São Paulo, domingo, 27 de novembro de 2005

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FREADA

Queda do dólar dá prejuízo à montadora, que cortará vendas externas em até 30%; crise dos EUA não chega ao país, diz executivo

Câmbio derruba exportação da GM em 2006

FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

A General Motors do Brasil vai reduzir entre 20% e 30% o valor das exportações em 2006 para minimizar o efeito negativo do real valorizado no seu balanço financeiro. Há cinco anos, a montadora, que faturou R$ 15 bilhões em 2004, opera com prejuízo no país.
A programação da GM era exportar 80 mil veículos prontos para o México, além de carros desmontados para cerca de 40 países. Decidiu agora enviar do Brasil para o mercado mexicano 69 mil unidades no ano que vem.
"Não dá para exportar com prejuízo. Por isso, optamos pela redução das exportações em dólares. Quando o dólar ficou abaixo de R$ 2,70, as vendas no mercado externo começaram a ficar difíceis", diz José Carlos Pinheiro Neto, vice-presidente da montadora.
No ano passado, a GM exportou US$ 1,2 bilhão em carros prontos e desmontados. Esse valor ainda deve se repetir neste ano, pois os contratos já tinham sido fechados, segundo informa Pinheiro Neto. "Não quero criticar a política do governo, que optou por uma taxa de câmbio livre. O fato é que temos de conviver com isso na alegria e na tristeza", diz.
O prejuízo com as exportações começou neste ano. Ainda de acordo com Pinheiro Neto, nos últimos anos, o mau resultado financeiro da montadora decorreu da elevação de custos, principalmente do aço, e da impossibilidade de repassar esses reajustes para os preços dos veículos.
"A alta do preço do aço nos últimos três anos é algo fora de qualquer proporção em relação aos índices de inflação. Os reajustes extrapolaram, como dizem os fornecedores, porque o aço é uma commodity internacional. Sem contar que a China entrou como grande consumidora do produto, estimulando a alta de preços. E nós, por causa da concorrência e da queda de renda do consumidor, não pudemos subir preços na proporção necessária", diz.
No início deste mês, a GM aumentou em 1%, em média, os preços de alguns de seus carros. Pinheiro Neto informa que novos reajustes virão. "Mas a competição é o limite desses aumentos."
O plano de reestruturação da GM nos Estados Unidos, que anunciou, na última segunda-feira, plano para cortar 30 mil empregos e fechar 12 fábricas na América do Norte até 2008, não terá reflexo no país, segundo informa o vice-presidente da GM.
"Nós vamos continuar investindo no país. Em Gravataí (RS), vamos admitir mais 1.500 funcionários até o final do ano que vem para produzir 230 mil veículos por ano nessa unidade, que vai empregar 5.000 pessoas", afirma. A GM emprega 22 mil pessoas no país em todas as suas unidades.
Pinheiro Neto informa que a GM investiu US$ 240 milhões na fábrica de Gravataí para aumentar a capacidade de produção dessa unidade de 120 mil para 230 mil unidades anuais a partir de 2007. Outros R$ 500 milhões foram investidos para o lançamento do Vectra e mais US$ 300 milhões no lançamento de carros bicombustíveis, que podem ser abastecidos com álcool ou com gasolina.
Para o ano que vem, segundo informa o vice-presidente da GM, os investimentos serão "parecidos" com os deste ano. No primeiro semestre de 2006, a GM pretende lançar um novo carro. "Para investir, utilizamos recursos próprios, da matriz, de outras fontes e aumentamos o capital. Depende muito do projeto."
A GM está no Brasil há 80 anos. "Estamos operando há cinco anos com prejuízo, o que é indesejável, mas já ganhamos muito dinheiro aqui nos outros 75 anos. Não operamos ao sabor de situações circunstanciais. Nosso negócio tem perspectiva para o longo prazo."
Pinheiro Neto não quer cogitar a possibilidade de a situação financeira da GM piorar nos EUA, com reflexos em suas subsidiárias no mundo. "A GM é a maior empresa do mundo, emprega cerca de 400 mil pessoas no mundo."

Mercado interno
As vendas da GM no mercado interno acompanham as do setor, segundo Pinheiro Neto. Em 2004, o país consumiu 1,58 milhão de veículos. Neste ano, a expectativa é que esse número suba para 1,65 milhão. A expectativa da GM é que esse número suba para 1,75 milhão de unidades em 2006. "O mercado interno vai indo bem. Se não fosse a perda com exportações, a montadora teria lucro."
A companhia também vai bem, segundo informa, nos serviços de engenharia. Neste ano, a GM nos Estados Unidos pagou para a GM no Brasil US$ 200 milhões por serviços de engenharia. No ano que vem, esse valor dobra para US$ 400 milhões. "É tudo o que pode acontecer de bom para uma empresa no Brasil: exportar know-how, o que estamos fazendo. E vender, claro."
Para incentivar as vendas neste final de ano, a GM fez uma parceria com a Casas Bahia e montou um feirão no Parque Anhembi, em São Paulo. Em 40 dias, a montadora espera vender 6.000 veículos. Ao adquirir um carro GM, o consumidor ganha bônus de até R$ 1.000 para gastar na loja.


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