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Todo ano mandava cartinha, diz parceira da Starbucks no país
Empresária conta que teve de insistir durante vários anos para convencer rede internacional de cafés a abrir unidades no Brasil
Projeto foi adiado porque prioridade da marca virou a Ásia; encontro inesperado em elevador com presidente mundial deu início a acordo
ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
"Você veio cedo demais." Foi
dessa forma que, em abril de
1997, Jinlong Wang, na época o
responsável pela internacionalização da Starbucks no mundo,
respondeu à empresária Maria
Luisa Rodenbeck, 48 -a mulher que bateu à porta da empresa para tentar vender o Brasil como investimento à rede.
Apesar de a rede ter sido simpática ao interesse da brasileira
-que naquela data entregou ao
comando do grupo um plano de
negócios no Brasil-, a pedra no
caminho de Maria Luiza era a
Ásia. O projeto de expansão da
maior rede de cafeterias do
mundo estava naquela região.
"Eu disse que esperaria o momento certo, que não haveria o
menor problema", contou Maria Luisa na semana passada,
em entrevista concedida em
uma das duas lojas da rede no
Brasil, inauguradas em dezembro, em São Paulo. A terceira
unidade será aberta em março.
Graduada em letras pela
PUC do Rio de Janeiro, com
MBA em Finanças em Boston
(EUA), carioca, sem filhos, moradora da capital paulista há
apenas um mês, a empresária
conta que foi por acaso que
conseguiu o primeiro -e crucial- contato com a empresa.
Foi preciso ter paciência,
perseverança e, claro, dinheiro
para que as negociações andassem. Nessa história, a sorte
apareceu uma vez, no dia em
que Maria Luisa conseguiu, em
1997, ser atendida pela direção
da Starbucks, rede com US$ 7,7
bilhões de receita e 12,4 mil
pontos-de-venda no mundo.
Com o trabalho final do MBA
encerrado em 1997 -o estudo
tinha como foco a entrada da
rede de cafés no país-, a brasileira colocou o material embaixo do braço e foi até a sede da
empresa, em Seattle, EUA. Na
portaria, disse à recepcionista
que precisava "de dois minutinhos com o presidente mundial, Howard Schultz". Pedido
negado, Maria Luisa pegou o
estudo, deu meia-volta e, enquanto aguardava o elevador,
adivinha quem pára no andar
em que ela estava?
"Era o Schultz, ali, na minha
frente. Entreguei o trabalho,
entrei com ele na empresa e então fui conversar com Jinlong
Wang, responsável pela internacionalização da marca e hoje
presidente da empresa na China. Foi inesquecível", diz ela,
que não acredita, entretanto,
em sorte. "Isso é trabalhar com
paixão. O ser humano agüenta
até determinado nível de sacrifício, depois não agüenta mais.
Então precisa ter muita paixão
mesmo", afirma, ao apontar para uma agenda em que na capa
se lê "Start with your heart"
("Comece com seu coração").
Além da dita paixão, a escolha de Maria Luisa para a linha
de frente do projeto teve relação direta com o currículo da
empresária e do marido, Peter
Rodenbeck, o homem responsável hoje pela caça de terrenos
para expansão da rede. Foi o casal que trouxe o McDonald's ao
Brasil nos anos 80 e é sócio da
rede Outback. Não foi só isso:
os rumos da economia brasileira tiveram peso na hora de a
companhia bater o martelo.
A Starbucks considera uma
série de variáveis antes de pôr
dinheiro num país. Desde a limitação de repatriação do capital, passando pela expectativa
de flutuação da moeda até o óbvio risco-país. Relatório de resultados anuais da rede informa que a falta de clareza nas regras para investimentos e o baixo nível de consumo interno
também foram considerados.
Além disso, ainda era preciso
definir o tamanho do investimento no Brasil -assunto de
que Maria Luisa pouco fala. Pelo acordo, 51% do investimento
vem dos investidores brasileiros. Especula-se que R$ 20 milhões serão gastos na expansão
inicial da rede no Brasil.
Cartas e insistência
O trabalho de Maria Luisa foi
baseado, em parte, na insistência. Ela manteve contato com a
empresa nos anos seguintes ao
primeiro encontro, enquanto
coordenava no país a expansão
da rede Outback. Antes disso, já
havia acumulado experiência
na United Airlines e na American Airlines. "Todos os anos,
mandava cartinhas para eles,
relembrando o meu interesse.
Foram anos seguidos escrevendo, até que as conversas ficaram freqüentes", conta.
Em 2002, os primeiros executivos da Starbucks vieram
sondar o mercado no Brasil.
"Senti mesmo que ia dar certo
em janeiro de 2003. Com obstáculos do contrato já resolvidos, vi que ia sair", lembra ela.
O longo processo de negociação
faz parte da política de expansão da rede. "Não há a menor
pressa", diz Alberto Serrentino,
da consultoria GS&MD.
Acordo fechado e loja montada, a executiva mudou-se para
São Paulo no mês passado. Foge para o Rio todos os finais de
semana. Trabalha 12 horas por
dia e diz que nunca levanta "cedo" ("não dá para acordar cedo,
levanto só às 7h da manhã").
"Venho às lojas dia sim, dia
não, coloco o avental, vou para
a fila, converso com os clientes.
Eles falam: "Meu Deus, é igualzinho ao lá de fora". Mas é claro,
né, gente, é um produto."
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