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São Paulo, sexta-feira, 28 de fevereiro de 2003

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Com dólar caro, juro alto, desemprego e inflação, analistas prevêem crescimento de no máximo 2,5% neste ano

Economia deve continuar travada em 2003

FÁTIMA FERNANDES
CLAUDIA ROLLI

DA REPORTAGEM LOCAL

As projeções de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) para este ano vão de 1% a 2,5%, no máximo, segundo economistas de bancos, consultorias e federações consultados pela Folha.
Os mais pessimistas, que prevêem expansão da economia de cerca de 1%, consideram que o país ainda vai sofrer neste ano os efeitos do dólar caro e da inflação, dos juros e do desemprego elevados. Os mais otimistas, que estimam crescimento do país de até 2,5%, acreditam que as exportações puxarão a economia.
"As empresas não têm capacidade de investimento porque estão endividadas e também têm de enfrentar o consumo retraído. Isso vai conter o crescimento do país", afirma Fábio Silveira, economista da MB Associados.
Para Fernando Sarti, professor do Instituto de Economia da Unicamp, o desempenho do Brasil neste ano será parecido com o de 2002 -crescerá cerca de 1,5%. Esse "pequeno" crescimento, diz, será puxado pelas exportações.
"Se o dólar ficar em R$ 3,50, o país vai exportar mais e gerar superávit bem razoável. Isso terá reflexo positivo para o país, com a expansão de alguns setores."
O país não pode, porém, se conformar com um crescimento dessa ordem, afirma Sarti. Se o Brasil crescesse 4% ao ano nos próximos 16 anos -considerando que o governo petista fique no poder todos esses anos-, ainda assim o país teria um PIB per capita inferior ao da Argentina e ao da África do Sul, calcula o professor.
Os economistas consultados pela Folha vêem 2003 como um ano de fraco crescimento para o país, especialmente porque o consumo, os investimentos e os gastos públicos estão em ritmo lento.
Para Sérgio Mendonça, coordenador técnico do Dieese, o desemprego elevado também emperra a recuperação da economia. "Sem emprego, os sindicatos têm dificuldade para negociar ganhos salariais. Há cinco anos os trabalhadores enfrentam queda na renda. Isso funciona como uma âncora que segura a economia."
Roberto Troster, economista-chefe da Febraban, federação que reúne os bancos, é um dos mais otimistas. Ele considera que o país tem condições de crescer 2,5% neste ano e já haveria uma reativação econômica a partir de maio por causa das exportações e da demanda reprimida.
"O país ficou praticamente paralisado nos últimos anos por conta da crise de energia, da retração da economia dos Estados Unidos e da crise na Argentina. Mas acredito que o país deve começar a reagir a partir de maio."
Pesquisa da Febraban feita na segunda semana deste mês com 63 bancos mostra uma projeção média de crescimento do PIB de 2,06% para este ano.
Andrei Spacov, economista do Unibanco, reviu de 2% para 1,5% o crescimento do PIB para este ano depois do recente aperto na política monetária, que elevou a taxa de juros e aumentou o compulsório dos bancos.
Para o professor Carlos da Costa, do Ibmec, o país não cresce se não investir mais na produção. "Em 2002, só 18,3% do PIB foi investido no setor produtivo. Esse percentual teria de chegar a pelo menos 25% para que o país possa crescer cerca de 3% ao ano". Na sua análise, o país deve repetir o desempenho de 2002.
"Mas podemos ter crescimento de 1% se o Banco Central não fizer os apertos fiscais necessários para segurar a inflação. Para que ela não passe de 10%, o BC teria de elevar a taxa de juros em pelo menos cinco pontos percentuais."
Roberto Padovani, da consultoria Tendências, prevê que a economia vá crescer 2,1% neste ano impulsionada pelas exportações, principalmente as agrícolas.
"Se o governo cumprir suas metas fiscais, o país vai atrair mais investidores, o câmbio melhorará, as projeções de inflação serão refeitas e os juros poderão cair."


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