São Paulo, Sábado, 27 de Novembro de 1999


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Protestos roubam a cena em Seattle

do enviado especial a Seattle

Há 15 dias, Martin Baily, principal assessor econômico do presidente Bill Clinton, cancelou uma palestra que faria na Universidade de Washington (o Estado em que fica Seattle), alegando que havia manifestantes demais.
Nem eram tantos assim (cerca de 30), mas o episódio ilustra bem a maneira como as ONGs (Organizações Não-Governamentais) que se opõem ao livre comércio estão ocupando o centro da cena em Seattle.
Escreve, por exemplo, Curtis Runyan, pesquisador de uma delas (o Worldwatch Institute):
"A grande história em Seattle pode não ser a OMC e suas negociações comerciais, mas a influência que os protestos dos cidadãos ao redor do mundo, coordenados por milhares de ONGs, exerce sobre uma das mais poderosas organizações internacionais".
Reforça John Weeks, ex-embaixador do Canadá junto à OMC e hoje na consultoria internacional APCO: "As ONGs são as únicas que virão a Seattle sabendo exatamente o que querem".
O pedido mais consistente feito por elas acabou vocalizado por Ralph Nader, diretor de Public Citizen, grupo de defesa dos consumidores: adiar por seis meses a convocação de uma nova rodada de liberalização comercial, para que possa ser feito o balanço do já ocorrido nessa matéria.
É a confirmação do que escreve Peter Sutherland, ex-diretor-geral da OMC, no seu artigo de ontem para o "Financial Times": "A globalização ou o medo dela transformou-se na grande causa populista de nossa época".
Há razão para o medo da globalização, se entendida apenas como liberalização generalizada do comércio planetário?
O estudo mais badalado a respeito é dos economistas Jeffrey Sachs e Andrew Warner (ambos da Universidade de Harvard) diz que, nos anos 70 e 80, os países com economia aberta cresceram 4,5% ao ano, na média, ao passo que aqueles que mantiveram fechadas as suas economias cresceram apenas 0,7% ao ano.
Rebate, no entanto, Jean-Louis Guèrin, economista do Centro de Estudos Prospectivos e de Informações Internacionais da França:
"Se todas as políticas protecionistas resultaram em fracasso, a abertura não é em si um fator de sucesso. Os estudos realizados até o presente não permitem, em todo o caso, estabelecer um vínculo indiscutível entre uma liberalização aprofundada do comércio e as performances em matéria de crescimento".
Mas os manifestantes que estarão em Seattle pouco se importam com estudos acadêmicos. São contra e ponto final. Tão contra que o presidente cubano, Fidel Castro, diz ter recebido "uma infinidade de convites para estar em Seattle" conforme Alejandro González, porta-voz da Chancelaria cubana.
Fidel ainda não decidiu se irá ou não a Seattle, em pleno território de seu arquiinimigo, os EUA. Mas o simples fato de cogitar da hipótese indica que as manifestações paralelas podem de fato roubar a cena. (CR)



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