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CRISE NOS MERCADOS
Davos vê turbulência com cautela e dúvidas
Percepção dominante no Fórum Econômico é a de que freada nos EUA será inevitável; discussão é se durará mais de 2 ou 3 bimestres
Participantes do evento, que acabou ontem na Suíça, vêem países como o Brasil mais resistentes, porém não totalmente imunes à crise
MARIA CRISTINA FRIAS
ENVIADA ESPECIAL A DAVOS
Depois de cinco dias, executivos das principais empresas do
mundo se despediram do Fórum Econômico Mundial em
Davos com pessimismo, temor
e muitas dúvidas sobre os efeitos da crise financeira nos EUA.
A percepção predominante é
que os americanos vão viver
uma desaceleração econômica,
cuja intensidade ninguém pode
precisar ainda. Muitos dizem
que a crise vai durar entre dois
e três bimestres. Para outros,
será mais longa. A mesma divisão se vê entre opiniões quanto
aos impactos da crise no resto
do mundo, incluindo o Brasil.
Os debates não poderiam ter
sido mais acalorados do que
nesta semana, que começou
com Bolsas despencando, inesperado corte de juros nos EUA
e um novo pacote do governo
americano. Como se não bastasse, na quinta-feira ainda
apareceu uma fraude bilionária
no banco francês Société Générale para confirmar a tese de
muitos participantes do Fórum
de que é preciso aumentar a vigilância sobre os bancos.
Ontem, no encerramento do
Fórum, alguns palestrantes deram um tom mais ameno à crise. "É preciso manter em mente que, ao longo da história,
sempre tivemos ciclos. As pessoas não deveriam ficar surpresas", disse o presidente-executivo do banco JP Morgan, James Dimon. "Nos últimos dez
ou 20 anos, as economias mundiais tiraram 2 bilhões de pessoas da pobreza. Temos a chance de fazer algo incrível, um ciclo substituirá outro."
O diretor-gerente do indiano
ICICI Bank, K.V. Kamath, disse
que, enquanto uma desaceleração nos EUA teria efeitos globais, o processo de "decoupling" [crescimento autônomo
de outras economias, como as
emergentes] limitaria o prejuízo. "O "decoupling" está só começando. Daqui a 300 anos, ao
olharmos para a época atual, diremos que foi como uma revolução industrial ocorrendo."
"Otimismo moderado"
O fundador e presidente do
Fórum Econômico Mundial,
Klaus Schwab, que conseguiu o
feito de, em plena tempestade
financeira, reunir na estação de
esqui lideranças do mundo todo, voltou a insistir em sua tese
de que a crise também oferece
oportunidades que devem ser
buscadas por governos e setor
privado. Schwab se declarou
"moderadamente otimista"
com as perspectivas para 2008.
Um claro contraste com muitas das declarações ouvidas em
Davos nesta semana.
O presidente-executivo da
Merril Lynch, John Thain, disse anteontem que a situação é
grave e que "demorará para que
se volte a algum tipo de normalidade". Ele disse que o valor
dos imóveis nos EUA já caiu 7%
em 2007 "e vai continuar a se
deteriorar". A opinião geral é
que, enquanto esses preços não
se estabilizarem, os balanços de
bancos não mostrarão todo o
tamanho do problema. Thain
acrescentou que a inadimplência dos consumidores norte-americanos já aumentou 40%.
Dominique Strauss-Khan,
diretor-gerente do FMI (Fundo Monetário Internacional),
pediu aos países que puderem
que gastem mais -num sinal
da gravidade da crise, como observou Lawrence Summers,
professor da Universidade
Harvard e ex-secretário norte-americano do Tesouro.
Strauss-Khan, por outro lado, disse que "o Brasil está indo
muito bem", mas que a crise
pode afetar um pouco o país.
Muitos participantes estrangeiros no Fórum chegaram a
comentar que a ameaça de desaceleração americana poderá
reduzir o preço das commodities, efeito positivo para países
desenvolvidos, não para produtores como o Brasil. Para o diretor-gerente do FMI, poderá haver menos inflação. "A queda
do preço das commodities dará
mais espaço para uma política
monetária mais ativa."
Mesmo o sempre ultrapessimista analista Nouriel Roubini
disse num debate que países
como Brasil podem estar um
pouco mais bem preparados
para enfrentar uma crise, mas
que terão um "ano duro".
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