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São Paulo, quinta-feira, 27 de novembro de 2003

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ESPETÁCULO EM XEQUE

Lula decepcionou-se com os números do 3º trimestre; mercados já esperam estagnação em 2003

Perspectiva de "PIB zero" assusta o governo

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Com a divulgação ontem do decepcionante resultado da economia no terceiro trimestre, o Palácio do Planalto já teme que não haja crescimento neste ano -há risco de "PIB zero" ou até de um índice negativo de variação do Produto Interno Bruto.
A Folha apurou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ficou decepcionado com o crescimento de apenas 0,4% do PIB no terceiro trimestre em relação ao trimestre anterior, anunciado ontem pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Estimava-se uma expansão entre 1,5% e 2,4%. Agora, o governo acredita numa retomada do crescimento mais demorada do que imaginava inicialmente.
Com os novos dados do IBGE, os mais otimistas da administração petista avaliam que, na melhor das hipóteses, o crescimento do PIB vá ficar entre 0,2% e 0,6% neste ano -a última previsão do Ministério da Fazenda estava em 0,4%. Os mais pessimistas estão prevendo um número próximo a zero ou até negativo.
Consultorias, institutos de pesquisa e instituições financeiras já reviram ontem mesmo suas previsões para o ano. A consultoria Tendências, por exemplo, mudará sua estimativa de crescimento de 0,5% para algo próximo a zero. A consultoria GlobalInvest reviu sua projeção de aumento de 0,45% para queda de 0,2%. Já o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), ligado ao Ministério do Planejamento, deve mudar sua projeção de crescimento de 0,5% para um número próximo a 0,3%.
Nesse novo contexto, deve crescer a cobrança de Lula por maior rapidez no ritmo de queda dos juros do BC, hoje em 17,5% ao ano.
A taxa caiu 1,5 ponto percentual neste mês por pressão do próprio presidente. É possível que um novo corte de 1,5 ponto se repita em dezembro, apesar das resistências no BC e do discurso oficial de que não há interferência do Palácio do Planalto na política monetária.
Lula já estava preparado para o baixo crescimento em 2003, resultado da política de arrocho fiscal e monetário. No fim de semana, o presidente do BC, Henrique Meirelles, disse em reunião com o presidente e com ministros que a taxa do ano deveria ficar em 0,6%. Ontem, Lula desabafou com interlocutores -dizendo que esperava um número melhor do PIB- e lamentou que o resultado tenha ofuscado a repercussão da aprovação da reforma da Previdência no Senado.
No entanto não passa pela cabeça de Lula enfraquecer o ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho. No período de uma semana, Lula defendeu Palocci publicamente e nos bastidores. Segundo um auxiliar direto do presidente, Lula já espera um aumento das críticas contra o ministro e está preparado para defendê-lo.
No Planalto, comenta-se que a Fazenda, que previra crescimento de 0,4% no ano, foi mais realista do que o ministro Guido Mantega (Planejamento), que falou em 0,8% e disse que a previsão de 0,4% fora feita num momento de "mau humor". Estima-se que o crescimento necessário no 4º trimestre (em relação ao mesmo período de 2002) para chegar à alta de 0,8% em 2003 seja de 3,9%.
A possibilidade de queda do PIB, algo que ocorreu pela última vez em 1992 (governo Collor), é vista com preocupação por Lula. Ele sabe que sua política econômica estará no centro do debate eleitoral e que o mote "PIB zero", variação irônica do nome do programa Fome Zero, deverá ser usado pela oposição em 2004 -embora, tecnicamente, não exista PIB zero, ou crescimento nulo.
Nas reuniões da cúpula do governo, Palocci tem dito que a economia dará bons resultados mais claramente a partir de maio de 2004, quando a campanha eleitoral começar a esquentar.


Com Érica Fraga, da Reportagem Local, e Chico Santos, da Sucursal do Rio


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