São Paulo, quinta-feira, 27 de novembro de 2008

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China faz o maior corte de juro desde 97

Objetivo é reanimar economia; taxa de crescimento deve recuar para 7% em 2009

Taxa básica passa de 6,66% para 5,58% ao ano; numa "medida drástica", governo realiza o quarto corte nos juros em apenas três meses

RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM

O Banco Central da China cortou ontem a taxa básica de juros em 1,08 ponto percentual, o maior corte desde 1997. É mais uma medida para reanimar a economia chinesa.
A taxa anual de juros passou de 6,66% a 5,58% e, para a poupança, de 3,60% para 2,52%. Os três cortes anteriores, em setembro e outubro, foram de 0,27% cada um. A própria agência estatal Xinhua chamou a medida de "drástica".
Depois de crescer quase 12% no ano passado, o PIB chinês deve avançar 5,5% no último trimestre de 2008. A previsão para 2009, que variava de 8% a 9%, foi reavaliada para 7% segundo diversos economistas.
O Banco do Povo, nome oficial do BC chinês, afirmou que a reserva mínima de depósitos, valor que um banco comercial precisa depositar no banco central, será cortada em um ponto para ficar em 15%, o que vai proporcionar mais capital para empréstimos.
A China já havia anunciado no início do mês um pacote de estímulo de 4 trilhões de yuans (R$ 1,25 trilhão) em obras de infra-estrutura e habitação.
"Esse corte foi o ato mais agressivo do Banco do Povo em uma década, o que reflete a preocupação de Pequim no risco crescente de uma deflação e de uma desaceleração", diz o economista Qu Hongbin, do banco HSBC, em Hong Kong.
O economista Stephen Green, do banco Standard Chartered, de Xangai, avalia que o governo pretende facilitar a compra de imóveis e apoiar o investimento privado.
"O corte de juros era esperado, mas a sua magnitude é um sinal claro de que o governo tomará medidas extraordinárias para evitar uma maior desaceleração", diz o economista Yu Song, do banco Goldman Sachs.

Protestos e paralisação
Depois de passar boa parte de setembro e outubro alegando que o impacto da crise global seria "limitado" e dizendo que a China estava imune, o governo mudou o discurso, após o acúmulo de diversas más notícias. Em outubro, o consumo de energia caiu 4%, a primeira queda desde 2005. A produção industrial teve seu menor crescimento em sete anos.
Há centenas de siderúrgicas paradas no país e grandes obras imobiliárias foram paralisadas. Em Macau, um complexo de cassino e hotéis orçado em US$ 20 bilhões foi adiado pela falta de crédito -11 mil operários foram demitidos.
O setor exportador, que emprega mais de 20 milhões de trabalhadores, anuncia milhares de demissões, o que provoca tensão social crescente principalmente no sul do país. Ontem, 500 operários demitidos de uma fábrica de brinquedos em Dongguan destruíram viaturas policiais e o escritório da empresa em que trabalhavam.
Cerca de 15 mil fábricas fecharam neste ano no sul da China. Em alguns casos, o governo da Província de Guangdong pagou os salários atrasados nas fábricas que fecharam para evitar mais protestos.


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