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Justiça pode barrar Cade no setor financeiro
Superior Tribunal de Justiça pode impedir nesta semana que o conselho julgue fusões e aquisições entre instituições
Ação corre desde 2002, após Cade ter determinado a reversão da compra do BCN pelo Bradesco, negócio
já aprovado pelo BC
JULIO WIZIACK
DA REPORTAGEM LOCAL
Um processo que corre no
STJ (Superior Tribunal de Justiça) pode impedir que o Cade
(Conselho Administrativo de
Defesa Econômica) julgue operações de fusões e aquisições do
setor financeiro. A votação está
marcada para amanhã.
O processo já dura sete anos e
foi movido pelo Bradesco, que,
no final de 1997, comprou o
BCN por cerca de R$ 1 bilhão.
Em 2001, o Cade determinou
que a operação fosse desfeita,
porque os bancos não tinham
informado o conselho sobre o
negócio, aprovado pelo BC
(Banco Central). Pela "intempestividade" dos dois bancos, o
Cade aplicou uma multa de R$
127,6 mil.
Em 2002, as duas instituições entraram em conjunto
com um mandado de segurança
contra a decisão do Cade. Valeram-se de um parecer da AGU
(Advocacia Geral da União), de
2001. Esse documento, assinado pelo presidente da República, atribuía apenas ao BC a função de decidir as operações de
fusões e aquisições do setor.
O Cade recorreu, alegando
que o parecer não podia vincular as agências reguladoras ao
Poder Executivo sob pena de
perderem a independência no
cumprimento de sua função.
Resultado: parecer favorável
no Tribunal Regional Federal,
em Brasília.
Em 2008, o Bradesco recorreu ao STJ. O julgamento começou no início de outubro
deste ano com o voto da relatora, a ministra Eliana Calmon.
Seu voto espalhou preocupação não apenas entre os conselheiros do Cade como também
entre integrantes de outras
agências reguladoras, como
CVM (Comissão de Valores
Mobiliários), Anatel (Agência
Nacional de Telecomunicações) e Anac (Agência de Aviação Civil), entre outras.
O próprio presidente do Cade, Arthur Badin, diz que existe
a preocupação de que a posição
da ministra predomine entre os
demais conselheiros e comprometa o modelo regulatório do
país, concebido para viabilizar
a implementação de políticas
de Estado, não de Governo.
Vinculação das agências
Em seu voto, a ministra Eliana Calmon defende que o Cade
e o BC são órgãos da administração pública e que, por isso,
devem se submeter ao parecer
da AGU. De acordo com ele, todos os órgãos devem estar "vinculados" [ao Poder Executivo].
Diz a ministra em seu voto:
"O que não se pode aceitar é a
afirmação de que as decisões do
Cade, mesmo técnicas, fiquem
em posição superior à decisão
do chefe do Executivo, subtraindo-se do presidente da República a competência que lhe
foi outorgada expressamente
pela Constituição Federal para
decidir acerca do funcionamento dos órgãos e entidades
da administração pública."
Para Calmon, a pretensão do
Cade ao julgamento das operações do setor financeiro faz
parte de um projeto de lei que
tramita no Congresso desde
2002. Para ela, essa é mais uma
prova de que não cabe ao Cade
julgar operações do setor financeiro atualmente.
O presidente do Cade, Arthur
Badin, contesta. Segundo ele,
deve haver uma harmonização
entre a lei 8.864 ("Antitruste")
e a lei 4.595 (Lei do Sistema Financeiro Nacional). Badin defende que não pode haver julgamento apenas em uma das pontas. O BC analisa uma operação
sob a ótica do risco a todo o sistema financeiro. O Cade avalia
os riscos à concorrência, principalmente aos consumidores.
Justamente por isso, BC e
Cade firmaram um acordo em
2008, solicitando uma modificação no parecer da AGU para
que fique definido o papel de
cada um nesses julgamentos.
Após o voto da ministra-relatora, o ministro Carlos Meira,
do STJ, pediu vistas, em outubro, paralisando a votação, que
recomeçará amanhã.
Consultados, o Bradesco e a
Federação Brasileira de Bancos
não quiseram comentar o assunto. O BC não respondeu até
o fechamento desta edição.
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