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RECEITA ORTODOXA
Joaquim Levy muda discurso e diz que superávit primário de 2003 não ultrapassará 4,25% do PIB
Tesouro nega esforço fiscal maior no ano
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O secretário do Tesouro Nacional, Joaquim Levy, mudou o discurso e disse ontem que a liberação de R$ 2,9 bilhões para investimentos em saneamento prevista
no novo acordo fechado com o
FMI (Fundo Monetário Internacional) não está condicionada a
um aperto fiscal mais forte neste
ano. A afirmação contradiz anúncio feito pelo governo no dia 5.
"Não acredito que se deva ter
um esforço adicional [em 2003]",
afirmou Levy. Segundo o secretário, a meta deste ano para o superávit primário (economia do setor
público para o pagamento de juros) será mantida em 4,25% do
PIB (Produto Interno Bruto), cerca de R$ 66 bilhões. A meta de
2004, por sua vez, será reduzida
em R$ 2,9 bilhões.
No início deste mês, ao anunciar o acordo, o próprio Levy havia dito que o Brasil poderia reduzir em R$ 2,9 bilhões a meta de superávit primário em 2004 para
aumentar os investimentos em
saneamento. Essa redução da meta, porém, estaria condicionado a
um aumento equivalente da meta
fiscal de 2003.
Levy havia dito que, com os
maiores gastos com saneamento,
a meta para o superávit primário
deste ano subiria para cerca de
4,40% do PIB. Para compensar, a
meta do ano que vem seria reduzida para um valor próximo de
4,10% -logo, na média entre
2003 e 2004 a meta continuaria
nos atuais 4,25%.
Ontem, o secretário não explicou o porquê da mudança no discurso. No último dia 5, o ministro
da Fazenda, Antonio Palocci, e a
vice-diretora-gerente do FMI,
Anne Krueger, anunciaram o novo acordo, que terá duração de
um ano e deixará disponível ao
Brasil uma linha de crédito de
US$ 14 bilhões, sendo US$ 6 bilhões em recursos adicionais ao
previsto pelo atual entendimento.
O governo, porém, ainda não
divulgou os detalhes do acordo.
Mesmo a questão das metas para
o superávit primário, principal
ponto do entendimento com o
FMI, não foi esclarecida.
Enquanto o Ministério da Fazenda informava que a flexibilidade da meta fiscal de 2004 estava
condicionada a um ajuste mais
forte em 2003, o ministro Guido
Mantega (Planejamento) dizia
que o superávit primário deste
ano não ultrapassaria os 4,25% do
PIB -o que Levy confirmou.
Horas antes do anúncio do
acordo, em Brasília, o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva chegou a
dizer, durante viagem a Moçambique, que nada estava acertado
com o FMI. "Não é possível haver
acordo com o presidente estando
em Moçambique", chegou a dizer
o presidente na ocasião.
Crítica
Levy também não quis comentar as críticas feitas pelo vice-presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Darc Costa, sobre a
preocupação do Tesouro com os
cortes nos gastos e o ajuste fiscal.
"A Fazenda tem essa preocupação, cortar. Eu não sei se nós temos uma Secretaria do Tesouro
ou uma secretaria da tesoura",
afirmou Costa em entrevista à Folha publicada no último domingo. Ontem, jornalistas perguntaram a Levy o que ele achava da declaração. "Eu não acho nada", respondeu.
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