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MERCADO TENSO
Taxa básica do Banco Central sobe de 32,5% ao ano para 34% e saída de divisas atinge US$ 317 mi
Juros sobem, mas a evasão continua
ALEX RIBEIRO
da Sucursal de Brasília
VANESSA ADACHI
da Reportagem Local
O Banco Central aumentou ontem
os juros básicos da economia de
32,5% para 34% anuais, numa tentativa de evitar pressões inflacionárias provocadas pelas novas
desvalorizações do real e conter a
saída de dólares.
O BC também sinalizou um novo
aumento de juros para hoje, puxando a taxa básica para 35,5%
anuais. Essa é a chamada taxa do
over, o mercado de juros de um
dia, que mede qual o custo do dinheiro para empréstimos de um
dia entre os bancos.
Esse pode ser um sinal de que,
daqui para a frente, a taxa terá uma
alta diária de 1,5 ponto percentual,
até atingir o teto da banda de juros,
a Tban (Taxa de Assistência do
BC), fixado em 41% anuais.
Mesmo depois de o governo sinalizar com a tendência de alta dos
juros, entretanto, o dólar continuou subindo e a saída de recursos
do país se manteve elevada.
Até as 20h20, o fluxo cambial estava negativo em US$ 317 milhões
-US$ 183 milhões pelo comercial
e US$ 134 milhões pelo flutuante.
O dólar comercial abriu a R$ 1,91,
acima do fechamento anterior, de
R$ 1,85. Ainda de manhã chegou a
bater em R$ 1,95, recuando em seguida para R$ 1,84.
No fechamento do dia, o dólar ficou novamente em R$ 1,91, com
valorização de 3,24% sobre o dia
anterior.
Em certa medida, a puxada nos
juros esfria um pouco os ânimos
do mercado. Ela correspondeu a
uma expectativa que o mercado
alimentava nos últimos dias. Todos esperavam que o governo seguisse a cartilha do FMI (Fundo
Monetário Internacional) que reza
que, diante do aumento da saída
de dólares, a liquidez da economia
na moeda local cai e, portanto, o
custo do dinheiro -leia-se os juros- tem que subir.
Como desde o dia 20 o BC não
mexia no over, estava havendo
uma quebra de expectativa. Naquela data, a taxa passou de 32%
para 32,5% ao ano.
Mas, na prática, os operadores de
câmbio acreditam que a alta dos
juros sozinha não evitará a fuga de
dólares e a desvalorização do real.
O raciocínio é simples: não adianta
puxar os juros em dois pontos percentuais ao ano se o câmbio continuar oscilando 5% em um dia. O
risco cambial continua não sendo
compensado pelos juros.
Portanto, dois outros fatores pesaram muito mais para que a alta
do dólar fosse contida na manhã
de ontem.
Em primeiro lugar, a informação, dada logo cedo pelo Banco
Central, de que o fluxo do dia anterior era US$ 200 milhões inferior
ao que se pensava.
Em segundo lugar, um movimento conhecido por "arbitragem" no jargão do mercado ajudou a segurar as cotações.
O mecanismo é o seguinte: o preço do dólar no mercado futuro está
mais baixo do que no mercado à
vista, então, torna-se lucrativo para os bancos vender no mercado à
vista para comprar mais barato no
mercado futuro.
O dólar de fevereiro fechou a R$
1,86 na BM&F (Bolsa de Mercadorias e Futuros).
Política monetária
O presidente do BC, Francisco
Lopes, já havia sinalizado anteontem, em sabatina no Senado, a possibilidade de promover pequenas
altas na taxa de juros para evitar
efeitos inflacionários.
O aumento dos juros ocorreu
após mais um dia de forte desvalorização da moeda brasileira, que,
anteontem, havia perdido 6,2% do
seu valor em relação ao dólar, na
média dos negócios calculada pelo
BC.
A desvalorização do câmbio tem
efeitos inflacionários porque torna
mais caros produtos estrangeiros e
insumos importados por empresas brasileiras.
Desde a adoção do regime de flutuação do câmbio, no último dia 15
de janeiro, a prioridade da política
de juros tem sido manter a inflação
sob controle.
Antes, a política de juros tinha o
objetivo de atrair dólares para as
reservas em moeda estrangeira do
BC e, assim, garantir que a cotação
dos dólares ficasse dentro dos limites da antiga banda cambial.
No último dia 18, o Copom (Comitê de Política Monetária) do BC
se reuniu para traçar uma estratégia para combater a inflação.
O Copom aumentou a chamada
banda de juros, o intervalo no qual
os juros definidos no dia-a-dia pelo BC vão ficar. O teto da banda de
juros, a Tban, foi elevado de 36%
anuais para 41% anuais.
O piso, a chamada TBC (Taxa Básica do BC), foi reduzido de 29%
para 25% anuais. Mas, na prática, o
piso deixou de existir, pois o BC
suspendeu o uso da TBC até 3 de
março, para quando está marcada
a próxima reunião do Copom.
Com isso, o BC sinalizou que, se
preciso, a taxa de juros sairia do piso da banda de juros em direção ao
teto. Isso começou a ocorrer no dia
seguinte, 19 de abril, quando o BC
anunciou que tomaria dinheiro
emprestado dos bancos pagando
32% anuais.
Essa intervenção do BC puxou a
chamada taxa Selic, que é a média
dos negócios por um dia com títulos federais, para 32,02% anuais.
No dia 20, o BC elevou os juros de
seus empréstimos para 32,5%, fazendo a taxa Selic subir a 32,98%
anuais. Ontem, o BC anunciou nova alta da taxa de remuneração dos
empréstimos que concede aos
bancos, fixando-a em 34% anuais.
Com isso, a tendência é que a taxa Selic vá para esse patamar. Com
o anúncio de que hoje pagará aos
bancos 35,5% anuais, o BC deverá
provocar nova alta na taxa Selic.
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