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São Paulo, sexta-feira, 28 de fevereiro de 2003

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LUÍS NASSIF

O Itamaraty e os riscos inúteis

A política externa é vista até agora como a parte mais forte do governo Lula, mas os últimos atos do ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, provocaram alguma apreensão em observadores mais simpáticos à gestão anterior do ministério.
Há um problema de fundo na atuação do ministério. O governo Lula definiu-se como ortodoxo no capítulo econômico e tem procurado compensar com certa pirotecnia na área externa. De certo modo se repete o início do governo Jânio Quadros, ortodoxo na economia, com Clemente Mariani, buscando na política externa o caminho para lidar com a opinião pública mais à esquerda.
Os primeiros movimentos internacionais foram brilhantes, devido à intuição de Lula e à sua capacidade de poder frequentar, simultaneamente, Davos e Porto Alegre.
As críticas dizem respeito aos atos seguintes. Há críticas de forma e de fundo.
De forma, na tentativa de Amorim e do assessor especial de política internacional de Lula, Marco Aurélio Garcia, de reinventar a roda. Em mensagem ao Congresso, Amorim salientou que a nova linha da diplomacia brasileira seria a de conferir maior importância ao Mercosul e à América do Sul. Pois esse foi o foco da política internacional do governo Fernando Henrique Cardoso. A própria proposta de ampliar o Mercosul para o Pacto Andino é expressão dessa linha.
O Tratado de Cooperação Amazônica foi outro ponto relevante, além de o Brasil ter sido chave na promoção da paz entre Peru e Equador.
Outro prioridade apresentada por Amorim é aumentar a relação com a Índia e a China, os chamados países-baleias. Essa foi outra prioridade do governo FHC, com resultados econômicos, políticos, culturais e científicos expressivos.
Além disso, há queixas sobre o discurso de posse de Amorim, que nem sequer mencionou o ex-presidente, apesar de dever a ele seus postos em Nova York, Genebra e Londres.
Obviamente tais análises refletem mais mágoas do que críticas substantivas. Mesmo para esses observadores, Celso Amorim é um dos grandes diplomatas da sua geração. As críticas objetivas dizem respeito a medidas concretas.
A política interna dá mais espaço de manobra para erros e acertos, avaliam esses analistas. Já a política externa se faz pela palavra e pelo gesto, lida com credibilidade internacional. Por isso mesmo, princípio básico de política internacional é a minimização dos riscos. Os conflitos devem se circunscrever ao que é inequivocamente interesse nacional. Já existe uma agenda conflitiva relevante nas negociações da Alca, e o governo Bush Jr. já demonstrou não ser o mais sereno do mundo.
Na opinião desses analistas, as nomeações de Samuel Pinheiro Guimarães para a Secretaria Geral do Itamaraty e do diplomata José Maria Bustami para embaixador na Inglaterra -ambos com uma agenda de conflitos com os EUA- caracterizam uma dispersão de energias. São gestos que têm repercussão interna, mas não ajudam na estratégia externa.
Além disso, Amorim terá de conviver com o assessor especial Marco Aurélio Garcia. Tradicionalmente o assessor faz o meio-campo entre o presidente e o Itamaraty. Marco Aurélio demonstrou que pretende ir além disso.

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