São Paulo, terça-feira, 27 de outubro de 2009

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Falta de asfalto paralisa obras do PAC no Nordeste

Petrobras, responsável pelo fornecimento, não atende demanda e importa produto

Mais investimentos em estradas no Nordeste por causa do PAC elevam procura pelo asfalto, e escassez atrasa cronograma


Marcelo Barroso - 8.jan.09/TN
Obras de duplicação da rodovia BR-101 próximas de Parnamirim, no Rio Grande do Norte; falta de asfalto atrasa o cronograma

ANNA CAROLINA CARDOSO
ESTELITA HASS CARAZZAI
DA AGÊNCIA FOLHA

A grande demanda por asfalto no Nordeste nos últimos dois meses provocou uma crise de abastecimento que prejudicou o ritmo de obras de pavimentação na região. Pelo menos quatro grandes obras em rodovias federais, incluindo duas do PAC, tiveram de ser paralisadas ou foram desaceleradas devido à falta do produto.
Nas últimas semanas, o presidente Lula criticou as fiscalizações do TCU (Tribunal de Contas da União) nas obras do PAC, atribuindo a elas a responsabilidade por um possível atraso no cronograma. Mas, no Nordeste, o atraso é atribuído a uma estatal, a Petrobras.
Os superintendentes regionais do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) dizem que, se o fornecimento do asfalto -de responsabilidade da Petrobras- não for normalizado em 30 dias, as obras podem sofrer alteração do cronograma e não ser entregues dentro do prazo.
Procurada pela Folha desde a sexta-feira, a Petrobras disse, via assessoria, que o diretor responsável pela área não poderia dar entrevista porque estava viajando e não indicou outra pessoa para comentar.
O aumento da demanda pelo asfalto, segundo as distribuidoras do produto e o Dnit, foi provocado pelo alto investimento em estradas no Nordeste neste ano -especialmente por causa do PAC, que concentrou 27% do seu gasto total com rodovias na região. A demanda explodiu a partir de setembro, quando as chuvas terminaram.
Por causa disso, a Petrobras -única produtora do CAP (Cimento Asfáltico de Petróleo), principal insumo do asfalto, no país- importou o produto pela primeira vez desde a década de 1960. Um navio da Espanha, com 7.000 toneladas de CAP, deve chegar nesta semana.
A quantidade importada equivale à metade da atual demanda semanal no Nordeste. Hoje, a empresa só oferece cerca de 6.000 toneladas de CAP por semana à região -a demanda é de 15 mil toneladas. Os dados são da Aneor (Associação Nacional das Empresas de Obras Rodoviárias).
No Ceará, todas as obras em rodovias federais, segundo o Dnit, estão em ritmo lento e inconstante. A restauração da BR-116, no trecho próximo a Fortaleza, ficou parada em 11 dos últimos 15 dias.
O superintendente do Dnit no Ceará, Joaquim Guedes Neto, estima prejuízo de R$ 23 mil por dia com as paradas. Receia que outras duas obras de pavimentação na BR-116, que deveriam começar em novembro, percam o prazo.
No Maranhão, a duplicação da BR-135 no acesso ao porto de Itaqui, considerada a obra mais importante do Estado, foi parada duas vezes no mês. Segundo o Dnit, o investimento recebeu só 1/3 do asfalto solicitado em outubro -com atraso.
Outra paralisação, de três dias, ocorreu no Piauí, na obra de recapeamento da BR-343, que vai de Teresina ao litoral.
A duplicação da BR-101 do RN à PB, outra obra do PAC com entrega prevista para dezembro, teve seu ritmo reduzido em 20%. O Dnit paraibano diz que o prazo corre riscos.
Para o presidente da Abeda (Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Asfalto), Eder Vianna, a falta de planejamento da demanda de asfalto pelo governo federal foi crucial para a escassez.
Segundo ele, governo e empreiteiras "não têm programação séria" e tendem a priorizar obras de pavimentação perto de anos eleitorais -que, segundo Vianna, sempre elevam a demanda por asfalto.
Para tentar readequar a distribuição do produto, Petrobras, Dnit, distribuidoras de asfalto e empreiteiras estão fazendo um levantamento para determinar qual será a demanda por CAP nos próximos três meses em cada Estado.
Como paliativo, a Petrobras tem remanejado o asfalto produzido no Sudeste para o Nordeste e arcado com 70% a 80% do custo adicional do transporte do produto, diz a Abeda.


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