São Paulo, segunda-feira, 27 de outubro de 2008

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Ninguém quer estatizar banco, diz Lula

Presidente se reúne hoje com Meirelles e Mantega em SP para definir quais os setores que mais precisam de socorro

Lula volta a atacar empresas que praticaram "fraude" financeira, mas diz que governo irrigará o crédito para reforçar a economia

Eduardo Anizelli/Folha Imagem
O presidente Lula após votar em escola de São Bernardo do Campo, ontem; ele defendeu o 'modelo britânico' de ajuda aos bancos

LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

Apesar de afirmar que o Brasil não estatizará bancos nem dará dinheiro público aos que "apostaram em ganhar dinheiro fácil", o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem que não faltará crédito para socorrer instituições financeiras nem outros setores, como construção civil e pequenas indústrias.
"Ninguém pretende estatizar banco. Agora, ninguém vai dar dinheiro para banco. Portanto, ou nós emprestamos com garantia, e uma das garantias pode ser o que está sendo feito pela Inglaterra e por outros países, pode ser aquilo que o presidente [francês, Nicolas] Sarkozy propôs, em vez de dar dinheiro para banco, sem garantia, você compra ações daquele banco e, na hora que aquele banco se recuperar, você vende as ações para o mesmo banco", afirmou Lula após votar em São Bernardo do Campo.
O governo editou uma medida provisória na semana passada que permite aos estatais Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal adquirir instituições financeiras sem licitação e mesmo empresas de outros setores abaladas pela crise econômica global.
Alguns bancos brasileiros de menor porte estão com dificuldades de fechar o caixa por causa do congelamento do crédito e buscam compradores para seus ativos. Já empresas exportadoras revelam perdas com a disparada do dólar e com apostas erradas em instrumentos financeiros complexos.
O presidente disse que, em encontro previsto para hoje com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e com o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, serão definidos os setores que mais precisam de uma injeção de crédito.
"Estamos disponibilizando o crédito que falta no Brasil, seja diminuindo o compulsório e abrindo mão para que os bancos possam usar o compulsório, seja tomando cuidado para irrigar o crédito na construção civil, sobretudo, e nas pequenas indústrias", afirmou Lula.
Lula afirmou que as medidas não representam a estatização de instituições financeiras privadas nem investimento sem nenhuma garantia de retorno.
"O que não dá é para a gente dar dinheiro para bancos ou outras empresas que apostaram em ganhar dinheiro fácil, que transformaram a economia real em jogatina. Quiseram ganhar dinheiro sem produzir nenhum botão, nenhuma cabeça de alfinete. Obviamente que agora não vamos dar o dinheiro do Estado, que ganhamos com tanta delicadeza, com tanto carinho, para ajudar quem tentou praticar fraude no sistema financeiro", afirmou Lula.
Apesar da afirmação de Lula, o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, disse na sexta-feira que o banco de fomento estuda formas de ajudar exportadoras que tenham tido perdas com o câmbio no mercado financeiro.
Lula afirmou que reconhece a importância do setor financeiro: "Se for preciso irrigar o crédito, você pode ter certeza de que nós vamos irrigar porque queremos que a economia brasileira continue crescendo, para que o povo brasileiro tenha possibilidade de emprego e de consumir".

Exportações
Lula, que antes dissera que a crise seria só uma "marola" no Brasil, afirmou ontem que o país irá "sofrer menos" do que outros, pois diversificou suas relações comerciais.
"Um dado importante, admitido por todos, é que, se houver recessão, haverá problema de exportação em todo o mundo. Quando dizemos que o Brasil sofrerá menos é porque diversificou as relações comerciais. Não dependemos de um país. Se 50% de nossa relação comercial fosse com os EUA, sofreríamos mais, acontece que temos só 15%."
Segundo Lula, com a África e com a Argentina, a relação comercial, que era de US$ 4 bilhões e US$ 9 bilhões, respectivamente, passou hoje para US$ 20 bilhões e US$ 35 bilhões.
O presidente voltou a falar que nenhuma obra pública será paralisada. Ele elogiou a mineradora Vale do Rio Doce pela manutenção de investimentos.
"E outras empresas privadas não vão parar suas obras. A Petrobras não vai parar suas obras. Os investimentos estão garantidos da nossa parte. No setor da construção civil e em outros setores industriais, principalmente na pequena empresa, vamos cuidar do capital de giro para que possam funcionar."
Sobre o petróleo, cuja cotação caiu mais de 50% com o agravamento da crise, Lula disse que o produto não perdeu importância e que o anormal era o preço do barril a US$ 150. "Era especulação pura, e estamos vendo o resultado."


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