do Unibanco, "a recompra provocou perda de receitas para as geradoras em 2002". Ele calcula que, para recuperar essa perda, as geradoras teriam de aumentar em 7% seus preços no próximo ano. "Se não houver o repasse para os preços, as geradoras serão prejudicadas em sua capacidade de investimento no ano que vem."

Mordidas
Na última semana, as receitas das geradoras sofreram novas e violentas mordidas. A Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), organismo regulador do setor, determinou que os débitos das empresas no MAE sejam corrigidos pelo IGP-M.
Segundo estimativas de dirigentes de empresas, haveria uma transferência extra de recursos das grandes geradoras para as distribuidoras e "geradores livres" de cerca de R$ 600 milhões com a correção (leia texto abaixo).
Outra dentada foi desferida contra a Eletrobrás, na quarta-feira. O governo decidiu antecipar a redução de 15% no preço da energia fornecida por Itaipu às distribuidoras das regiões Sul e Sudeste, prevista para janeiro, e jogar a conta no cofre da Eletrobrás.
Segundo estimativa de Tanashiro, com base em informações fornecidas pela empresa, a fatura é de R$ 100 milhões mensais. Neste ano, ela teria esse desembolso nos meses de novembro e dezembro.
Mas em 2003 a conta será salgada: segundo analistas, a Eletrobrás deixará de receber R$ 1,2 bilhão com a redução da tarifa de Itaipu. "Ela tem 50% do capital da binacional e é sua principal credora, pois foi quem financiou a construção da hidrelétrica", diz Marcos Brandão, analista da Fator Doria Atherino.


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