São Paulo, quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007

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ANÁLISE

Freada externa é teste para o país

DA REPORTAGEM LOCAL

A TURBULÊNCIA de ontem foi um dos primeiros grandes testes para os fundamentos da economia brasileira. O Brasil acumulou reservas internacionais, reduziu juros, fez economia para pagar juros e reduzir a relação entre dívida pública e o tamanho da economia. Todas medidas que devem ajudar o país a crescer e torná-lo menos vulnerável a crises externas.
Ontem, investidores em todo o mundo fugiram dos ativos de risco. Venderam, por exemplo, ações em todo o mundo e títulos de países emergentes, o que fez o risco-país do Brasil subir cerca de 10% ontem.
Roberto Padovani, do WestLB, arrisca e afirma que 2007 será um ano de muita volatilidade nos mercados financeiros. Um ano de vários testes para a economia brasileira.
As turbulências nas finanças mundiais sempre despertam o debate sobre os riscos de contágio. Analistas se perguntam quanto um ajuste forte no preço de ações chinesas, por exemplo, pode prejudicar o Brasil. Ou qual tipo de efeito um aumento do temor ao redor do mundo de investir em papéis arriscados terá para a economia brasileira.
É verdade que a economia brasileira hoje é menos vulnerável, que ela conseguiu acumular reservas -que já beiram US$ 100 bilhões. Que a dívida externa recuou a níveis sem precedentes e que não há desconfiança sobre a solvência da dívida interna.
O aumento nas reservas, vitaminado pela persistência dos saldos comerciais, torna a vida por aqui mais tranqüila. Diminui a volatilidade, "amplia o horizonte de previsão dos investidores", diz Nuno Câmara, do WestLB.
Mas é também verdade que, desde que todo o ajuste externo ocorreu e desde que os indicadores de vulnerabilidade se tornaram tão bons, não houve uma grande crise internacional para "testar" o quanto o seguro construído nos últimos anos isolará o Brasil de uma turbulência generalizada.
O contágio hoje não ocorre mais como no passado. Há não mais que uma década, qualquer turbulência em um país emergente fazia com que investidores fugissem de todos os países. Hoje, lembra Câmara, há "uma distinção muito maior entre os emergentes".
Uma melhor percepção da realidade econômica de cada país não elimina, claro, o contágio. A necessidade, por exemplo, de cobrir perdas em um mercado pode exigir que investidores vendam ativos de outro. Só esse tipo de movimentação já é suficiente para causar grandes oscilações em papéis como os títulos da dívida pública brasileira ou os papéis das empresas locais.
A percepção geral é que o Brasil está mais preparado para enfrentar tempos difíceis no mercado financeiro mundial. As turbulências de 2007 -que Roberto Padovani afirma esperar serem mais freqüentes- devem ser a prova de fogo para os novos indicadores de vulnerabilidade do Brasil.
(MARCELO BILLI)


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