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China faz o maior corte de juro desde 97
Objetivo é reanimar economia; taxa de crescimento deve recuar para 7% em 2009
Taxa básica passa de 6,66% para 5,58% ao ano; numa "medida drástica", governo realiza o quarto corte nos juros em apenas três meses
RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM
O Banco Central da China
cortou ontem a taxa básica de
juros em 1,08 ponto percentual,
o maior corte desde 1997. É
mais uma medida para reanimar a economia chinesa.
A taxa anual de juros passou
de 6,66% a 5,58% e, para a poupança, de 3,60% para 2,52%. Os
três cortes anteriores, em setembro e outubro, foram de
0,27% cada um. A própria agência estatal Xinhua chamou a
medida de "drástica".
Depois de crescer quase 12%
no ano passado, o PIB chinês
deve avançar 5,5% no último
trimestre de 2008. A previsão
para 2009, que variava de 8% a
9%, foi reavaliada para 7% segundo diversos economistas.
O Banco do Povo, nome oficial do BC chinês, afirmou que
a reserva mínima de depósitos,
valor que um banco comercial
precisa depositar no banco
central, será cortada em um
ponto para ficar em 15%, o que
vai proporcionar mais capital
para empréstimos.
A China já havia anunciado
no início do mês um pacote de
estímulo de 4 trilhões de yuans
(R$ 1,25 trilhão) em obras de
infra-estrutura e habitação.
"Esse corte foi o ato mais
agressivo do Banco do Povo em
uma década, o que reflete a
preocupação de Pequim no risco crescente de uma deflação e
de uma desaceleração", diz o
economista Qu Hongbin, do
banco HSBC, em Hong Kong.
O economista Stephen
Green, do banco Standard
Chartered, de Xangai, avalia
que o governo pretende facilitar a compra de imóveis e
apoiar o investimento privado.
"O corte de juros era esperado, mas a sua magnitude é um
sinal claro de que o governo tomará medidas extraordinárias
para evitar uma maior desaceleração", diz o economista Yu
Song, do banco Goldman Sachs.
Protestos e paralisação
Depois de passar boa parte de
setembro e outubro alegando
que o impacto da crise global
seria "limitado" e dizendo que a
China estava imune, o governo
mudou o discurso, após o acúmulo de diversas más notícias.
Em outubro, o consumo de
energia caiu 4%, a primeira
queda desde 2005. A produção
industrial teve seu menor crescimento em sete anos.
Há centenas de siderúrgicas
paradas no país e grandes obras
imobiliárias foram paralisadas.
Em Macau, um complexo de
cassino e hotéis orçado em US$
20 bilhões foi adiado pela falta
de crédito -11 mil operários foram demitidos.
O setor exportador, que emprega mais de 20 milhões de
trabalhadores, anuncia milhares de demissões, o que provoca
tensão social crescente principalmente no sul do país. Ontem, 500 operários demitidos
de uma fábrica de brinquedos
em Dongguan destruíram viaturas policiais e o escritório da
empresa em que trabalhavam.
Cerca de 15 mil fábricas fecharam neste ano no sul da
China. Em alguns casos, o governo da Província de Guangdong pagou os salários atrasados nas fábricas que fecharam
para evitar mais protestos.
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