São Paulo, quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007

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TURBULÊNCIA GLOBAL / VULNERABILIDADE

BC compra dólar, e reservas vão a US$ 100 bi

Mesmo com sobressaltos no mercado e pressão de alta no câmbio, banco mantém política de adquirir moeda-americana

Montante atinge maior patamar da história do país; analistas já questionam o custo financeiro de manter reservas mais altas


DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Mesmo com a turbulência nos mercados mundiais, por conta da expectativa de anúncio de medidas para conter o crescimento econômico da China, o Banco Central continuou ontem a comprar dólares para reforçar suas reservas em moeda estrangeira. Hoje, o BC deve anunciar que essas reservas já ultrapassam US$ 100 bilhões, maior valor já registrado.
Desde 2004, quando tiveram início as compras de dólares pelo Banco Central, cerca de US$ 70 bilhões já foram adquiridos no mercado -considerando US$ 6,9 bilhões comprados, neste mês, até quinta-feira.
Com as intervenções, as reservas em moeda estrangeira estavam, anteontem, em US$ 99,716 bilhões. O saldo de ontem deve ser conhecido hoje. Ontem o dólar fechou em alta de 1,7% e foi a R$ 2,12.
Com as reservas em US$ 100 bilhões, o país teria mais condições de resistir a turbulências externas. Mas analistas já começam a discutir se vale a pena manter tanto dinheiro nesse tipo de aplicação. Isso porque os recursos das reservas estão colocados, basicamente, em títulos emitidos por países desenvolvidos, como os EUA.
O problema é que, para conseguir reais para financiar as compras de dólares, o BC precisa vender títulos públicos no mercado. Esses papéis são corrigidos pela taxa Selic -atualmente em 13% ao ano-, enquanto os títulos de países desenvolvidos pagam juros de cerca de 5% ao ano.
Por isso as críticas de que o custo de se manter reservas muito grandes é excessivamente elevado. Mas, para o economista Antônio Corrêa de Lacerda, professor da PUC-SP, isso não significa que o BC deva parar de comprar dólares no mercado. "O que tem que cair não são as reservas, são os juros. A gente tem uma taxa doméstica absurdamente elevada", afirma.
Lacerda diz ainda que, na comparação com outros países emergentes, as reservas brasileiras ainda não são tão elevadas. Na Rússia, as reservas equivalem a 30% do PIB (Produto Interno Bruto) local, e na Coréia do Sul, a 27%. No Brasil, essa proporção está em 10%.
O economista Bráulio Borges, da LCA Consultores, ressalta, por sua vez, que se pode argumentar que as reservas desses outros emergentes também podem estar excessivamente altas, o que prejudicaria comparações com o caso brasileiro.
Ainda assim, Borges também defende que uma queda da taxa de juros seria benéfica, por reduzir o custo de manutenção das reservas e ajudar a conter a queda do dólar. "Para conter a valorização do câmbio, o caminho mais inteligente seria acelerar o crescimento da demanda doméstica, o que abriria espaço para um aumento das importações."


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