São Paulo, domingo, 27 de dezembro de 2009

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Investimento reage após recuo na crise

Antes previsto para 2010, nível considerado saudável de investimento privado só será alcançado pelo país em 2012

Empresa voltada ao mercado interno aplicará mais na ampliação da capacidade; exportadores precisam de estratégia, dizem analistas


DENYSE GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL

As empresas devem retomar com força os investimentos em 2010, mas esses gastos com máquinas, ampliação de fábricas, tecnologia e outras melhorias da capacidade de produção só chegarão em 2012 ao nível tido como adequado para que o Brasil cresça sustentavelmente a um ritmo de 5% ao ano, segundo especialistas.
É a taxa de investimentos nacional o indicador que mais claramente mostra o efeito da crise sobre o país. Em 2008, estava em 19% do PIB e se previa que já em 2010 alcançasse 21%, o qual permitiria um desenvolvimento considerado saudável.
Entretanto, a turbulência mundial vai adiar em dois anos tal avanço. Neste ano, a estimativa dos economistas é que fique em torno de 17%, e, em 2010, volte a 19%.
No curto prazo, três tipos de empresa se destacarão nesses esforços: as que se concentram no mercado interno -por exemplo, as de alimentos, bebidas, cosméticos, vestuário-; as que podem redirecionar as vendas para esse foco -as de carros-; e as dos setores de energia, construção civil e infraestrutura. "Há uma carência enorme nessa área. Porém, com a Copa e a Olimpíada, temos uma agenda com data e hora para começar e para entregar", diz Felipe Jens, presidente da Odebrecht Investimentos em Infraestrutura.
Já as empresas que dependem de exportações -como as siderúrgicas, as de equipamentos e papel e celulose- vão se manter cautelosas até que a economia global engrene. "Essa parcimônia afeta bastante a atividade geral porque uma fábrica sempre precisa da matéria-prima de outras para trabalhar. A produção dos bens intermediários tem peso expressivo no Brasil", diz Fernando Puga, chefe da área de pesquisa do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).
"Por isso, apesar de todo o otimismo em relação à demanda doméstica, não se pode dizer que a situação está totalmente resolvida." O cenário para as exportadoras mudou, na avaliação do analista do BNDES. Ficou para trás o tempo em que havia, em outros países, grandes mercados simplesmente à espera de serem desbravados. O encolhimento de várias economias elevará a competição entre as multinacionais.
"Agora, será necessário tirar mercado dos concorrentes. O grande desafio que se coloca em 2010 é construir uma nova estratégia", afirma Puga. Os investimentos dessas empresas terão que ser feitos tendo essa realidade em vista. "O governo também precisa ter a política de criar companhias globais."

Pé no futuro
A dificuldade em obter empréstimos que imperou no primeiro semestre não deve atrapalhar os planos das companhias em 2010. A oferta de crédito bancário está quase normalizada, tanto em termos de condições como de juros. Outras fontes de financiamento que prometem ganhar relevância são a emissão de títulos de dívida para serem negociados no mercado financeiro e a abertura de capital em Bolsa. Espera-se um novo boom de IPOs (Ofertas Públicas Iniciais, da sigla em inglês) em 2010, apoiado no interesse que o país tem despertado nos estrangeiros. Essa atratividade abre, ainda, a porta para que fundos de "private equity" (que compram participações em empresas) aumentem a sua presença nas empresas locais.
"Depois da crise, o Brasil ficou parecendo confiável no longo prazo, já que conseguiu passar bem pelas turbulências. Isso gera confiança para o investidor", afirma Sérgio Vale, economista-chefe da consultoria MB Associados. "Não podemos esquecer que, entre os Brics, apenas a Índia se mostra mais equilibrada, já que a China e a Rússia têm problemas institucionais e incertezas de regras importantes."
Mesmo assim, algumas questões urgentes se impõem. "A fim de que os prognósticos favoráveis se realizem, estabelecer um bom marco regulatório para as obras de infraestrutura, resolver os nós ambientais e formar mão de obra técnica especializada são medidas essenciais", diz Gustavo Loyola, ex-presidente do Banco Central e sócio-diretor da consultoria Tendências.

Importações
Se a taxa de investimentos de um país é muito baixa, desenvolvem-se desvirtuações ao longo do tempo que podem se tornar graves. A inflação sobe, porque, com a sua capacidade estagnada, a indústria não consegue atender a demanda.
Essa não é uma ameaça para o Brasil por enquanto porque, com o câmbio apreciado, está muito barato comprar bens de fora. As importações devem ter elevação em 2010, de acordo com as previsões. Quando tal movimento se estende por um período considerável, prejudica o balanço de pagamentos (conta das operações internacionais de um país).
Embora sempre se destaque a contribuição do consumo das famílias para o robusto crescimento brasileiro antes e depois da crise, é o investimento privado que tem sustentado o progresso recente, diz Nilson Teixeira, economista do banco Credit Suisse. "O ritmo das aplicações é superior ao da própria atividade, então uma alta de 6,5% do PIB em 2010, conforme projetamos, não significará uma distorção", diz. "Se continuar aumentando, permitirá que o país cresça ainda mais depois."

Colaborou MARIANA BARBOSA, da Reportagem Local



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