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RECALL DA PRIVATIZAÇÃO
Ministro afirma que obrigará operadoras a compartilhar suas redes locais com concorrentes
Miro diz que há monopólio na telefonia
LÁSZLÓ VARGA
DA REPORTAGEM LOCAL
A queda-de-braço entre o governo e as operadoras de telefonia, quanto à necessidade de mudanças no modelo de telecomunicações, se acirrou ontem. O ministro das Comunicações, Miro
Teixeira, afirmou que o Brasil vive
hoje uma situação de monopólio
privado no setor de telefonia fixa,
com operadoras dominando
grandes regiões do país.
"Vivemos um monopólio herdado de modelos dos governos
passados. E monopólio é proibido
por lei", disse Miro. O presidente
do grupo Telefônica, Fernando
Xavier Ferreira, que participava
de um evento ao lado de Miro,
tentou minimizar a acusação.
Disse que a Vésper é concorrente
da empresa em São Paulo.
Miro sorriu e não aceitou o argumento. "A Vésper é um caso a
ser discutido. Vivemos, sim, um
monopólio. Vamos trabalhar
contra isso."
Existem atualmente três grandes operadoras de telefonia fixa
no Brasil: a Telefônica (do grupo
espanhol Telefónica), a Brasil Telecom (que tem entre seus sócios
o banco Opportunity e fundos de
pensão) e a Telemar (também
Opportunity e fundos de pensão).
Em princípio, essas empresas
deveriam concorrer com suas
"espelhos", como a Vésper (controlada pela americana Qualcomm), e com operadoras de longa distância que ganharam o direito de explorar telefonia local,
como a Embratel (WorldCom).
Segundo Miro, a concorrência
não existe na prática devido a problemas como a falta de compartilhamento de redes locais. A Embratel, por exemplo, teve dificuldades para iniciar as operações de
telefonia fixa local em São Paulo,
porque demorou a se entender
com a Telefônica sobre o uso de
sua rede de cabos.
"Vamos desagregar as redes.
Essa é uma das chaves para a
competitividade", disse Miro. O
presidente da Anatel (Agência
Nacional de Telecomunicações),
Luiz Schymura, cuja entidade fiscaliza o setor há cinco anos, concorda com as denúncias de Miro.
"Fico feliz pelo fato de ministro
dizer que há monopólio."
Tarifas justas
Ferreira, que presidiu o sistema
Telebrás no governo Fernando
Henrique Cardoso, disse ser a favor da desagregação das redes,
mas entende que as tarifas pelo
seu uso devem ser justas.
"A Telefônica tem obrigação de
atender várias localidades, sejam
lucrativas ou não. Investimos
muito na construção e na manutenção de redes", afirmou o executivo.
Para ele, empresas que tentam
concorrer com a Telefônica procuram apenas regiões que dêem
lucro, pois não têm obrigação de
operar em todo o Estado de São
Paulo. "Temos de arcar com o osso e o filé mignon, enquanto concorrentes querem apenas o filé
mignon."
O ministro quer também que a
Anatel libere novas frequências
de telefonia celular, a fim de aumentar a competitividade. A
Anatel disse que estuda o assunto.
Miro voltou a afirmar que não
aceitará um reajuste entre 30% e
34% nos preços das operadoras
de telefonia fixa em julho, como
os analistas estão prevendo que as
empresas terão direito. O reajuste
é baseado na variação do IGP-DI,
previsto nos contratos com as
operadoras.
"Desejo ter reuniões com a Telefônica e as outras operadoras nas
próximas semanas. Não estou falando em rompimento de contratos, mas em negociações em ambiente civilizado, onde o bom senso deve existir."
Miro chegou a citar uma frase
do presidente Tancredo Neves,
morto em 1985, para quem a dívida externa "não seria paga com o
sangue dos brasileiros."
O ministro defendeu, por outro
lado, a redução do ICMS incidente sobre a telefonia, o que poderia
expandir o setor. Em São Paulo, a
alíquota é de 25%.
Ferreira disse que está aberto a
negociações sobre o reajuste de
julho. "Isso não significa que abdicaremos dos princípios básicos
do equilíbrio econômico."
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