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ESPETÁCULO EM XEQUE
Lula decepcionou-se com os números do 3º trimestre; mercados já esperam estagnação em 2003
Perspectiva de "PIB zero" assusta o governo
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Com a divulgação ontem do decepcionante resultado da economia no terceiro trimestre, o Palácio do Planalto já teme que não
haja crescimento neste ano -há
risco de "PIB zero" ou até de um
índice negativo de variação do
Produto Interno Bruto.
A Folha apurou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ficou
decepcionado com o crescimento
de apenas 0,4% do PIB no terceiro
trimestre em relação ao trimestre
anterior, anunciado ontem pelo
IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Estimava-se uma expansão entre 1,5% e 2,4%. Agora, o governo
acredita numa retomada do crescimento mais demorada do que
imaginava inicialmente.
Com os novos dados do IBGE,
os mais otimistas da administração petista avaliam que, na melhor das hipóteses, o crescimento
do PIB vá ficar entre 0,2% e 0,6%
neste ano -a última previsão do
Ministério da Fazenda estava em
0,4%. Os mais pessimistas estão
prevendo um número próximo a
zero ou até negativo.
Consultorias, institutos de pesquisa e instituições financeiras já
reviram ontem mesmo suas previsões para o ano. A consultoria
Tendências, por exemplo, mudará sua estimativa de crescimento
de 0,5% para algo próximo a zero.
A consultoria GlobalInvest reviu
sua projeção de aumento de
0,45% para queda de 0,2%. Já o
Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), ligado ao Ministério do Planejamento, deve
mudar sua projeção de crescimento de 0,5% para um número
próximo a 0,3%.
Nesse novo contexto, deve crescer a cobrança de Lula por maior
rapidez no ritmo de queda dos juros do BC, hoje em 17,5% ao ano.
A taxa caiu 1,5 ponto percentual
neste mês por pressão do próprio
presidente. É possível que um novo corte de 1,5 ponto se repita em
dezembro, apesar das resistências
no BC e do discurso oficial de que
não há interferência do Palácio do
Planalto na política monetária.
Lula já estava preparado para o
baixo crescimento em 2003, resultado da política de arrocho fiscal e
monetário. No fim de semana, o
presidente do BC, Henrique Meirelles, disse em reunião com o
presidente e com ministros que a
taxa do ano deveria ficar em 0,6%.
Ontem, Lula desabafou com interlocutores -dizendo que esperava um número melhor do
PIB- e lamentou que o resultado
tenha ofuscado a repercussão da
aprovação da reforma da Previdência no Senado.
No entanto não passa pela cabeça de Lula enfraquecer o ministro
da Fazenda, Antonio Palocci Filho. No período de uma semana,
Lula defendeu Palocci publicamente e nos bastidores. Segundo
um auxiliar direto do presidente,
Lula já espera um aumento das
críticas contra o ministro e está
preparado para defendê-lo.
No Planalto, comenta-se que a
Fazenda, que previra crescimento
de 0,4% no ano, foi mais realista
do que o ministro Guido Mantega
(Planejamento), que falou em
0,8% e disse que a previsão de
0,4% fora feita num momento de
"mau humor". Estima-se que o
crescimento necessário no 4º trimestre (em relação ao mesmo período de 2002) para chegar à alta
de 0,8% em 2003 seja de 3,9%.
A possibilidade de queda do
PIB, algo que ocorreu pela última
vez em 1992 (governo Collor), é
vista com preocupação por Lula.
Ele sabe que sua política econômica estará no centro do debate
eleitoral e que o mote "PIB zero",
variação irônica do nome do programa Fome Zero, deverá ser usado pela oposição em 2004 -embora, tecnicamente, não exista
PIB zero, ou crescimento nulo.
Nas reuniões da cúpula do governo, Palocci tem dito que a economia dará bons resultados mais
claramente a partir de maio de
2004, quando a campanha eleitoral começar a esquentar.
Com Érica Fraga, da Reportagem Local,
e Chico Santos, da Sucursal do Rio
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