São Paulo, quarta-feira, 27 de novembro de 2002

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COMÉRCIO

Diretor-geral da OMC e União Européia recebem com ceticismo proposta de zerar tarifas de importação de manufaturados

Plano de Bush não é prioridade, diz OMC

DA REDAÇÃO

Os EUA apresentaram ontem seu projeto de eliminar, até 2015, todas as tarifas de importação de produtos manufaturados nas transações entre os 144 membros da OMC (Organização Mundial do Comércio). A proposta, que não fala nada a respeito de agrícolas e serviços, foi recebida com ceticismo pela própria OMC e pela União Européia e deverá enfrentar acirrada resistência de países em desenvolvimento.
Em uma entrevista à edição alemã do "Financial Times", o diretor-geral da OMC, Supachai Panitchpakdi, também se revelou cético. "Não estou certo de que a proposta será uma prioridade em nossa agenda", afirmou.
"Parece uma proposta bastante ambiciosa, dizer para todos os membros da OMC: "Acabem com todas suas tarifas sobre manufaturados'", disse Arancha González, porta-voz da Comissão Européia, a instância executiva da União Européia. "Mas sabemos que é uma meta bastante difícil de ser atingida pelos países em desenvolvimento."
Pelo plano norte-americano, as tarifas sobre produtos industrializados cairiam para não mais do que 8% até 2010. Em uma segunda etapa, todas os impostos de importação seriam zerados, até 2015, sem nenhuma restrição.
Fora alguns setores industriais mais protegidos, como a siderurgia e a indústria têxtil, os EUA e os 15 países da UE já adotam baixas tarifas -4% em média. Por isso, para esses países seria mais fácil atingir a meta proposta de George W. Bush, presidente dos EUA.
Por outro lado, os países em desenvolvimento, menos competitivos, cobram tarifas bem mais elevadas. Assim, a eliminação das tarifas teria um impacto muito maior para essas economias.
Além disso, países em que o agronegócio tem um grande peso na pauta de exportações não aceitam discutir uma nova rodada global de redução de tarifas sobre manufaturados sem que os países ricos aceitem derrubar suas barreiras contra a importação de produtos agrícolas. Essa á a posição do grupo de Cairns (em referência à cidade australiana de mesmo nome), do qual fazem parte, além da Austrália, o Brasil e a Argentina, entre outros.
A proposta foi apresentada em Washington pelo representante comercial dos EUA, Robert Zoellick, e pelo secretário de Comércio, Donald Evans, e será discutida na "rodada de Doha" sobre tarifas, no âmbito da OMC. Segundo os EUA, o projeto acabaria com tarifas que afetam US$ 670 bilhões em exportações do país.
Ainda que os EUA só tenham a ganhar com o fim das taxas, alguns setores de grande influência no Congresso, em especial o têxtil, devem oferecer resistência e exigir compensações.


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