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Protestos roubam a cena em Seattle
do enviado especial a Seattle
Há 15 dias, Martin Baily, principal assessor econômico do presidente Bill Clinton, cancelou uma
palestra que faria na Universidade de Washington (o Estado em
que fica Seattle), alegando que havia manifestantes demais.
Nem eram tantos assim (cerca
de 30), mas o episódio ilustra bem
a maneira como as ONGs (Organizações Não-Governamentais)
que se opõem ao livre comércio
estão ocupando o centro da cena
em Seattle.
Escreve, por exemplo, Curtis
Runyan, pesquisador de uma delas (o Worldwatch Institute):
"A grande história em Seattle
pode não ser a OMC e suas negociações comerciais, mas a influência que os protestos dos cidadãos
ao redor do mundo, coordenados
por milhares de ONGs, exerce sobre uma das mais poderosas organizações internacionais".
Reforça John Weeks, ex-embaixador do Canadá junto à OMC e
hoje na consultoria internacional
APCO: "As ONGs são as únicas
que virão a Seattle sabendo exatamente o que querem".
O pedido mais consistente feito
por elas acabou vocalizado por
Ralph Nader, diretor de Public Citizen, grupo de defesa dos consumidores: adiar por seis meses a
convocação de uma nova rodada
de liberalização comercial, para
que possa ser feito o balanço do já
ocorrido nessa matéria.
É a confirmação do que escreve
Peter Sutherland, ex-diretor-geral
da OMC, no seu artigo de ontem
para o "Financial Times": "A globalização ou o medo dela transformou-se na grande causa populista de nossa época".
Há razão para o medo da globalização, se entendida apenas como liberalização generalizada do
comércio planetário?
O estudo mais badalado a respeito é dos economistas Jeffrey
Sachs e Andrew Warner (ambos
da Universidade de Harvard) diz
que, nos anos 70 e 80, os países
com economia aberta cresceram
4,5% ao ano, na média, ao passo
que aqueles que mantiveram fechadas as suas economias cresceram apenas 0,7% ao ano.
Rebate, no entanto, Jean-Louis
Guèrin, economista do Centro de
Estudos Prospectivos e de Informações Internacionais da França:
"Se todas as políticas protecionistas resultaram em fracasso, a
abertura não é em si um fator de
sucesso. Os estudos realizados até
o presente não permitem, em todo o caso, estabelecer um vínculo
indiscutível entre uma liberalização aprofundada do comércio e
as performances em matéria de
crescimento".
Mas os manifestantes que estarão em Seattle pouco se importam com estudos acadêmicos. São
contra e ponto final. Tão contra
que o presidente cubano, Fidel
Castro, diz ter recebido "uma infinidade de convites para estar em
Seattle" conforme Alejandro
González, porta-voz da Chancelaria cubana.
Fidel ainda não decidiu se irá ou
não a Seattle, em pleno território
de seu arquiinimigo, os EUA. Mas
o simples fato de cogitar da hipótese indica que as manifestações
paralelas podem de fato roubar a
cena.
(CR)
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