São Paulo, Quinta-feira, 28 de Janeiro de 1999
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MERCADO TENSO
Taxa básica do Banco Central sobe de 32,5% ao ano para 34% e saída de divisas atinge US$ 317 mi
Juros sobem, mas a evasão continua

ALEX RIBEIRO
da Sucursal de Brasília

VANESSA ADACHI
da Reportagem Local

O Banco Central aumentou ontem os juros básicos da economia de 32,5% para 34% anuais, numa tentativa de evitar pressões inflacionárias provocadas pelas novas desvalorizações do real e conter a saída de dólares.
O BC também sinalizou um novo aumento de juros para hoje, puxando a taxa básica para 35,5% anuais. Essa é a chamada taxa do over, o mercado de juros de um dia, que mede qual o custo do dinheiro para empréstimos de um dia entre os bancos.
Esse pode ser um sinal de que, daqui para a frente, a taxa terá uma alta diária de 1,5 ponto percentual, até atingir o teto da banda de juros, a Tban (Taxa de Assistência do BC), fixado em 41% anuais.
Mesmo depois de o governo sinalizar com a tendência de alta dos juros, entretanto, o dólar continuou subindo e a saída de recursos do país se manteve elevada.
Até as 20h20, o fluxo cambial estava negativo em US$ 317 milhões -US$ 183 milhões pelo comercial e US$ 134 milhões pelo flutuante.
O dólar comercial abriu a R$ 1,91, acima do fechamento anterior, de R$ 1,85. Ainda de manhã chegou a bater em R$ 1,95, recuando em seguida para R$ 1,84.
No fechamento do dia, o dólar ficou novamente em R$ 1,91, com valorização de 3,24% sobre o dia anterior.
Em certa medida, a puxada nos juros esfria um pouco os ânimos do mercado. Ela correspondeu a uma expectativa que o mercado alimentava nos últimos dias. Todos esperavam que o governo seguisse a cartilha do FMI (Fundo Monetário Internacional) que reza que, diante do aumento da saída de dólares, a liquidez da economia na moeda local cai e, portanto, o custo do dinheiro -leia-se os juros- tem que subir.
Como desde o dia 20 o BC não mexia no over, estava havendo uma quebra de expectativa. Naquela data, a taxa passou de 32% para 32,5% ao ano.
Mas, na prática, os operadores de câmbio acreditam que a alta dos juros sozinha não evitará a fuga de dólares e a desvalorização do real. O raciocínio é simples: não adianta puxar os juros em dois pontos percentuais ao ano se o câmbio continuar oscilando 5% em um dia. O risco cambial continua não sendo compensado pelos juros.
Portanto, dois outros fatores pesaram muito mais para que a alta do dólar fosse contida na manhã de ontem.
Em primeiro lugar, a informação, dada logo cedo pelo Banco Central, de que o fluxo do dia anterior era US$ 200 milhões inferior ao que se pensava.
Em segundo lugar, um movimento conhecido por "arbitragem" no jargão do mercado ajudou a segurar as cotações.
O mecanismo é o seguinte: o preço do dólar no mercado futuro está mais baixo do que no mercado à vista, então, torna-se lucrativo para os bancos vender no mercado à vista para comprar mais barato no mercado futuro.
O dólar de fevereiro fechou a R$ 1,86 na BM&F (Bolsa de Mercadorias e Futuros).

Política monetária
O presidente do BC, Francisco Lopes, já havia sinalizado anteontem, em sabatina no Senado, a possibilidade de promover pequenas altas na taxa de juros para evitar efeitos inflacionários.
O aumento dos juros ocorreu após mais um dia de forte desvalorização da moeda brasileira, que, anteontem, havia perdido 6,2% do seu valor em relação ao dólar, na média dos negócios calculada pelo BC.
A desvalorização do câmbio tem efeitos inflacionários porque torna mais caros produtos estrangeiros e insumos importados por empresas brasileiras.
Desde a adoção do regime de flutuação do câmbio, no último dia 15 de janeiro, a prioridade da política de juros tem sido manter a inflação sob controle.
Antes, a política de juros tinha o objetivo de atrair dólares para as reservas em moeda estrangeira do BC e, assim, garantir que a cotação dos dólares ficasse dentro dos limites da antiga banda cambial.
No último dia 18, o Copom (Comitê de Política Monetária) do BC se reuniu para traçar uma estratégia para combater a inflação.
O Copom aumentou a chamada banda de juros, o intervalo no qual os juros definidos no dia-a-dia pelo BC vão ficar. O teto da banda de juros, a Tban, foi elevado de 36% anuais para 41% anuais.
O piso, a chamada TBC (Taxa Básica do BC), foi reduzido de 29% para 25% anuais. Mas, na prática, o piso deixou de existir, pois o BC suspendeu o uso da TBC até 3 de março, para quando está marcada a próxima reunião do Copom.
Com isso, o BC sinalizou que, se preciso, a taxa de juros sairia do piso da banda de juros em direção ao teto. Isso começou a ocorrer no dia seguinte, 19 de abril, quando o BC anunciou que tomaria dinheiro emprestado dos bancos pagando 32% anuais.
Essa intervenção do BC puxou a chamada taxa Selic, que é a média dos negócios por um dia com títulos federais, para 32,02% anuais.
No dia 20, o BC elevou os juros de seus empréstimos para 32,5%, fazendo a taxa Selic subir a 32,98% anuais. Ontem, o BC anunciou nova alta da taxa de remuneração dos empréstimos que concede aos bancos, fixando-a em 34% anuais.
Com isso, a tendência é que a taxa Selic vá para esse patamar. Com o anúncio de que hoje pagará aos bancos 35,5% anuais, o BC deverá provocar nova alta na taxa Selic.


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