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RETRATO DO BRASIL
Número de domicílios sem renda recuou e massa salarial registrou elevação, com crescimento de 3,3% no emprego
Pobreza teve queda em 2004, revela IBGE
PEDRO SOARES
ANTONIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
Dois dados relevados pela Pnad
(Pesquisa Nacional por Amostra
de Domicílios) indicam que a pobreza no país teve queda em 2004.
Um deles é a redução de 22,4% no
número de domicílios que não tinham renda de 2003 para 2004. O
outro é a expansão de 3,3% na
massa salarial dos trabalhadores.
Em 2003, o Brasil tinha 716 mil
famílias que não dispunham de
nenhuma fonte de renda. O número caiu para 585 mil.
Embora a renda média do trabalhador tenha ficado estável em
R$ 733 em 2004, o emprego cresceu 3,3%, o que fez subir o bolo
dos salários pagos.
Em 2004, a remuneração vinda
do trabalho injetava mensalmente na economia cerca de R$ 58,8
bilhões. Esse valor subiu para
R$ 60,8 bilhões, segundo dados
extraídos da Pnad.
Para Marcelo Neri, chefe do
Centro de Políticas Sociais da
FGV (Fundação Getulio Vargas),
houve uma queda significativa na
pobreza. "A Pnad trouxe notícias
muito boas. O aumento do emprego, da massa salarial e a inclusão de domicílios com rendimento vão revelar que a miséria do
país teve uma queda que não foi
pequena em 2004", afirmou.
Para Neri, o enfoque dado de
que o rendimento ficou estagnado é equivocado. O mais importante, diz ele, é o aumento da massa de salários.
A massa salarial é calculada a
partir do número total de empregados multiplicado pelo rendimento médio. Em 2003, havia
80,163 milhões de trabalhadores
no país. O número chegou a
82,816 milhões em 2004, com um
crescimento de 3,3% de um ano
para o outro.
Neri afirmou que a distância entre ricos e pobres caiu e que a miséria retrocedeu de 2003 para
2004. Amanhã, a FGV lançará a
pesquisa "Miséria em Queda",
que apontará a redução da pobreza. Um dos indicadores a serem
divulgados é justamente o recuo
do número de domicílios sem
rendimento.
Dos 49,712 milhões de domicílios em 2003, 1,5% não tinha nenhuma fonte de rendimento, seja
do trabalho, de pensões ou aposentadorias, de investimentos financeiros, aluguéis ou de programas sociais do governo. Já em
2004, 1,1% dos 50,956 milhões de
lares estava nessa situação.
A evolução parece pequena à
primeira vista, mas Neri afirma
que isso, em apenas um ano, é
uma crescimento significativo.
Segundo o economista, um dos
motivos para a queda dos lares
sem renda é o aumento da cobertura do programa Bolsa-Família,
que transfere renda para 8 milhões de famílias.
Talvez mais importante, porém,
foi a própria expansão do emprego. "O ano de 2004 foi espetacular
para o mercado de trabalho. A geração de 2,7 milhões de empregos
é um dado impressionante."
Desde a década de 90, a média
anual de abertura de postos de
trabalho tem oscilado na casa de
1,5 milhão.
Para Neri, a evolução favorável
do emprego, a expansão da massa
de salários, a diminuição de famílias desprovidas de renda e o aumento do real do salário mínimo
fizeram cair o índice de Gini, medida de desigualdade.
O índice que mede a distribuição do rendimento dos domicílios brasileiros recuou de 0,545
em 2003 para 0,535 em 2004. Apesar disso, o Brasil continua tendo
uma das piores distribuições de
renda do mundo.
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