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Investimento reage após recuo na crise
Antes previsto para 2010, nível considerado saudável de investimento privado só será alcançado pelo país em 2012
Empresa voltada ao mercado
interno aplicará mais na
ampliação da capacidade;
exportadores precisam de
estratégia, dizem analistas
DENYSE GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL
As empresas devem retomar
com força os investimentos em
2010, mas esses gastos com máquinas, ampliação de fábricas,
tecnologia e outras melhorias
da capacidade de produção só
chegarão em 2012 ao nível tido
como adequado para que o Brasil cresça sustentavelmente a
um ritmo de 5% ao ano, segundo especialistas.
É a taxa de investimentos nacional o indicador que mais claramente mostra o efeito da crise sobre o país. Em 2008, estava em 19% do PIB e se previa
que já em 2010 alcançasse 21%,
o qual permitiria um desenvolvimento considerado saudável.
Entretanto, a turbulência
mundial vai adiar em dois anos
tal avanço. Neste ano, a estimativa dos economistas é que fique em torno de 17%, e, em
2010, volte a 19%.
No curto prazo, três tipos de
empresa se destacarão nesses
esforços: as que se concentram
no mercado interno -por
exemplo, as de alimentos, bebidas, cosméticos, vestuário-; as
que podem redirecionar as
vendas para esse foco -as de
carros-; e as dos setores de
energia, construção civil e infraestrutura. "Há uma carência
enorme nessa área. Porém,
com a Copa e a Olimpíada, temos uma agenda com data e
hora para começar e para entregar", diz Felipe Jens, presidente da Odebrecht Investimentos em Infraestrutura.
Já as empresas que dependem de exportações -como as
siderúrgicas, as de equipamentos e papel e celulose- vão se
manter cautelosas até que a
economia global engrene.
"Essa parcimônia afeta bastante a atividade geral porque
uma fábrica sempre precisa da
matéria-prima de outras para
trabalhar. A produção dos bens
intermediários tem peso expressivo no Brasil", diz Fernando Puga, chefe da área de pesquisa do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).
"Por isso,
apesar de todo o otimismo em
relação à demanda doméstica,
não se pode dizer que a situação
está totalmente resolvida."
O cenário para as exportadoras mudou, na avaliação do
analista do BNDES. Ficou para
trás o tempo em que havia, em
outros países, grandes mercados simplesmente à espera de
serem desbravados. O encolhimento de várias economias elevará a competição entre as
multinacionais.
"Agora, será necessário tirar
mercado dos concorrentes. O
grande desafio que se coloca
em 2010 é construir uma nova
estratégia", afirma Puga. Os investimentos dessas empresas
terão que ser feitos tendo essa
realidade em vista. "O governo
também precisa ter a política
de criar companhias globais."
Pé no futuro
A dificuldade em obter empréstimos que imperou no primeiro semestre não deve atrapalhar os planos das companhias em 2010. A oferta de crédito bancário está quase normalizada, tanto em termos de
condições como de juros.
Outras fontes de financiamento que prometem ganhar
relevância são a emissão de títulos de dívida para serem negociados no mercado financeiro e a abertura de capital em
Bolsa. Espera-se um novo
boom de IPOs (Ofertas Públicas Iniciais, da sigla em inglês)
em 2010, apoiado no interesse
que o país tem despertado nos
estrangeiros. Essa atratividade
abre, ainda, a porta para que
fundos de "private equity" (que
compram participações em
empresas) aumentem a sua
presença nas empresas locais.
"Depois da crise, o Brasil ficou parecendo confiável no
longo prazo, já que conseguiu
passar bem pelas turbulências.
Isso gera confiança para o investidor", afirma Sérgio Vale,
economista-chefe da consultoria MB Associados.
"Não podemos esquecer que,
entre os Brics, apenas a Índia se
mostra mais equilibrada, já que
a China e a Rússia têm problemas institucionais e incertezas
de regras importantes."
Mesmo assim, algumas questões urgentes se impõem.
"A fim de que os prognósticos
favoráveis se realizem, estabelecer um bom marco regulatório para as obras de infraestrutura, resolver os nós ambientais e formar mão de obra técnica especializada são medidas
essenciais", diz Gustavo Loyola, ex-presidente do Banco
Central e sócio-diretor da consultoria Tendências.
Importações
Se a taxa de investimentos de
um país é muito baixa, desenvolvem-se desvirtuações ao
longo do tempo que podem se
tornar graves. A inflação sobe,
porque, com a sua capacidade
estagnada, a indústria não consegue atender a demanda.
Essa não é uma ameaça para
o Brasil por enquanto porque,
com o câmbio apreciado, está
muito barato comprar bens de
fora. As importações devem ter
elevação em 2010, de acordo
com as previsões. Quando tal
movimento se estende por um
período considerável, prejudica o balanço de pagamentos
(conta das operações internacionais de um país).
Embora sempre se destaque
a contribuição do consumo das
famílias para o robusto crescimento brasileiro antes e depois
da crise, é o investimento privado que tem sustentado o progresso recente, diz Nilson Teixeira, economista do banco
Credit Suisse.
"O ritmo das aplicações é superior ao da própria atividade,
então uma alta de 6,5% do PIB
em 2010, conforme projetamos, não significará uma distorção", diz. "Se continuar aumentando, permitirá que o país
cresça ainda mais depois."
Colaborou MARIANA BARBOSA, da Reportagem Local
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