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São Paulo, sexta-feira, 28 de fevereiro de 2003

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Brasil vai na toada do desaquecimento global

ÉRICA FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL

O pífio desempenho da economia brasileira-que cresceu 1,52%- no ano passado não destoa muito dos resultados alcançados por outros países, desenvolvidos e emergentes, mundo afora. A exceção fica por conta de alguns asiáticos que continuam exibindo altas taxas de expansão.
Para a economia global, 2002 foi um ano de contração de investimentos. Cautela foi a palavra-chave depois da onda de escândalos corporativos que estouraram nos Estados Unidos e na Europa e levaram muitos investidores a descobrir de forma amarga que seu dinheiro não estava em aplicação tão segura quanto imaginavam.
Menos investimento significa menos produção, mais desemprego, menor consumo, menos geração de riqueza para a economia e, em última instância, crescimento mais modesto.
Com isso, a Alemanha cresceu módicos 0,2% em 2002. Já o PIB (Produto Interno Bruto) norte-americano deve ter registrado expansão de 2,4% e o da União Européia de 0,9% no ano passado, segundo estimativas da consultoria dos EUA GlobalInsight.
A América Latina sofreu duplamente: foi afetada pela crise global e por colapsos de economias locais, como a argentina e a uruguaia.
Estimativa do Institute of International Finance (IIF) aponta para uma retração de 1,5% do PIB latino-americano em 2002. É a primeira vez que a economia da região sofre uma contração desde 1983, ano que sucedeu ao estouro da crise da dívida externa.
Essa queda estimada em 1,5% é influenciada principalmente pela economia argentina, que havia encolhido 10% até o terceiro trimestre de 2002. No caso do Brasil, a crise externa foi acentuada por problemas domésticos, como as incertezas eleitorais.
O balanço disso para a América Latina foi um brutal recuo do fluxo de investimentos externos. A Ásia, por outro lado, esteve na direção contrária. Enquanto o fluxo de capitais privados para a América Latina encolheu 46% em 2002, os países asiáticos atraíram volume de investimento 19% maior. Os dados são do IIF.
O grande atrativo dos países asiáticos para investidores externos é a percepção de têm fundamentos econômicos mais sólidos que os da América Latina.
Não por acaso, o crescimento estimado (os dados oficiais ainda não foram divulgados) para os países emergentes asiáticos em 2002 é bastante alto.
A Coréia do Sul, por exemplo, havia crescido 5,8% até o terceiro trimestre de 2002 em comparação ao mesmo período em 2001. O PIB da Tailândia tinha crescido 6% até setembro do ano passado em comparação com período equivalente em 2001, segundo dados da consultoria GlobalInvest. Essa disparidade entre os crescimentos dos países emergentes da América Latina e da Ásia em 2002, no entanto, não é recente. Entre 1994 e 2001, a média de crescimento de países como Coréia do Sul e Indonésia foi de, respectivamente, 5,7% e 5,3%, bastante superior aos 2,49% registrados pelo Brasil no mesmo período.
Embora tenham sofrido também com uma crise financeira, em 1997, à semelhança da ocorrida no Brasil, em 1999, a capacidade de reação asiática foi maior.
"As economias asiáticas são mais dinâmicas, têm um forte modelo exportador que acaba levando a uma alta taxa de investimento na economia doméstica", afirma o economista Luiz Gonzaga Belluzzo, da Unicamp.


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