São Paulo, domingo, 27 de novembro de 2005

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AGRONEGÓCIO

Friboi diz que banco é "malandro'; funcionários negam contrato de gaveta, mas falam em registro "manual"

BNDES admite ao menos 2 erros em operação


DA REPORTAGEM LOCAL

O BNDES admite ter cometido pelos menos dois erros na operação que transferiu uma dívida de R$ 11,2 milhões do frigorifico Araputanga ao Friboi.
Ao assumir a dívida, o Friboi teria de dar como garantia real ao BNDES o frigorífico Araputanga. Mas, por questões contratuais hoje contestadas, o Araputanga permaneceu como dono legal.
O termo "contrato de gaveta" foi usado por Joesley Mendonça Batista, sócio do Friboi, para explicar como seu frigorífico assumiu uma dívida com o BNDES que era do Araputanga sem ter obtido a escritura da garantia.
"Como é que o BNDES vai fazer? Ele tem um contrato em nome do Araputanga, e ele refez outro contrato paralelo, "de gaveta", com o Friboi. Ele tá recebendo o dinheiro do Friboi num contrato paralelo, o contrato é "de gaveta". Eles são muito malandros", diz Batista nas gravações.
O banco nega a existência de qualquer tipo de "contato de gaveta" com o Friboi.
O primeiro erro admitido pelo BNDES é que, como não podia registrar o Friboi como novo devedor em seu sistema (sem a escritura), passou a produzir dois boletos de cobrança: um eletrônico, para o Araputanga, e um segundo, "manual", para o Friboi.
Mesmo estando só o Friboi pagando o seu boleto, a dívida continuou em nome do Araputanga.
O Araputanga diz ter obtido um extrato do Banco Central que mostra seus donos como inadimplentes em junho de 2004.
O BNDES diz que, "lamentavelmente", não pode confirmar o registro no BC, "por questões de sigilo bancário". Mas afirma ter interrompido o envio ao BC de informações sobre o Araputanga logo no mês seguinte.
Os advogados do Araputanga afirmam que a "inadimplência" registrada no BC causou constrangimentos aos donos do frigorífico, como a impossibilidade de obter empréstimos no mercado.
Essa situação se arrastou durante meses e foi objeto de várias contestações e questionamentos do Araputanga no final de 2004, não respondidos pelo BNDES.
"Foi uma falha do BNDES, que deveria ter parado de cobrar o Araputanga", diz Jaldir Freire Lima, chefe do Departamento de Agroindústria do banco, que só corrigiu a situação anos depois da assunção da dívida pelo Friboi. Lima admite que o contrato do BNDES com o Friboi "não está no sistema [do banco]. É manual".
A outra irregularidade admitida é que até hoje os fiadores da dívida assumida pelo Friboi são as pessoas que detinham o Araputanga, José Almiro Bihl e sua mulher. "Assumindo a nossa parcela de culpa, isso realmente está atrasado", diz Lima. Ele afirma que os donos do Friboi constarão "agora" como fiadores.
Além de ter repassado a dívida do Araputanga ao Friboi de forma "manual" e fora do sistema, o BNDES refinanciou o débito, dando mais prazo e carência para o pagamento. Os advogados do Araputanga afirmam que, se era para refinanciar a dívida, a própria empresa teria como pagar.
O Friboi é um dos principais clientes do BNDES. Para Carlos Gastaldoni, superintendente do banco, o frigorífico é "um exemplo". Nos últimos quatro anos, o Friboi tomou R$ 568 milhões em empréstimos do BNDES, o último deles (de R$ 174 milhões) para a compra do frigorifico argentino Swift Armour.
A operação na Argentina foi inédita, a primeira em que o BNDES financiou um grupo privado fora do Brasil por meio de sua nova linha de internacionalização de empresas. (MZ e FCZ)


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