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TURBULÊNCIA GLOBAL / VULNERABILIDADE
BC compra dólar, e reservas vão a US$ 100 bi
Mesmo com sobressaltos no mercado e pressão de alta no câmbio, banco mantém política de adquirir moeda-americana
Montante atinge maior patamar da história do país; analistas já questionam
o custo financeiro de manter reservas mais altas
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Mesmo com a turbulência
nos mercados mundiais, por
conta da expectativa de anúncio de medidas para conter o
crescimento econômico da
China, o Banco Central continuou ontem a comprar dólares
para reforçar suas reservas em
moeda estrangeira. Hoje, o BC
deve anunciar que essas reservas já ultrapassam US$ 100 bilhões, maior valor já registrado.
Desde 2004, quando tiveram
início as compras de dólares
pelo Banco Central, cerca de
US$ 70 bilhões já foram adquiridos no mercado -considerando US$ 6,9 bilhões comprados, neste mês, até quinta-feira.
Com as intervenções, as reservas em moeda estrangeira
estavam, anteontem, em US$
99,716 bilhões. O saldo de ontem deve ser conhecido hoje.
Ontem o dólar fechou em alta
de 1,7% e foi a R$ 2,12.
Com as reservas em US$ 100
bilhões, o país teria mais condições de resistir a turbulências
externas. Mas analistas já começam a discutir se vale a pena
manter tanto dinheiro nesse tipo de aplicação. Isso porque os
recursos das reservas estão colocados, basicamente, em títulos emitidos por países desenvolvidos, como os EUA.
O problema é que, para conseguir reais para financiar as
compras de dólares, o BC precisa vender títulos públicos no
mercado. Esses papéis são corrigidos pela taxa Selic -atualmente em 13% ao ano-, enquanto os títulos de países desenvolvidos pagam juros de
cerca de 5% ao ano.
Por isso as críticas de que o
custo de se manter reservas
muito grandes é excessivamente elevado. Mas, para o economista Antônio Corrêa de Lacerda, professor da PUC-SP, isso não significa que o BC deva
parar de comprar dólares no
mercado. "O que tem que cair
não são as reservas, são os juros. A gente tem uma taxa doméstica absurdamente elevada", afirma.
Lacerda diz ainda que, na
comparação com outros países
emergentes, as reservas brasileiras ainda não são tão elevadas. Na Rússia, as reservas
equivalem a 30% do PIB (Produto Interno Bruto) local, e na
Coréia do Sul, a 27%. No Brasil,
essa proporção está em 10%.
O economista Bráulio Borges, da LCA Consultores, ressalta, por sua vez, que se pode
argumentar que as reservas
desses outros emergentes também podem estar excessivamente altas, o que prejudicaria
comparações com o caso brasileiro.
Ainda assim, Borges também
defende que uma queda da taxa
de juros seria benéfica, por reduzir o custo de manutenção
das reservas e ajudar a conter a
queda do dólar. "Para conter a
valorização do câmbio, o caminho mais inteligente seria acelerar o crescimento da demanda doméstica, o que abriria espaço para um aumento das importações."
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