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AGRONEGÓCIO
Friboi diz que banco é "malandro'; funcionários negam contrato de gaveta, mas falam em registro "manual"
BNDES admite ao menos 2 erros em operação
DA REPORTAGEM LOCAL
O BNDES admite ter cometido
pelos menos dois erros na operação que transferiu uma dívida de
R$ 11,2 milhões do frigorifico Araputanga ao Friboi.
Ao assumir a dívida, o Friboi teria de dar como garantia real ao
BNDES o frigorífico Araputanga.
Mas, por questões contratuais hoje contestadas, o Araputanga permaneceu como dono legal.
O termo "contrato de gaveta"
foi usado por Joesley Mendonça
Batista, sócio do Friboi, para explicar como seu frigorífico assumiu uma dívida com o BNDES
que era do Araputanga sem ter
obtido a escritura da garantia.
"Como é que o BNDES vai fazer? Ele tem um contrato em nome do Araputanga, e ele refez outro contrato paralelo, "de gaveta",
com o Friboi. Ele tá recebendo o
dinheiro do Friboi num contrato
paralelo, o contrato é "de gaveta".
Eles são muito malandros", diz
Batista nas gravações.
O banco nega a existência de
qualquer tipo de "contato de gaveta" com o Friboi.
O primeiro erro admitido pelo
BNDES é que, como não podia registrar o Friboi como novo devedor em seu sistema (sem a escritura), passou a produzir dois boletos de cobrança: um eletrônico,
para o Araputanga, e um segundo, "manual", para o Friboi.
Mesmo estando só o Friboi pagando o seu boleto, a dívida continuou em nome do Araputanga.
O Araputanga diz ter obtido um
extrato do Banco Central que
mostra seus donos como inadimplentes em junho de 2004.
O BNDES diz que, "lamentavelmente", não pode confirmar o registro no BC, "por questões de sigilo bancário". Mas afirma ter interrompido o envio ao BC de informações sobre o Araputanga logo no mês seguinte.
Os advogados do Araputanga
afirmam que a "inadimplência"
registrada no BC causou constrangimentos aos donos do frigorífico, como a impossibilidade de
obter empréstimos no mercado.
Essa situação se arrastou durante meses e foi objeto de várias contestações e questionamentos do
Araputanga no final de 2004, não
respondidos pelo BNDES.
"Foi uma falha do BNDES, que
deveria ter parado de cobrar o
Araputanga", diz Jaldir Freire Lima, chefe do Departamento de
Agroindústria do banco, que só
corrigiu a situação anos depois da
assunção da dívida pelo Friboi.
Lima admite que o contrato do
BNDES com o Friboi "não está no
sistema [do banco]. É manual".
A outra irregularidade admitida
é que até hoje os fiadores da dívida assumida pelo Friboi são as
pessoas que detinham o Araputanga, José Almiro Bihl e sua mulher. "Assumindo a nossa parcela
de culpa, isso realmente está atrasado", diz Lima. Ele afirma que os
donos do Friboi constarão "agora" como fiadores.
Além de ter repassado a dívida
do Araputanga ao Friboi de forma
"manual" e fora do sistema, o
BNDES refinanciou o débito,
dando mais prazo e carência para
o pagamento. Os advogados do
Araputanga afirmam que, se era
para refinanciar a dívida, a própria empresa teria como pagar.
O Friboi é um dos principais
clientes do BNDES. Para Carlos
Gastaldoni, superintendente do
banco, o frigorífico é "um exemplo". Nos últimos quatro anos, o
Friboi tomou R$ 568 milhões em
empréstimos do BNDES, o último
deles (de R$ 174 milhões) para a
compra do frigorifico argentino
Swift Armour.
A operação na Argentina foi
inédita, a primeira em que o
BNDES financiou um grupo privado fora do Brasil por meio de
sua nova linha de internacionalização de empresas.
(MZ e FCZ)
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