São Paulo, quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007

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TURBULÊNCIA GLOBAL / RISCOS

EUA e China são motivos de preocupação para mercado

Greenspan não descarta recessão; para Pequim, superaquecimento é temor chinês

Pedidos de bens duráveis caíram 7,8% em janeiro, sugerindo relutância das empresas americanas em investir em equipamentos


Associated Press
Investidor em frente a painel eletrônico de Bolsa de Xangai


DA REDAÇÃO

Por motivos distintos, o mercado está preocupado com dois dos principais motores da economia mundial, Estados Unidos e China. Neste, o temor é de superaquecimento da economia. Naquele, o medo é de recessão ainda no final deste ano.
O índice Dow Jones, da Bolsa de Nova York, caiu 3,29% ontem, a maior queda desde 17 de setembro de 2001 (7,13%) -primeiro dia de funcionamento do pregão depois dos ataques de 11 de setembro.
Nos EUA, o presidente do Fed (Federal Reserve, o BC local), Ben Bernanke, reitera sempre que possível que o país caminha para o "pouso suave". Ou seja, um cenário em que a economia se desacelera gradualmente, sem entrar em recessão e com queda na inflação.
Há duas semanas, Bernanke disse ao Congresso que a economia do país deverá crescer moderadamente neste ano e a inflação tende a cair. Em 2006, o PIB dos Estados Unidos se expandiu em 3,4%, puxada pela recuperação nos últimos três meses do ano, depois de crescer 2% no terceiro trimestre.
No entanto, as previsões do presidente do Fed, pelo menos até agora, funcionaram ao contrário. A inflação de janeiro subiu mais que o esperado, e a cotação do barril de petróleo voltou a crescer. Gasolina mais cara significa menos dinheiro no bolso dos americanos e, portanto, do restante da economia, emperrando o crescimento.
O antecessor de Bernanke, Alan Greenspan, disse que é possível que os EUA entrem em recessão ainda neste ano. Para ele, já há sinais de que o atual ciclo econômico está chegando ao fim. "Quando nos distanciamos tanto de uma recessão, invariavelmente algumas forças começam a se acumular para a próxima recessão, e, de fato, estamos começando a ver sinais."
E parte dos números divulgados ontem também não são otimistas. Os pedidos por bens duráveis às fábricas caíram 7,8% em janeiro, a maior retração desde outubro do ano passado. Os dados sugerem que continua a relutância das empresas em investir em novos equipamentos.
"Esse não representa mesmo um grande início para este trimestre", disse à Bloomberg Christopher Low, economista-chefe da FTN Financial. "Embora as empresas estejam atulhadas de dinheiro, elas não vão gastar se não acreditarem que isso vai se traduzir em vendas."
A venda de imóveis residenciais usados, um dos setores mais frágeis, se expandiu em 3,3% em janeiro, o maior crescimento em dois anos. Mas o preço delas caiu 3,1% em relação a janeiro de 2006.
Na China, a grande preocupação é o superaquecimento, com o preço dos imóveis em expansão e o temor do aumento de pressões inflacionárias.
Nem o governo de Pequim consegue conter a expansão. Ele prometeu no ano passado que a economia cresceria menos de 10%, mas o resultado acabou sendo o melhor em dez anos: 10,7%. Para este ano, o Banco Mundial prevê 9,6%.
Para evitar o superaquecimento, o BC chinês determinou no dia 16 uma nova elevação do depósito compulsório (montante de dinheiro que os bancos devem deixar imobilizado no banco central) para 10% dos depósitos dos bancos -segunda elevação neste ano.
No ano passado, o órgão elevou sua taxa de juros duas vezes, em abril e em agosto a fim de "conter a demanda por empréstimos de longo prazo e a expansão muito rápida de investimentos em ativos fixos".


Colaborou a Folha Online

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