São Paulo, segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

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CRISE NOS MERCADOS

Davos vê turbulência com cautela e dúvidas

Percepção dominante no Fórum Econômico é a de que freada nos EUA será inevitável; discussão é se durará mais de 2 ou 3 bimestres

Participantes do evento, que acabou ontem na Suíça, vêem países como o Brasil mais resistentes, porém não totalmente imunes à crise

MARIA CRISTINA FRIAS
ENVIADA ESPECIAL A DAVOS

Depois de cinco dias, executivos das principais empresas do mundo se despediram do Fórum Econômico Mundial em Davos com pessimismo, temor e muitas dúvidas sobre os efeitos da crise financeira nos EUA.
A percepção predominante é que os americanos vão viver uma desaceleração econômica, cuja intensidade ninguém pode precisar ainda. Muitos dizem que a crise vai durar entre dois e três bimestres. Para outros, será mais longa. A mesma divisão se vê entre opiniões quanto aos impactos da crise no resto do mundo, incluindo o Brasil.
Os debates não poderiam ter sido mais acalorados do que nesta semana, que começou com Bolsas despencando, inesperado corte de juros nos EUA e um novo pacote do governo americano. Como se não bastasse, na quinta-feira ainda apareceu uma fraude bilionária no banco francês Société Générale para confirmar a tese de muitos participantes do Fórum de que é preciso aumentar a vigilância sobre os bancos.
Ontem, no encerramento do Fórum, alguns palestrantes deram um tom mais ameno à crise. "É preciso manter em mente que, ao longo da história, sempre tivemos ciclos. As pessoas não deveriam ficar surpresas", disse o presidente-executivo do banco JP Morgan, James Dimon. "Nos últimos dez ou 20 anos, as economias mundiais tiraram 2 bilhões de pessoas da pobreza. Temos a chance de fazer algo incrível, um ciclo substituirá outro."
O diretor-gerente do indiano ICICI Bank, K.V. Kamath, disse que, enquanto uma desaceleração nos EUA teria efeitos globais, o processo de "decoupling" [crescimento autônomo de outras economias, como as emergentes] limitaria o prejuízo. "O "decoupling" está só começando. Daqui a 300 anos, ao olharmos para a época atual, diremos que foi como uma revolução industrial ocorrendo."

"Otimismo moderado"
O fundador e presidente do Fórum Econômico Mundial, Klaus Schwab, que conseguiu o feito de, em plena tempestade financeira, reunir na estação de esqui lideranças do mundo todo, voltou a insistir em sua tese de que a crise também oferece oportunidades que devem ser buscadas por governos e setor privado. Schwab se declarou "moderadamente otimista" com as perspectivas para 2008.
Um claro contraste com muitas das declarações ouvidas em Davos nesta semana.
O presidente-executivo da Merril Lynch, John Thain, disse anteontem que a situação é grave e que "demorará para que se volte a algum tipo de normalidade". Ele disse que o valor dos imóveis nos EUA já caiu 7% em 2007 "e vai continuar a se deteriorar". A opinião geral é que, enquanto esses preços não se estabilizarem, os balanços de bancos não mostrarão todo o tamanho do problema. Thain acrescentou que a inadimplência dos consumidores norte-americanos já aumentou 40%.
Dominique Strauss-Khan, diretor-gerente do FMI (Fundo Monetário Internacional), pediu aos países que puderem que gastem mais -num sinal da gravidade da crise, como observou Lawrence Summers, professor da Universidade Harvard e ex-secretário norte-americano do Tesouro.
Strauss-Khan, por outro lado, disse que "o Brasil está indo muito bem", mas que a crise pode afetar um pouco o país.
Muitos participantes estrangeiros no Fórum chegaram a comentar que a ameaça de desaceleração americana poderá reduzir o preço das commodities, efeito positivo para países desenvolvidos, não para produtores como o Brasil. Para o diretor-gerente do FMI, poderá haver menos inflação. "A queda do preço das commodities dará mais espaço para uma política monetária mais ativa."
Mesmo o sempre ultrapessimista analista Nouriel Roubini disse num debate que países como Brasil podem estar um pouco mais bem preparados para enfrentar uma crise, mas que terão um "ano duro".


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