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Investidores processam empresas que tiveram perdas cambiais
Ações na Justiça prevêem até indenizações por dano moral em razão do "estresse" provocado por operações de risco de companhias como Aracruz e Sadia
CRISTIANE BARBIERI
DA REPORTAGEM LOCAL
As perdas das empresas com
operações financeiras cambiais
continuam a movimentar investidores, bancos e acionistas.
Em várias frentes, eles tentam
diminuir os prejuízos -ou garantir os ganhos, no caso das
instituições financeiras.
Na semana passada, os bancos obtiveram decisões favoráveis em ações impetradas por
duas empresas exportadoras,
que tentavam suspender os
prejuízos resultantes de operações financeiras cambiais. Ao
mesmo tempo, continua crescendo o número de reclamações de investidores individuais na CVM (Comissão de
Valores Mobiliários), contra
essas empresas.
Alguns desses investidores
começam, inclusive, a estruturar ações para pedir indenizações. O advogado Alexandre
Dantas Fronzaglia irá processar os controladores da Aracruz
e da Sadia, empresas que registraram as maiores perdas com
operações cambiais.
No caso da Aracruz, Fronzaglia processará VCP, Safra, família Lorentzen e BNDES.
Com relação à Sadia, ele espera
que a empresa se manifeste sobre seus principais acionistas.
"São os controladores quem
nomeiam conselheiros que, por
sua vez, escolhem administradores. Eles são os responsáveis,
em última instância, pela má
gestão", diz Fronzaglia. "Além
disso, houve desvio no objetivo
do estatuto social, que prevê a
produção de celulose e de frangos, e não especulação com derivativos financeiros."
O advogado aponta também
que a Aracruz contratou um escritório de advocacia para defender os administradores. "Ou
seja, estão usando o meu dinheiro para defender quem me
prejudicou", diz Fronzaglia.
Ele pedirá indenização baseado no valor de suas ações,
descontando a desvalorização
do Ibovespa (índice que mede o
valor médio dos papéis mais
negociados na Bolsa) nos últimos meses.
Fronzaglia também pretende pedir indenização por danos
morais, por conta do estresse
sofrido. Os R$ 300 mil que o advogado tinha aplicados tornaram-se R$ 50 mil.
"Você busca investir em empresas sólidas, com padrões de
governança, terras, fábricas,
plantações e, de uma hora para
outra, ela está quebrada, vítima
de mau gerenciamento", diz
Fronzaglia. "Não é possível que
fique por isso mesmo."
Do mesmo modo, outros investidores também estão procurando seus direitos. "Questionei a CVM se não havia uma
legislação que obrigasse as empresas a deixar bem claro as
operações que fazem e o risco
que representam para o investidor", afirma o engenheiro Renato Guimarães, de Campo
Grande (MS) que entrou com
uma reclamação na CVM contra a Sadia. "Como sou leigo, fui
perguntar a quem entende e
cuida do mercado, antes de tomar alguma outra providência,
como ir à Justiça."
A Aracruz tem exposição em
dólares de US$ 6,26 bilhões,
sendo que US$ 4,1 bilhões numa operação financeira na qual
a empresa tem de pagar em dobro a valorização do dólar. No
ano, a alta da moeda foi de 31%.
A fabricante de celulose tem
reunido-se com 13 bancos credores, mas as negociações não
chegaram a consenso.
As perspectivas parecem ficar mais difíceis para as empresas, quando começam a vir a
público decisões da Justiça favorecendo bancos. A fabricante
de calçados Daiby teve cassada
uma liminar, na qual pedia para
não ter de pagar ao HSBC perdas com a variação cambial. Na
suspensão da liminar, o relator
diz que o risco é a essência desse contrato.
Já a fabricante de equipamentos médicos Baumer impetrou ação com medida cautelar
contra o Santander, pleiteando
suspensão da cobrança de juros
de parcelas de uma operação de
derivativos. As parcelas, que
eram de R$ 20 mil, passaram
para R$ 150 mil em setembro e
R$ 310 mil, em outubro. A Justiça indeferiu o pedido porque
o contrato foi firmado de forma
livre entre as partes.
Tanto as empresas quanto os
bancos não responderam aos
pedidos de entrevista.
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