São Paulo, sábado, 27 de outubro de 2007

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Google quer expandir publicidade móvel

Intenção da empresa ao lançar o Google Phone não seria concorrer com o iPhone, da Apple, mas ampliar seu mercado

Operadoras devem receber friamente as abordagens do Google, já que realizaram investimentos na criação de portais próprios na internet

MIGUEL HELFT
DO "NEW YORK TIMES", EM SAN FRANCISCO

Há mais de dois anos, um grande grupo de engenheiros do Google está trabalhando sigilosamente em um projeto de telefonia móvel. À medida que surgiam as primeiras informações sobre seus esforços, o mundo da tecnologia começou a discutir expectativas quanto ao "Google Phone", ou GPhone, da mesma forma que costuma acontecer entre os leais seguidores da Apple antes de um discurso de Steven Jobs.
Mas não é provável que o GPhone venha a representar um segundo advento do iPhone, e os objetivos do Google diferem bastante dos da Apple.
O Google deseja expandir seu domínio do mercado de publicidade on-line à internet móvel, que no momento representa um mercado pequeno, mas que deve crescer rapidamente.
A esperança da empresa é persuadir as operadoras de telefonia móvel e os fabricantes de celulares a oferecer aparelhos que usem seu software, segundo pessoas informadas sobre o projeto. O custo desses aparelhos pode ser parcialmente subsidiado pela publicidade que exibirão em suas telas.
O Google deve revelar os frutos de seus esforços no ramo de telefonia móvel ainda neste ano, e celulares que empregam sua tecnologia podem chegar ao mercado já no ano que vem.

Concorrência
Alguns analistas dizem que, ao menos inicialmente, o efeito do projeto do Google sobre o mercado de telefonia móvel provavelmente não será tão profundo quanto o do iPhone, cuja aparência e recursos revolucionários redefiniram as expectativas dos consumidores quanto aos celulares.
"O iPhone foi um marco em termos de como as pessoas empregam um aparelho móvel", disse Karstein Weide, analista da IDC. "O GPhone, se for lançado, ajudaria o Google na distribuição de seus serviços de internet."
O cerne dos esforços de telefonia do Google é um sistema operacional para celulares que se baseará no sistema operacional de fonte aberta Linux, de acordo com executivos do setor que conhecem o projeto.
Além disso, o Google deve desenvolver versões móveis de seus aplicativos que irão bem além das buscas e mapas que a empresa oferece no momento.
Esses aplicativos podem incluir um browser para celulares.
Embora o Google tenha construído protótipos de celulares para testar seu software e exibir a tecnologia que está desenvolvendo aos fabricantes, a empresa provavelmente não vai fabricar aparelhos, de acordo com analistas.
Em resumo, o Google não está desenvolvendo um aparelho para concorrer com o iPhone, mas sim desenvolvendo software que representará alternativa ao Windows Mobile, da Microsoft, e a outros sistemas operacionais, que acionam os celulares vendidos por muitos fabricantes. E, ao contrário da Microsoft, o Google não deve cobrar uma taxa de licença dos fabricantes de celulares que desejem utilizar o seu software.
"A estratégia do Google é comandar a criação de um concorrente de fonte aberta para o Windows Mobile", disse uma fonte do setor.
Alguns observadores acreditam que outro objetivo importante do projeto do celular seja relaxar o controle das operadoras de telefonia móvel sobre o software e serviços oferecidos em suas redes.
"A agenda do Google é desagregar as operadoras", disse Dan Olschwang, presidente-executivo da JumpTap, uma empresa iniciante que oferece serviços de busca e publicidade a diversas operadoras de telefonia móvel.
O Google não quis comentar sobre detalhes específicos de sua iniciativa no ramo da telefonia móvel. Mas o presidente-executivo da empresa, Eric Schmidt, disse diversas vezes que o mercado de celulares representava a maior oportunidade de crescimento, para o Google. "Temos grande investimento em celulares e em uma plataforma de aplicativos para celulares", ele afirmou em entrevista neste ano.
Analistas dizem que o Google, que tem pouca experiência com hardware complexo, enfrentará desafios significativos.
"Dirigir um site e um serviço de buscas é uma coisa", disse Weide, da IDC "Mas desenvolver um celular é assunto completamente diferente." Algumas operadoras, especialmente nos Estados Unidos, provavelmente receberão as abordagens do Google de maneira fria. Empresas como a Verizon Wireless e a AT&T investiram bilhões de dólares na construção e atualização de suas redes, no estabelecimento de relacionamentos com clientes, no subsídio à venda de celulares e na criação de portais próprios de Internet. Agora, querem garantir que esses investimentos dêem retorno, parcialmente por meio da publicidade em celulares, e vêem o Google e outros serviços de busca como concorrentes.
Como resultado, a maior parte das operadoras norte-americanas optou por rejeitar as abordagens dos grandes serviços de busca, por enquanto. Em lugar disso, elas promovem sistemas de busca e sistemas publicitários de pequenas empresas como a JumpTap e a Médio Systems, cujos serviços elas adotam sob suas marcas.

Lobby
O desejo do Google de afrouxar o controle das operadoras de telefonia móvel sobre suas redes não é de forma alguma um segredo. A empresa recentemente conduziu um esforço de lobby junto à Federal Communications Commission (FCC) pela imposição de regras a qualquer operadora que vença leilões e conquiste o direito de explorar preciosas freqüências no espectro de comunicação sem fio. As regras, que a FCC adotou a despeito da oposição da Verizon e de outras empresas, exigem que uma operadora que empregue qualquer porção do espectro abra suas redes a qualquer aparelho e a qualquer aplicativo, oferecidos por qualquer empresa.
O Google anunciou que está considerando fazer lances por algumas freqüências de comunicação sem fio. O lobby do Google, bem como seu trabalho em uma plataforma de software para celulares que estaria aberta a outros aplicativos, representa um esforço para levar à Internet móvel a dinâmica da Internet voltada aos computadores pessoais, que está livre de qualquer controle pelas operadoras.
O projeto do celular do Google foi construído em parte em torno da Android, uma pequena empresa de software para aparelhos móveis adquirida pelo grupo em 2005.
Alguns analistas dizem que não há garantias de que o Google será capaz de reproduzir no mundo da telefonia móvel o sucesso que teve na Internet. "O mercado de telefonia sem fio não oferece a mesma escala mundial e a mesma eficiência gerada pelo tamanho, e tampouco a falta de fricção na transição, que caracterizam o software na Internet", disse Scott Cleland, analista do setor de telecomunicações. "Trata-se de um mundo completamente diferente e de um conjunto completamente distinto de fatores econômicos", afirmou.
A Microsoft, cujo sistema operacional para celulares está no mercado há anos, tem acordos de distribuição com 48 fabricantes de celulares e 160 operadoras de telefonia móvel em todo o mundo. Ainda assim, apenas 12 milhões dos celulares vendidos este ano sairão equipados com software Microsoft, o que dá à empresa 10% de participação no mercado de celulares inteligentes, de acordo com a IDC.
A Microsoft preferiu não comentar sobre a potencial concorrência do Google. "O mercado é imenso, e nossos parceiros estão realmente motivados a levar celulares Windows Móbile aos consumidores", disse Doug Smith, diretor de marketing da divisão de comunicações móveis da Microsoft.


Tradução PAULO MIGLIACCI


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