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Google quer expandir publicidade móvel
Intenção da empresa ao lançar o Google Phone não seria concorrer com o iPhone, da Apple, mas ampliar seu mercado
Operadoras devem receber friamente as abordagens do Google, já que realizaram investimentos na criação de portais próprios na internet
MIGUEL HELFT
DO "NEW YORK TIMES", EM SAN FRANCISCO
Há mais de dois anos, um
grande grupo de engenheiros
do Google está trabalhando sigilosamente em um projeto de
telefonia móvel. À medida que
surgiam as primeiras informações sobre seus esforços, o
mundo da tecnologia começou
a discutir expectativas quanto
ao "Google Phone", ou GPhone,
da mesma forma que costuma
acontecer entre os leais seguidores da Apple antes de um discurso de Steven Jobs.
Mas não é provável que o
GPhone venha a representar
um segundo advento do iPhone, e os objetivos do Google diferem bastante dos da Apple.
O Google deseja expandir seu
domínio do mercado de publicidade on-line à internet móvel, que no momento representa um mercado pequeno, mas
que deve crescer rapidamente.
A esperança da empresa é persuadir as operadoras de telefonia móvel e os fabricantes de
celulares a oferecer aparelhos
que usem seu software, segundo pessoas informadas sobre o
projeto. O custo desses aparelhos pode ser parcialmente
subsidiado pela publicidade
que exibirão em suas telas.
O Google deve revelar os frutos de seus esforços no ramo de
telefonia móvel ainda neste
ano, e celulares que empregam
sua tecnologia podem chegar
ao mercado já no ano que vem.
Concorrência
Alguns analistas dizem que,
ao menos inicialmente, o efeito
do projeto do Google sobre o
mercado de telefonia móvel
provavelmente não será tão
profundo quanto o do iPhone,
cuja aparência e recursos revolucionários redefiniram as expectativas dos consumidores
quanto aos celulares.
"O iPhone foi um marco em
termos de como as pessoas empregam um aparelho móvel",
disse Karstein Weide, analista
da IDC. "O GPhone, se for lançado, ajudaria o Google na distribuição de seus serviços de internet."
O cerne dos esforços de telefonia do Google é um sistema
operacional para celulares que
se baseará no sistema operacional de fonte aberta Linux, de
acordo com executivos do setor
que conhecem o projeto.
Além disso, o Google deve desenvolver versões móveis de
seus aplicativos que irão bem
além das buscas e mapas que a
empresa oferece no momento.
Esses aplicativos podem incluir
um browser para celulares.
Embora o Google tenha
construído protótipos de celulares para testar seu software e
exibir a tecnologia que está desenvolvendo aos fabricantes, a
empresa provavelmente não
vai fabricar aparelhos, de acordo com analistas.
Em resumo, o Google não está desenvolvendo um aparelho
para concorrer com o iPhone,
mas sim desenvolvendo software que representará alternativa ao Windows Mobile, da
Microsoft, e a outros sistemas
operacionais, que acionam os
celulares vendidos por muitos
fabricantes. E, ao contrário da
Microsoft, o Google não deve
cobrar uma taxa de licença dos
fabricantes de celulares que desejem utilizar o seu software.
"A estratégia do Google é comandar a criação de um concorrente de fonte aberta para o
Windows Mobile", disse uma
fonte do setor.
Alguns observadores acreditam que outro objetivo importante do projeto do celular seja
relaxar o controle das operadoras de telefonia móvel sobre o
software e serviços oferecidos
em suas redes.
"A agenda do Google é desagregar as operadoras", disse
Dan Olschwang, presidente-executivo da JumpTap, uma
empresa iniciante que oferece
serviços de busca e publicidade
a diversas operadoras de telefonia móvel.
O Google não quis comentar
sobre detalhes específicos de
sua iniciativa no ramo da telefonia móvel. Mas o presidente-executivo da empresa, Eric
Schmidt, disse diversas vezes
que o mercado de celulares representava a maior oportunidade de crescimento, para o
Google. "Temos grande investimento em celulares e em uma
plataforma de aplicativos para
celulares", ele afirmou em entrevista neste ano.
Analistas dizem que o Google, que tem pouca experiência
com hardware complexo, enfrentará desafios significativos.
"Dirigir um site e um serviço
de buscas é uma coisa", disse
Weide, da IDC "Mas desenvolver um celular é assunto completamente diferente."
Algumas operadoras, especialmente nos Estados Unidos,
provavelmente receberão as
abordagens do Google de maneira fria. Empresas como a
Verizon Wireless e a AT&T investiram bilhões de dólares na
construção e atualização de
suas redes, no estabelecimento
de relacionamentos com clientes, no subsídio à venda de celulares e na criação de portais
próprios de Internet. Agora,
querem garantir que esses investimentos dêem retorno,
parcialmente por meio da publicidade em celulares, e vêem
o Google e outros serviços de
busca como concorrentes.
Como resultado, a maior parte das operadoras norte-americanas optou por rejeitar as
abordagens dos grandes serviços de busca, por enquanto. Em
lugar disso, elas promovem sistemas de busca e sistemas publicitários de pequenas empresas como a JumpTap e a Médio
Systems, cujos serviços elas
adotam sob suas marcas.
Lobby
O desejo do Google de afrouxar o controle das operadoras
de telefonia móvel sobre suas
redes não é de forma alguma
um segredo. A empresa recentemente conduziu um esforço
de lobby junto à Federal Communications Commission
(FCC) pela imposição de regras
a qualquer operadora que vença leilões e conquiste o direito
de explorar preciosas freqüências no espectro de comunicação sem fio. As regras, que a
FCC adotou a despeito da oposição da Verizon e de outras
empresas, exigem que uma
operadora que empregue qualquer porção do espectro abra
suas redes a qualquer aparelho
e a qualquer aplicativo, oferecidos por qualquer empresa.
O Google anunciou que está
considerando fazer lances por
algumas freqüências de comunicação sem fio.
O lobby do Google, bem como seu trabalho em uma plataforma de software para celulares que estaria aberta a outros
aplicativos, representa um esforço para levar à Internet móvel a dinâmica da Internet voltada aos computadores pessoais, que está livre de qualquer
controle pelas operadoras.
O projeto do celular do Google foi construído em parte em
torno da Android, uma pequena empresa de software para
aparelhos móveis adquirida pelo grupo em 2005.
Alguns analistas dizem que
não há garantias de que o Google será capaz de reproduzir no
mundo da telefonia móvel o sucesso que teve na Internet.
"O mercado de telefonia sem
fio não oferece a mesma escala
mundial e a mesma eficiência
gerada pelo tamanho, e tampouco a falta de fricção na transição, que caracterizam o software na Internet", disse Scott
Cleland, analista do setor de telecomunicações. "Trata-se de
um mundo completamente diferente e de um conjunto completamente distinto de fatores
econômicos", afirmou.
A Microsoft, cujo sistema
operacional para celulares está
no mercado há anos, tem acordos de distribuição com 48 fabricantes de celulares e 160
operadoras de telefonia móvel
em todo o mundo. Ainda assim,
apenas 12 milhões dos celulares vendidos este ano sairão
equipados com software Microsoft, o que dá à empresa 10%
de participação no mercado de
celulares inteligentes, de acordo com a IDC.
A Microsoft preferiu não comentar sobre a potencial concorrência do Google. "O mercado é imenso, e nossos parceiros
estão realmente motivados a
levar celulares Windows Móbile aos consumidores", disse
Doug Smith, diretor de marketing da divisão de comunicações móveis da Microsoft.
Tradução PAULO MIGLIACCI
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